“A transformação da biomassa em energia cria valor nos territórios”

A biomassa é a principal fonte de energia consumida no planeta. No entanto, e apesar de ser a fonte de energia mais antiga em utilização, ainda não há uma definição consensual para a biomassa. O Centro da Biomassa para a Energia tem como um dos seus objetivos ajudar a esclarecer os conceitos no que diz respeito à utilização da biomassa, mas também de agir como um centro de divulgação do conhecimento sobre esta matéria, incluindo os aspetos tecnológicos conducente à sua valorização, como esclarece o Presidente do Conselho de Administração, João Bernardo.

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“Biomassa é toda a matéria orgânica de origem vegetal ou animal usada com a finalidade de produzir energia”. Este é um conceito já bem conhecido da população e dos empresários, em particular? Qual o papel do Centro da Biomassa para a Energia no que respeita à necessidade de informar e formar os cidadãos para o que é biomassa, a sua utilidade no contexto energético e como pode ser produzida?

A biomassa é o mais antigo combustível usado pelo homem desde que controlou o fogo. Ainda hoje representa cerca de 7% do consumo global de energia do planeta, suplantando todas as outras formas de energia renovável juntas. Mesmo assim, a definição de biomassa está longe de ser consensual. Um dos papéis do Centro da
Biomassa para a Energia (CBE) é precisamente o de esclarecer e divulgar conceitos e definições na área da bioenergia e apoiar os setores da floresta e o da energia na definição das suas políticas e estratégias, públicas e privadas. Existe, a nível europeu, um reconhecimento crescente da necessidade de alinhar as políticas em matéria de bioenergia pelo princípio da utilização em cascata da biomassa. Isto significa que devemos otimizar
a utilização eficiente do recurso dando prioridade, sempre que possível, à utilização da biomassa para fins não energéticos sobre a utilização da biomassa para fins energéticos. O CBE, enquanto centro de transferência tecnológica e de conhecimento, tem uma preocupação permanente de manter equilíbrios entre os vários setores de atividade que utilizam a biomassa, não só através de um trabalho de divulgação e informação, mas também recorrendo à evidência técnica e científica e às melhores práticas no que à biomassa diz respeito.

Como caracteriza o país, no que respeita à utilização que é feita da biomassa para produção de energia?

Portugal continua a ter uma preponderância tradicional na utilização da biomassa, privilegiando ainda soluções de lareira aberta, que têm uma ineficiência na ordem dos 5-10% do poder calorífico contido na lenha. O Inquérito ao
Consumo de Energia no Setor Doméstico, feito em 2020 numa parceria entre a DGEG e o INE, revelou que a biomassa é a segunda principal fonte de energia consumida nos alojamentos portugueses, com um peso de 27,2% no consumo total de energia nas habitações, logo atrás da eletricidade e à frente do gás natural. Mesmo
assim, o consumo industrial e em novas formas de energia, através de centrais térmicas dedicadas ou de cogeração, para produção de eletricidade e “calor” continuam a ter o peso mais significativo no consumo de biomassa. Estas centrais estão geralmente associadas às indústrias da fileira florestal. Já começam a aparecer novos projetos que aproveitam e valorizam a biomassa. A produção de hidrogénio, metanol, gás de síntese, biometano, são apenas alguns exemplos do que já é possível fazer a partir da biomassa.

Falamos de um setor onde a tecnologia está em constante evolução? Como pode o processo de transformação dos resíduos em biomassa ser, ele próprio, sustentável e ecologicamente equilibrado?

Os centros de competências, as universidades, os laboratórios, as áreas de inovação das empresas têm trabalhado arduamente na parte científica e tecnológica, incluindo em novos sistemas e equipamentos e aprofundando os processos de conversão da biomassa. O segredo é a aposta no trabalho em rede como o que o CBE tem vindo a desenvolver nos últimos anos.

Como pode chegar, depois, a energia produzida através da biomassa ao mercado?

São várias as formas da biomassa chegar ao mercado. Desde a produção de combustíveis, dos clássicos como a lenha ou o carvão vegetal aos mais modernos como os pellets e briquetes, passando pela produção de eletricidade e calor (e também de frio), aos gases combustíveis como o hidrogénio e o biometano ou aos combustíveis líquidos como o etanol ou o metanol.

Que impacto tem todo este processo de produção e transformação da biomassa em energia na economia?

Talvez um dos impactos mais importantes seja o da valorização do território ao criar e fortalecer cadeias de valor baseadas na biomassa, seja ela florestal ou agrícola. A criação de valor local é essencial para assegurar uma distribuição da riqueza que possa ser utilizada no território para a criação de postos de trabalho nas atividades
associadas com a sua exploração, logística e transformação. Um território que pode oferecer empregos fixa as populações, dá-lhes expectativas futuras, qualidade de vida e combate a desertificação do interior do país. Mas para isso é necessária uma boa gestão das áreas florestais e rurais e neste capítulo ainda há muito trabalho a
fazer.