O que o levou a apostar, em 2013, na criação de uma empresa têxtil?
A Blur nasceu dedicada a um mercado específico, de estampagem e impressão digital para marcas de gama média/alta, por isso aquilo que nos distingue é o facto de podermos produzir pequenas quantidades de qualquer peça. Inicialmente, adquirimos uma máquina de estampar digital e, à medida que íamos crescendo, fomos comprando mais máquinas de impressão digital peça a peça.
O crescimento da empresa levou a que também alargássemos a oferta de serviços. Passámos a ter impressão digital a rolo, sublimação, bordados, corte localizado e impressão em UV, para imprimir em pele. No entanto, o serviço que mais nos distingue ainda continua a ser a impressão digital peça a peça.
É fácil encontrar mão-de-obra para este segmento do setor têxtil?
Para a impressão digital à peça e a rolo, e mesmo nos sublimados, não é muito difícil encontrar pessoas para trabalhar, até porque os mais novos estão familiarizados com o uso de tecnologia digital, portanto aprendem rapidamente. A nova geração gosta da parte digital do setor têxtil. Para os setores que exigem mais trabalho manual, como a costura e os bordados, já não é tão fácil encontrar pessoas que saibam e queiram fazer este trabalho. A formação nestas áreas é mais demorada, exige tempo e prática para aperfeiçoar os movimentos.
Como se desenrola o processo criativo das peças?
Normalmente, é o cliente que envia todas as especificações pretendidas e nós produzimos de acordo com as suas referências. Trabalhamos com uma gama muito alta, desenvolvida por designers, que sabem o que vão querer, qual vai ser o produto final e enviam todas as designações – o que deve ser estampado, bordado… – para que nada falhe. No entanto, fiz uma parceria com um gabinete de design, para poder propor ao cliente sugestões nossas para aplicar nas peças, mas por enquanto todos os pedidos realizados foram de acordo com as especificações dos clientes.
O investimento em tecnologia é, certamente, elevado. É fundamental estar na vanguarda para proporcionar um trabalho de qualidade?
É, isso é um dos grandes desafios. Na área da impressão digital, a necessidade de trocar de equipamentos é muito grande. A título de exemplo, temos máquinas de bordar com 20 anos que continuam a trabalhar bem, mas no que respeita à tecnologia digital, já tive de trocar uma máquina que tinha sete anos, porque se tornou ultrapassada. A que a veio substituir já era completamente diferente. As máquinas que comprámos recentemente são já muito diferentes da primeira, no que respeita, inclusivamente, à produtividade e aos custos de manutenção. Para terem qualidade no serviço, estas máquinas produzem pouco: cerca de 15 peças por hora. Nós fazemos coleções, normalmente, de cerca de 500 peças, mas também já temos produzido coleções menores.
A manutenção da qualidade obriga a um investimento constante e é através da qualidade que temos fidelizado os nossos clientes.
A vossa capacidade de impressão de pequenas quantidades permite, por exemplo, a impressão de máscaras personalizadas. É um produto que ainda é procurado?
Sim, precisamente por serem personalizadas. Trabalhamos em exclusivo com um cliente de vendas online e é através dele que nos chegam toda s a s encomenda s de má sc ara s personalizadas. Fazemos desde uma máscara ao número que necessitar. São máscaras sociais, certificadas, que suportam até 25 lavagens. São um produto que não dura um mês, caso a utilize todos os dias, e que geralmente obriga à compra de mais do que uma por pessoa. Neste momento, estamos a produzir cerca de mil máscaras por dia, mas o cliente já nos pediu para aumentar a produção para até três mil máscaras diárias.
Como se posicionam no mercado, no que respeita aos clientes?
Quase todos os nossos clientes são internacionais. Este nosso cliente de vendas online com personalização de artigos gera frequentemente múltiplas encomendas de pequenas quantidades. O facto de trabalharmos com impressão digital permite uma boa capacidade de resposta a estes pedidos.
Enquanto empresa, como lidaram com o tempo de confinamento?
O início foi assustador. Poucas pessoas consegui pôr a trabalhar a partir de casa, pois isso é muito difícil, na nossa área. Entretanto, tudo foi voltando à normalidade e agora estamos a trabalhar como sempre, respeitando as medidas de segurança necessárias. No que respeita a encomendas, o mês de maio foi onde se notou uma grande quebra, mas depois recuperou e, atualmente, está quase igual ao ano passado.
Como avalia o ano de 2020, no que respeita ao antes e depois da pandemia?
O ano estava a correr bem. Janeiro, fevereiro e março foram muito bons, mas em abril e maio tivemos um grande decréscimo. Todavia, atualmente já estamos muito perto dos valores do ano passado e até admito que seja possível cumprir os objetivos traçados no início do ano. O final do ano assusta-me um pouco dado que, se as marcas não conseguirem vender as peças que estão agora a produzir, não fará sentido fazerem novas encomendas. No nosso caso, a diversidade de serviços que podemos oferecer faz-nos crer que estamos preparados para responder aos desafios desta crise.
