Aceitar, recomeçar, evoluir

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1983

Sempre que resistimos à aceitação de alguma situação não encontramos a energia mental suficiente para a sua resolução. Às vezes, resistir leva-nos à evolução, outras tantas à destruição. É preciso perceber e aprender quando faz sentido resistir com determinação ou quando faz sentido aceitar para resolver e crescer. Acredito que o momento que vivemos nos convida à aceitação do momento como forma de reconstrução.

A Covid-19 trouxe com ela a sensação profunda de incerteza, medo e perda, e só por isto não poderia ser mais indesejável. Sentimos, em alguns momentos, que estamos mesmo a viver um dos piores pesadelos das nossas vidas. Num ápice, tudo ficou questionável, imprevisível e incontrolável. A Covid-19 trouxe o pânico, o isolamento e algumas perdas. Mas por muito que seja indesejável, está entre nós, e disto não conseguimos fugir, e só controlamos o que cada um de nós pode fazer por si e consequentemente por todos. Somos os principais responsáveis pela sua evolução ou não, e juntos somos responsáveis por criar respostas para encontramos as soluções necessárias para o que estamos a viver e para o que vamos viver depois do pesadelo passar. E para isso precisamos de aceitar que o vírus trouxe mudanças, exige mudanças e que ficarmos resignados pelo seu aparecimento não nos trará qualquer tipo de solução.

Se a primeira solução é a prevenção, então não há qualquer razão para não ser cumprida. Está provado e mais que provado que é na prevenção que encontramos a primeira solução. Sempre foi, e neste caso, também. É importante perceber que, mais do que remediar, o sucesso está, como sempre teve, em prevenir doença e promover saúde. Depois de salvarmos a pele, que é como quem diz – a vida -, precisamos de perceber o que podemos fazer para nos adaptarmos à nova realidade sem perdermos o foco do que é de facto o mais importante, dos nossos valores, princípios e das nossas paixões. Acredito que cada mudança traz consigo um potencial de crescimento e de transformação, mas mais uma vez, precisamos de aceitar que algumas coisas mudaram e não entrar em espirais de negatividade e pânico que em nada acrescentam. Como dizia a minha avó, com saúde tudo se faz, e acredito que é na adaptação que nasce também a solução.

Aceitar significa também aprender a viver com as incertezas. Não gostamos delas porque nos tiram o chão, nos tornam inseguros, nos fazem vacilar nos passos a dar, no entanto, se olharmos ao longo da história da humanidade e da história de cada um de nós percebemos que a incerteza na realidade sempre existiu, embora não com este impacto tão duro e exigente. No entanto, aprender a viver com ela é a escolha mais inteligente que podemos fazer se queremos viver da melhor forma possível, com serenidade, confiança e acima de tudo com saúde. É pelo medo da incerteza, do não controlo, que nasce a ansiedade e o pânico. Acredito, assim sendo, que este momento também nos traz esta oportunidade de nos conhecermos melhor, de percebermos o que precisamos de trabalhar dentro e fora de nós. Afinal, no fim de tudo, queremos todos fazer desta experiência chamada vida, a melhor experiência de sempre, onde o balanço entre a sofrimento e o bem-estar penda sempre mais sobre o bem-estar. 

Acredito também que este momento de grande dificuldade que todos passamos nos convida a refletir sobre a necessidade constante de querermos aquilo que não temos, de valorizarmos apenas quando perdemos e na construção interior do conceito de felicidade. Afinal, o que nos traz mesmo felicidade, o que precisamos de aprender sobre ela e como num momento tão desafiante podemos redefinir o nosso sentido de vida, como pessoas e como comunidade.

O mundo não é o mesmo e não voltará a ser depois desta experiência, quer se resista quer se aceite. E assim sendo, acredito que é na aceitação que virá a aceitação, a adaptação e o recomeço individual e coletivo.