Tem cerca de uma década de experiência enquanto advogada. Que mudanças sentiu na sua área de atividade ao longo deste tempo? Algumas se devem ao facto de as mulheres serem atualmente mais do que os homens, no que toca a exercer Advocacia?
Atualmente existe uma maior competitividade, o que não tem necessariamente de ser mau. Na minha opinião é bom e estimulante, leva-nos a querer fazer melhor e a sermos diferentes, fugindo do dito “normal”. O que me move é estar sempre disponível para ouvir os meus clientes e depois conseguir dar o meu contributo e ajuda profissional. A maioria dos clientes necessita de alguém com quem comunicar o seu problema e que perceba a
importância do mesmo, conseguindo auxiliar ao longo do processo. Noto cada vez mais mulheres a exercer a profissão, o que se traduz num maior destaque para o papel da mulher na Advocacia – é um sentimento que me
preenche e que me faz acreditar, cada vez mais, que estamos no caminho certo para a mudança.
Trabalha numa empresa que permite uma larga gama de áreas de prática, na Advocacia. Quais aquelas em que mais assenta o seu trabalho? Acredita que tal amplitude de trabalho lhe permite ter uma experiência diferente do que a maioria dos seus colegas advogados?
Trabalhar numa empresa deste tipo permite, acima de tudo, que o meu pragmatismo venha ao de cima. Estar
em contacto com um ambiente diversificado dentro da Advocacia permite-nos abrir horizontes e explorar o nosso potencial da melhor forma; acredito que esta mesma amplitude e abertura de trabalho fez com que me tornasse uma pessoa mais direta, prática, objetiva e com uma visão mais abrangente, tanto dentro como fora do meu âmbito profissional.
Desde que iniciou a sua atividade na área do Direito, sempre desenvolveu trabalho pro bono. Porquê?
A oportunidade de desenvolver trabalho pro bono surgiu durante o meu percurso académico na Faculdade de
Direito da Universidade de Lisboa. Desde aí que mantive sempre esta vertente no meu contexto profissional –
é uma parte importante e que considero fundamental no meu dia a dia. Acredito que seja, talvez, a parte que mais me preenche enquanto pessoa e advogada. Sempre me fez sentido poder ajudar à minha maneira os que me procuram, seja no acesso ao direito da OA, seja no restante trabalho pro bono que faço, como é o caso de um projeto de voluntariado junto de crianças do ensino básico.
Auxilia também, de forma particular, cidadãos ucranianos, em virtude da guerra que se desenvolve no seu país de origem. De que forma lhes presta auxílio?
O auxílio a cidadãos ucranianos surgiu num desafio proposto pela Ordem dos Advogados, que prontamente aceitei. Fi-lo porque acredito que todos devemos ter a consciência de pensar:” E se fosse cá em Portugal? E se eu
tivesse de sair de minha casa à força e fugir para outro país?”. O meu contributo consiste num apoio de consulta jurídica base e inicial para orientar estes cidadãos, demonstrando-lhes onde se devem dirigir, que papéis são necessários preencher, entre outros.
Que mensagem deixaria àquelas mulheres que estão agora a formar-se em Direito e sonham em ser advogadas? É possível um caminho de equidade entre elas e os seus colegas homens, nomeadamente a nível salarial e de evolução profissional?
Quem vem para esta profissão tem de vir de espírito livre e acima de tudo preparado para as dificuldades, mas cheio de esperança e pronto para dar o seu cunho único e pessoal no seu trabalho. Ninguém é bom naquilo que faz se não for feliz. Até pode ser bom, mas nunca atingirá a excelência. Excelência e sucesso não andam apenas de mãos dadas com estudo, trabalho e boas notas do ponto de vista académico; mas sim com concretização, dedicação imensa, esperança, sonho e gosto pela profissão. É necessário ter prazer pela Advocacia e temos de nos dedicar a 100% às nossas causas. O caminho da equidade ainda não está perfeito, longe disso, mas cabe-nos a nós continuar a dar sempre o nosso melhor para acabar de vez com as desigualdades existentes.
Pessoas assim, são faróis no tempestuoso mundo em que vivemos. Gratidão, Dra Ana Suari Gardete ????
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