Desde que assumiu a liderança da empresa, o que fez questão de alterar na sua gestão, para que a mesma continuasse a percorrer o seu caminho de forma saudável?
A paixão pela área tem passado de geração em geração, do meu avô para o meu pai e do meu pai para mim. Em novembro de 2022, o meu pai foi diagnosticado com um cancro cerebral raro, o que tornou a decisão de abraçar o projeto imediata. No entanto, houve alguns desafios, somados a um luto iminente, que tornaram difícil a assunção da liderança da empresa, cuja gestão era 100% masculina. Quis ser capaz de me colocar no lugar dos meus colaboradores e de manter uma força de trabalho comprometida. Acredito que a alavancagem do negócio passa por ser transparente com a equipa, inspirá-la a dar o seu melhor e criar um ambiente de trabalho que lhe permita atingir os objetivos estabelecidos.
Quais os maiores desafios que, enquanto líder, assume que o setor vive?
A falta de mão de obra especializada é uma realidade e uma preocupação. O estigma associado ao trabalho de costureira é bastante forte na sociedade e, aliado à baixa remuneração, são fatores pouco atrativos para se trabalhar no setor. Embora o setor empregue milhões de pessoas em todo o mundo, é também um dos mais poluentes. É certo que todo o processo produtivo requer cuidados a nível ambiental. Por isso, temas como fast fashion, sustentabilidade e economia circular têm vindo a ser amplamente discutidos para reduzir os resíduos. A pandemia, a inflação e os conflitos internacionais são outros desafios que têm afetado as cadeias de abastecimento e aumentado o custo das matérias-primas.
As mulheres são apenas 27% das líderes do setor têxtil. A que se deve esta tão baixa percentagem?
O papel da mulher sempre esteve associado ao homem, sendo esperado que fosse economicamente e socialmente dependente deste. Estes estereótipos tornaram-se normais na sociedade, sendo, claramente, uma
realidade no nosso setor. Enquanto as mulheres produziam em grandes quantidades, com baixos salários e condições de trabalho ainda piores, os homens ocupavam cargos de direção. Esta baixa percentagem não difere
muito da observada noutros setores. Na minha opinião, trata-se de uma questão cultural e tradicional, não estando relacionado com a falta de qualidade e competência do sexo feminino.
Que dificuldades assume ter encontrado na sua liderança? Como caracteriza a sua evolução profissional, enquanto profissional e líder?
Encontrei dificuldades específicas, começando logo na passagem de pasta, que não foi fácil. Sendo uma empresa familiar, seria expectável, aos olhos da sociedade, que eu viesse a assumir a liderança, mas não tão cedo devido à minha idade. Em cinco meses, recebi parte do testemunho e assumi funções para garantir o futuro das 24 pessoas da P&C. Desmistifiquei crenças e reconheço que ainda tenho muito por onde crescer. Resiliência, empatia, partilha, visão estratégica e comunicação são exemplos de características que tenho vindo a desenvolver e que serão essenciais para o crescimento saudável da empresa.
Enquanto líder, como analisa a evolução da empresa e como se posiciona a mesma no mercado?
Todos juntos temos vindo a lutar por um crescimento sustentado. Somos flexíveis e capazes de reagir às constantes oscilações do mercado, procurando sempre a superação contínua. Projetamos o futuro, alicerçados
numa experiência sólida e num know-how com dezenas de anos. A notoriedade e o reconhecimento da empresa no mercado em que atuamos são visíveis pelo cliente-tipo com quem trabalhamos e pela procura contínua de novos clientes.
Que análise faz ao mercado do têxtil, nacional e internacionalmente? Portugal tem capacidade para crescer neste setor?
Os desafios mencionados anteriormente resultaram num abrandamento do consumo, tanto a nível nacional como internacional. Por outro lado, a procura global por marcas de vestuário sustentáveis e socialmente responsáveis aumentou. Podemos, orgulhosamente, afirmar que Portugal tem capacidade para corresponder a essa procura. A etiqueta Made In Portugal é um sinónimo de qualidade, refletindo a nossa capacidade de inovar e de nos adaptarmos às tendências globais. O futuro também passa pelas certificações, que permitem trabalhar com mais valor acrescentado e diferenciação, evitando assim a deslocalização para mercados com mão de obra mais barata.