“Acreditamos no papel transformador da Arquitetura nas cidades”

Daniel Alves é arquiteto e fundou a Nýr Arquitetura em contexto de pandemia, há quase cinco anos. Acreditando que a sustentabilidade não é uma tendência, mas sim um aspeto essencial a ter em conta em todas as construções, este atelier conta com projetos que se destacam quando se fala da conjugação entre minimalismo e funcionalidade.

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Como se identificam, enquanto atelier? A Arquitetura minimalista e funcional é o estilo arquitetónico em que mais apostam?

Na NÝR definimo-nos como um atelier que procura interpretar o lugar, as necessidades e desejos de quem o habita. Acreditamos numa arquitetura funcional, sensível e pensada para resistir ao tempo. Trabalhamos com uma linguagem depurada, onde a simplicidade se torna sofisticada através da proporção, luz, detalhes e materialidade. Embora nos identifiquemos com um estilo de arquitetura contemporânea, não seguimos um estilo fixo. O que nos move é a coerência entre forma e função, conceito e execução.

As cidades oferecem desafios a nível da reconstrução e reabilitação de edifícios. Quais as principais dificuldades encontradas aquando de um trabalho deste género?

Na reabilitação urbana, lidamos com estruturas fragilizadas e contextos complexos que exigem sensibilidade e precisão. Procuramos compatibilizar técnicas construtivas antigas com soluções atuais, respeitando o património e acrescentando valor. Um dos maiores desafios está também na articulação com um enquadramento legal, muitas vezes desajustado, o que reforça a importância do diálogo com as entidades públicas para regenerar os vínculos
sociais e ambientais dos lugares.

Casa Craft – Interior

É possível conseguir um projeto final sustentável, elegante e funcional com um orçamento controlado e com materiais de qualidade e amigos do ambiente?

A nossa experiência diz-nos que sim. Acreditamos que sustentabilidade não é uma tendência, mas um pilar essencial. Trabalhar com orçamentos controlados desafia-nos a encontrar soluções criativas, eficientes e duradouras.
Apostamos em materiais locais e de baixo impacto ambiental, cuja racionalidade económica não descura o equilíbrio da linguagem do espaço. Para nós, elegância nasce nas proporções bem pensadas, incidência de luz e escolhas
conscientes de materiais.

Que projetos destacaria como aqueles que mais representam a visão do vosso atelier?

A “Casa Craft”, no centro histórico de V. N. de Gaia, onde procuramos respeitar a memória do lugar, preservando elementos como cantarias em granito e azulejos florais, e a “Casa da Gávea”, na encosta do Rio Douro em Gondomar, onde o nosso compromisso passa pela relação entre interior e exterior, bem como nas proporções dos espaços, representam de forma exemplar a nossa abordagem discreta, mas profundamente intencional, onde a luz natural é protagonista, os materiais são escolhidos pelo seu caráter e longevidade.

Casa Gávea – Piso 1

Como é que a Arquitetura pode impactar significativamente o espaço urbano?

Acreditamos no papel transformador da Arquitetura nas cidades. Um edifício não é um objeto isolado, mas faz parte de um ecossistema urbano. Um bom projeto pode revitalizar uma rua, promover relações sociais e estimular a
economia local. Apesar dos avanços, ainda falta em Portugal uma visão urbana integrada e participativa. É urgente fortalecer o papel dos arquitetos nos processos de decisão e fomentar uma cultura de projeto colaborativo. Acreditamos que o arquiteto deve continuar a ser um agente de mudança, sensível e comprometido, com a responsabilidade de projetar não apenas edifícios, mas melhores formas de viver.