O ano de 2020 foi sem sombra de dúvida um ano diferente e acima de tudo um ano para o qual não estávamos preparados.
Não há dúvida que a pandemia Covid-19 foi o acontecimento do ano de 2020 pelas piores razões e tem sido um dos momentos mais marcantes das nossas vidas, pois provocou uma quebra brusca na rotina e nos nossos estilos de vida, nas nossas comunidades e nas nossas famílias. As populações do mundo inteiro foram afetadas e as ramificações deste desafio global à saúde terão implicações profundas que se repercutirão no nosso futuro e sobre as quais ainda pouco conhecemos.
As políticas governamentais durante a pandemia COVID-19 alteraram drasticamente os padrões das necessidades de apoio à saúde e forma de nos podermos articular, afrontando, de forma drástica os conceitos de livre circulação a que nos habituamos e a prosperidade porque todos ambicionamos: a nossa liberdade também foi afetada e muitas portas foram fechadas.
Esta crise de saúde revelou muitas injustiças, fraquezas sociais assim como um aumento das desigualdades. É muito difícil imaginar um retorno à vida como no passado, antes desta crise ocorrer. Ainda é muito cedo para dizer como vai ser o “novo normal”.
Acreditamos fortemente no paradigma de um “País e uma Europa abertas ao mundo”, e apoiamos a globalização como pilar fundamental para criar prosperidade e bem-estar, e, portanto, juntos devemos saber enfrentar os desafios futuros. No entanto, experimentamos logo no início da pandemia que as cadeias globais de valor podem ser facilmente interrompidas, pois a Europa estava demasiado dependente de outros países, coisa que foi em larga escala já superada. Contudo, a pandemia fez-nos repensar sobre a forma como queremos e devemos agir no futuro.
Neste contexto, é prioritário que se concentrem investimentos e medidas de apoio à investigação e inovação, de forma a criarem-se e a se implementarem soluções robustas, capazes de transformar ameaças globais em oportunidades para empresas e cidadãos e, em particular, para a Portugal e para a Europa, onde nos inserimos.
No “novo normal”, os impactos sociais e económicos sobre os cidadãos devem ser considerados em todos os processos da cadeia de valor de desenvolvimento, que devem ser sustentados, de forma a definir o melhor caminho e estratégia a seguir, onde não devemos esquecer as lições aprendidas durante a crise.
Entre outras mudanças, a ciência e a tecnologia devem ser redefinidas, devem estar mais próximos do cidadão, isto é, não é o cidadão que vem ter com a ciência, mas sim a ciência que tem de ir ter com o cidadão, de forma a que juntos sustentem as mudanças necessárias e reforcem sinergias, que impactem em todos e sirvam de base para a definição das políticas públicas. Esta será a melhor forma de abordar o “novo normal”.
A sociedade, mais do que nunca nos exige que pensemos num modo de vida mais seguro, saudável e sustentável, sem limitações globais de recursos, mas sempre pensando na preservação ambiental. A crise pode e deve ser neste caso, o motor geracional de oportunidades para o futuro, criando mudanças duradouras, aproveitando para isso, os efeitos positivos catalíticos da crise, em torno do “Acordo Verde para a Europa”, que combina aspetos ecológicos, sociais e económicos para a construção de um sistema de vida humano próspero de longo prazo, ou seja várias janelas estão-se a abrir, para uma prosperidade e bem-estar sustentados, que sirva os cidadãos.
Qualquer tipo de desenvolvimento sustentável deve ser construído com base no desenvolvimento de materiais e tecnologias sustentáveis. Os materiais estão e fazem parte do nosso ecossistema e até dentro de nós! Esta estratégia não pode ser implementada sem levar em conta simultaneamente os três desafios interdependentes:
• economia circular e relevância das localizações das fontes das cadeias de fornecimento de matérias primas, produtos e tecnologias;
• saúde e proteção das pessoas contra outras pandemias, promover a agricultura e conter o desperdício alimentar; promover a energia eficiente e sustentável; reduzir a pegada do carbono e proteger o ambiente;
• promover a vivência em comunidade, onde se deve atender às condições de trabalho, promover a segurança, as comunicações, os transportes eficientes e a educação pluri e multi-disciplinares, e não a de guetos ou de ilhas isoladas.
Para além disso, os nossos desenvolvimentos futuros serão fundamentados pelas novas capacidades oferecidas por técnicas digitais e de comunicação, que abrem os desafios da inteligência artificial, das tecnologias da indústria 4.0, ou da Internet das Coisas ou da Internet de Tudo, que trazem novas relações comportamentais e de ação ao mundo do trabalho e com isso implicações sociais, bem distintas das que até hoje mantivemos.
É neste sentido que penso que os nossos grandes desafios terão a ver com o sabermos prevenir, que implica desenvolvermos ferramentas de diagnóstico inteligentes que sejam capazes de detectar e monitorar vírus e bactérias, de forma simples e eficiente; termos interfaces de comunicação, flexíveis e conformáveis, fáceis de reciclar e energeticamente autossustentáveis, o que significa desenvolvermos toda uma tecnologia que se baseie em métodos que usem materiais abundantes, fáceis de reciclar, impactando positivamente na chamada economia circular. Estes serão claramente alguns dos grandes desafios que a ciência e tecnologia terão de dar resposta assertiva. Se assim o fizermos, tenho a certeza que a janela que se abre será de grandes oportunidades para mudarmos para melhor e melhor sabermos satisfazer os desejos dos cidadãos que buscam um melhor conforto e bem-estar.
[…] Uma entrevista muito interessante que recomendo vivamente que leiam e de uma mulher que tantos nos prestigia, sobre o que mudou e como podemos ver o futuro, foi para a Valor Magazine, podendo ter acesso por este link. […]
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