“A sensibilidade feminina não é vista como força, mas é fundamental para os negócios”

Alexandra Ferreira fundou a Linha Contemporânea há cerca de um ano, num desafio pessoal que resultou da sua vontade de oferecer aos clientes um conceito de design diferenciador. Enquanto empreendedora, assume que sentiu dúvidas antes de iniciar o seu negócio, e admite que a sensibilidade feminina não é, ainda, vista como uma força interior de valor.

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Portugal é, por um lado, o país da Europa onde as mulheres mais mostram vontade de empreender e, por outro, apenas 31% delas concretiza o seu negócio. Porque lhe parece que tal sucede? Como ultrapassar este medo de fracassar?

Acredito que este desfasamento resulta de fatores como o medo de falhar, a pressão social para “ter tudo sob controlo” e a escassez de referências femininas no mundo empresarial. Soma-se a isso a falta de apoios concretos e de uma rede onde as mulheres se sintam seguras para testar ideias, errar e aprender.

Tinha o mesmo receio quando iniciou a sua empresa? O que a levou a superar as dificuldades e avançar?

Quando decidi lançar o meu próprio negócio, também senti receio. Perguntei-me se estaria preparada, se o mercado aceitaria uma abordagem diferente ao design de interiores. Mas havia algo mais forte: a vontade de criar um projeto com propósito, onde o design fosse acessível, claro e emocionalmente relevante para as pessoas. A clareza veio depois de começar.

Durante o seu percurso, sentiu que o mesmo teve mais obstáculos porque estava a ser levado a cabo por uma mulher?

Ao longo do meu percurso, houve momentos em que senti que, por ser mulher, tinha de provar mais. A sensibilidade — muitas vezes associada ao feminino — nem sempre é valorizada como força. Mas acredito que é justamente essa capacidade de escuta, empatia e atenção ao detalhe que pode transformar um negócio e criar ligações mais profundas com os clientes.

Que medidas seriam importantes para assegurar a presença de mais mulheres no mercado de trabalho, enquanto empreendedoras, a seu ver?

Para vermos mais mulheres a empreender, é fundamental criar estruturas reais de apoio: financiamento pensado para negócios liderados por mulheres, programas de mentoria com quem já percorreu o caminho, e uma maior visibilidade de modelos femininos de sucesso, que inspirem sem romantizar o processo.

Como caracteriza atualmente a sua empresa? Que serviços disponibiliza?

Hoje, a Linha Contemporânea é o reflexo daquilo em que acredito: um design de interiores mais próximo, digital, transparente. Através dos nossos serviços online e presenciais, ajudamos pessoas a tomar decisões com confiança, quer estejam a construir casa ou a renovar uma divisão. O nosso Dashboard de Projeto permite ao cliente acompanhar todo o processo, de forma clara, 100% visual e online. Queremos que as pessoas tomem decisões com confiança, sem surpresas.

Que mensagem gostaria de deixar às mulheres que estão agora a iniciar a sua carreira e a ponderar seriamente iniciar um negócio próprio?

A todas as mulheres que estão agora a ponderar começar: avancem, mesmo com medo. Rodeiem-se de pessoas que acreditem no vosso valor, aceitem que o percurso não será linear e lembrem-se de que ninguém constrói um legado sem dar o primeiro passo. Empreender é, acima de tudo, um ato de coragem e visão. E o mundo precisa de mais projetos com alma — como os que nascem do coração de uma mulher.