Que análise faz da forma como se trata a Saúde Mental em Portugal? E na Europa, vemos outro tipo de políticas?
Atualmente sabemos que a saúde mental é determinada por um leque diverso de fatores, que ultrapassam em larga medida as dimensões exclusivamente centradas na prestação de cuidados. Neste sentido (dado ser a
minha área de atuação), a saúde mental das crianças e adolescentes deve ser considerada como uma área absolutamente crucial e indispensável, não só a nível dos sistemas de saúde, mas igualmente na escola, famílias e locais de lazer e desporto. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 20% das crianças têm algum tipo de doença mental ao longo do seu desenvolvimento (2 em cada 10): depressão ou outros distúrbios
do humor, abuso de substâncias (álcool e/ou outras drogas), comportamentos auto-lesivos e/ou suicídio ou perturbações do comportamento alimentar. O impacto deste grupo de doenças nesta faixa etária é tão significativo que, entre os 15-19 anos, o suicídio é a segunda e terceira principal causa de morte (dependendo do sexo), seguido de violência na comunidade e na família (WHO, 2019a). Em 2021 a UNICEF afirma que o suicídio é a segunda causa de morte dos jovens na Europa, a seguir aos acidentes de viação. No entanto, quase metade dos jovens na UE (49 %) declarou necessidades de cuidados de saúde mental não satisfeitas, contra 23 % da população adulta. Uma vez atingida a maioridade, a evidência científica revela que os adultos que desenvolvem doença mental manifestaram sinais de risco ou mesmo de perturbação mental, no período da infância e/ou adolescência.
A nível europeu, quais os desafios que destaca como sendo os principais enfrentados pela comunidade de países-membros da UE, no que concerne à Saúde Mental?
De acordo com a OMS, a saúde mental deteriorou-se a nível mundial desde a pandemia. Uma sondagem do Eurobarómetro, realizada em junho de 2023, revelou que quase 1 em cada 2 pessoas (46 % da população da UE) tinham tido problemas emocionais ou psicossociais, como manifestações de depressão ou ansiedade. A melhoria da saúde mental é uma necessidade social e económica urgente e emergente para a UE e os seus
Estados-Membros, pelo que, desde 2023, a UE sentiu a necessidade de salientar a importância de abordar a saúde mental e o bem-estar nos diferentes contextos ao longo da vida, passando a ser obrigatória a elaboração de planos de ação ou estratégias com uma abordagem intersetorial da saúde mental, cujos objetivos passavam
por: melhorar a qualidade dos cuidados de saúde mental, tornando-os mais acessíveis às pessoas com problemas de saúde mental; prevenir, detetar precocemente e tratar os comportamentos suicidas; combater a solidão em grupos vulneráveis; promover a saúde mental no local de trabalho e no contexto escolar (escolas); uma abordagem holística para prevenir e tratar perturbações.
Que evolução sentiu, em Portugal, respeitante à Saúde Mental, à importância que lhe é atribuída e à forma como a sociedade e o indivíduo que sofre de alguma doença deste foro lidam com ela?
Em Portugal, as perturbações psiquiátricas têm uma prevalência de entre os 20-25%, colocando o nosso país em segundo lugar entre os países europeus. Viver com problemas de saúde mental em Portugal está ainda associado a um forte estigma e discriminação. O tratamento adequado, seguimento, acompanhamento, reabilitação e o
apoio social a estes pacientes e familiares, é fundamental para que possam ter uma participação plena na sociedade, no mercado de trabalho e na sua vida familiar. O combate ao estigma e à discriminação deve mobilizar toda a sociedade, sendo fundamental construir um ambiente propício para falar abertamente sobre o tema bem como solicitar e priorizar, sem tabus – nas escolas, nos locais de trabalho, na comunicação social, etc.
Quais considera serem as melhores práticas para cuidar da saúde mental? Existem pequenos hábitos que, se feitos com regularidade, podem ter efeitos a longo prazo na saúde?
Existem pequenas ações que podemos adotar para prevenir a doença mental e promover a saúde, tais como: praticar exercício físico; adotar uma alimentação saudável; ter um sono de qualidade e reparador; evitar a exposição excessiva a informação ou ambientes altamente depressivos; aprender a relaxar; desligar-se das redes sociais e ligar-se a pessoas reais e que estão na nossa vida.