Como é que o ADN e o conhecimento que existe sobre o mesmo influencia o trabalho nas diferentes unidades de investigação?
Acredito que não há aqui nenhuma área de estudos para a qual o ADN não tenha alguma importância. Certamente na unidade em que eu estou – Parasitologia Médica – e também na unidade de Microbiologia Médica, mas também na Clínica e na Saúde Pública. As áreas em que utilizamos o ADN são diversas, no entanto, diria que o mais importante é o que diz respeito ao diagnóstico, a vários níveis, incluindo as doenças tropicais, porque, por um lado, a deteção de ADN tende a produzir melhores resultados, permitindo-nos detetar parasitas, bactérias e vírus que, de outra forma não conseguiríamos. Por exemplo, com o diagnóstico serológico é possível detetar os anticorpos contra um determinado vírus ou bactéria, mas não conseguimos saber se o próprio agente patogénico (vírus ou bactéria) ainda se encontra no organismo. Para isso, temos de utilizar o ADN. Isso acontece muito na minha área de estudo, a Parasitologia Médica. Para além disso, nem sempre é possível identificar as espécies de parasitas só pela sua morfologia, para o que precisamos de estudar o seu ADN.
O que são doenças tropicais e parasitárias? Como podemos considerar uma doença tropical e o que é que distingue uma doença parasitária?
As doenças tropicais são doenças dos trópicos, ou seja, têm o componente geográfico. Isso significa que, normalmente o calor ou a presença de temperaturas mais altas durante todo o ano permitem a transmissão dessas doenças. O caso mais paradigmático é a malária. É uma doença tropical porque os vetores estão presentes durante todo o ano. As doenças parasitárias são doenças causadas por parasitas, e que também podem ser tropicais, como é o caso da schistosomose, que é transmitida por caracóis de água doce. Neste
caso, tanto o caracol como o próprio parasita gostam de águas mais quentes e de sol. Esta é, por isso, uma doença tropical sendo de difícil transmissão fora dos trópicos, porque os seus vetores (animais através dos quais se faz a transmissão da doença) não são tão competentes noutras regiões do planeta.
O ADN ocupa o seu espaço, enquanto reconhecido fator que influencia a forma como uma pessoa pode reagir a um tratamento, por exemplo? Que importância tem o conhecimento do ADN quando se estudam as doenças tropicais?
Na área da Parasitologia, os estudos de suscetibilidade ou resistência a várias doenças são complicados de executar, pois exigem a participação de um grande número de voluntários no estudo e são caros. Já se fizeram estudos destes relativos, por exemplo, à Leishmaniose, no Brasil e na Índia, e foram identificadas variantes de genes com ligação ao sistema imunitário, por exemplo no reconhecimento de antigénios. Casos há em que a resistência pode ser devida a uma combinação de vários genes, mas estudara reação ao tratamento torna os
estudos mais complicados e requer um maior número de pessoas recrutadas.
A Genética das Populações é determinada, em parte, pelo seu ADN, que é semelhante entre os indivíduos de uma mesma espécie. No entanto, é possível que, entre si, as populações também detenham semelhanças genéticas no que respeita às regiões onde vivem?
A dificuldade está em encontrar diferenças no ADN. O nosso genoma é praticamente idêntico e se formos comparar, por exemplo, com os chimpanzés, que são próximos de nós, o nosso ADN tem uma semelhança de 99%. É por isso que se fazem estudos de sequenciação genómica, para se encontrar diferenças existentes no genoma das populações em diferentes regiões. O que muitas vezes diferencia as espécies – por exemplo entre humanos e outros primatas – é a forma como os genes são regulados. Na Parasitologia é igual, estudamos o ADN dos parasitas para perceber como evoluem. Estudando o seu ADN podemos também prever as proteínas produzidas e, sabendo isso, conseguimos também saber quais os fármacos, por exemplo, que interagem com essas proteínas, para combater o parasita.