Que tipo de trabalho desenvolvem? Qual a sua importância junto dos vossos clientes?
A Smallmatek é uma empresa com 12 anos, que nasceu a partir de um grupo de investigadores da Universidade de Aveiro que, fruto das suas atividades de investigação, resolveram trazer alguma dessa tecnologia do mundo académico para o mundo industrial. Essa tecnologia foca-se no desenvolvimento de materiais nanoestruturados que, por terem uma estrutura específica, permitem-nos transportar compostos ativos de uma forma controlada. Conseguimos colocar princípios ativos dentro de uma cápsula, ou de um veículo, que permita transportá-los e libertá-los de uma forma controlada. Estes são importantes para prevenir a corrosão e a bioincrustação. No fundo, tratam-se de inibidores de corrosão e de moléculas que previnem a incrustação de microorganismos nas
superfícies metálicas. Nós desenvolvemos aditivos, ou pigmentos, que depois são incorporados em revestimentos. O nosso cliente final é um produtor de revestimentos ou tintas e nós fornecemos um dos muitos
aditivos que constituem um revestimento.
Porque classificam estes aditivos de “aditivos inteligentes”?
Estes aditivos são inteligentes porque libertam a espécie ativa quando ela é necessária, ou seja, previne que ocorra uma lixiviação espontânea das espécies ativas e garante que ela ainda está presente no revestimento
quando é necessária. Isso acontece quando o revestimento falha, isto é, quando há um risco no revestimento, ou um poro, torna-se necessário que algo previna as espécies agressivas de penetrarem nesse risco e começarem a degradar a infraestrutura. É aí que a espécie ativa é libertada, através da resposta da cápsula a estímulos como a presença de determinados tipos de moléculas (água ou cloretos, muito comuns na corrosão) ou uma variação de pH, ou de temperatura. A cápsula reconhece o estímulo e reage, libertando o princípio ativo.
Estes aditivos são novidade no mercado?
Já existiam materiais muito semelhantes, produzidos industrialmente, mas eram utilizados para a indústria farmacêutica. Nunca tinham sido usados para revestimentos e também não no conceito de veículo transportador de espécies ativas, ou seja, eram materiais quase “inertes”.
Quanto tempo de vida conseguem assegurar às infraestruturas metálicas, com a utilização das vossas soluções?
A questão não é aumentar o tempo de vida da infraestrutura, mas sim substituir um pigmento – o cromato – que é utilizado nos revestimentos para permitir a sua maior durabilidade e desempenho, mas que é cancerígeno, por isso há mais de 20 anos que a comunidade científica trabalha para tentar encontrar um substituto que permita o mesmo tipo de desempenho, sem a parte negativa da toxicidade. Pelo facto de a toxicidade ser tão importante, na Smallmatek não estamos somente focados na parte de desenvolvimento e produção de materiais, mas
também temos uma divisão que nos permite fazer ensaios de ecotoxicidade e monitorização ambiental, para avaliarmos o impacto destas novas medidas no meio ambiente.
O que é que um vasto conhecimento em ecotoxicidade vos garante, aquando do desenvolvimento de soluções?
Normalmente nós queremos elevado desempenho e baixo impacto e este é um equilíbrio difícil de encontrar na proteção da corrosão. Se analisarmos a questão da incrustação, o queremos é prevenir que os microorganismos
adiram e se propaguem numa superfície, mas sem os destruir. Pelo facto de termos conhecimentos em ecotoxicidade, e principalmente estando a falar em materiais à escala nanométrica, e que são recentes nas suas
aplicações, é importante sabermos o seu comportamento quando são libertados no meio ambiente. Quando estamos a pensarem criar ou ajustar o produto, temos de ter uma noção de como ele, durante a sua utilização ou no fim da sua vida, se encontrará e qual o seu impacto.
Fala-se cada vez mais em substituir tintas e revestimentos por elementos que possam vir diretamente da Natureza, sejam o mais biológicos e biodegradáveis possível. A seu ver, enquanto estudioso e profissional, a academia e a indústria conseguirão concretizar uma aplicação deste género, continuando a ter produtos eficazes?
Acredito que a indústria está cada vez mais consciente que necessita de mudar algo para que os seus produtos sejam mais sustentáveis e o impacto seja menor. Nesta parte, já se começam a usar resinas e polímeros de origem biológica, que são sustentáveis e biodegradáveis. Mas depois temos a parte da eficiência. Ora, se nós queremos que os produtos sejam biodegradáveis, eles vão, efetivamente, degradar-se quando expostos aos
elementos naturais, como a chuva ou a água salgada. Logo, nunca serão tão resistentes e duradouros como aqueles feitos sinteticamente. Claro que, cada vez mais, temos de olhar para soluções de origem natural, mas
ao mesmo tempo temos de criar soluções duradouras e eficientes e esse equilíbrio ainda é muito difícil de alcançar. Acredito, no entanto, que dentro de cinco a 10 anos, os consumidores estejam disponíveis para pagar um pouco mais por materiais que equilibrem sustentabilidade e eficiência.
Como antecipa o futuro desta área de atividade, no que respeita aos materiais com que trabalha?
Nós temos uma gama de produtos, ADDPRIME®, que é um conjunto de aditivos premium – materiais que permitem a imobilização, transporte e libertação de compostos ativos de uma forma controlada, nas diferentes
matrizes – pode ser um revestimento, uma embalagem alimentar, um bloco de betão, um filtro… O que nos diferencia é o facto de conseguirmos selecionar o material certo para encapsular a espécie ativa que queremos
utilizar. Atualmente, temos um projeto a nível europeu onde estamos a usar a Inteligência Artificial e técnicas de Machine Learning para fazer a seleção dessas moléculas. O projeto chama-se VIPCOAT, e o objetivo é tentar identificar moléculas que sejam eficientes e com baixa toxicidade, para depois usarmos a nossa plataforma de encapsulação e permitir a introdução dessas moléculas em revestimentos para a indústria aeronáutica. Por isso, a inovação faz parte do nosso dia a dia.