“Ainda continua a ser necessário falar de igualdade e lutar por ela”

Antes da revolução do 25 de abril, as mulheres não tinham quase direitos a nível pessoal. Havia inclusivamente profissões que lhes estavam vedadas. Hoje, felizmente, muito já foi conquistado. Joana Alves, diretora de Recursos Humanos da GS1 Portugal, reconhece que, tendo nascido já em liberdade, nunca sentiu as dificuldades de não poder ser o que quisesse, mas reforça que importa continuar a passar às gerações mais novas o que foi a “revolução dos cravos”, para que se continue a avançar rumo a um futuro de equidade para todos.

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Quais os principais direitos que as mulheres conquistaram e que, a seu ver, merecem particular destaque?

Se olharmos para trás, até ao 25 de abril, e nos propusermos a escolher uma palavra que descreva plenamente o que sentimos que representou a Revolução dos Cravos, ela é: Liberdade. Trazer essa palavra para o âmbito feminino assume um valor incalculável. Naquela época, se uma mulher quisesse sair de Portugal, tinha de pedir autorização ao marido, algo que nos parece impensável agora e que nos faz acreditar que é importante continuar a falar deste tema porque é estrutural, cultural e histórico. Ao observarmos este cenário, não é difícil perceber o que o 25 de abril representou para as mulheres. Foi o início do caminho para que elas pudessem ser tudo aquilo que quisessem, bastando querer. Às vezes, querer muito. No entanto, acredito que, neste momento, o que verdadeiramente condiciona é a vontade.

Enquanto profissional dos recursos humanos, que mudanças teve esta área a partir do momento que a mulher pôde ter acesso ao mercado de trabalho sem quaisquer restrições?

Há desafios que ainda persistem, mas que cada vez mais estão a ser discutidos e há uma preocupação genuína da sociedade em combatê-los e reduzi-los, como a disparidade salarial. Em média, as mulheres ainda ganham menos do que os homens, mesmo desempenhando o mesmo trabalho e possuindo as mesmas qualificações. Além disso, as mulheres tendem a estar sub-representadas em cargos de liderança e em setores dominados por homens, como tecnologia e engenharia. Outro obstáculo é a conciliação entre a vida profissional e pessoal. As
mulheres frequentemente assumem a maior parte das responsabilidades domésticas e de cuidado com os filhos, o que pode limitar as suas oportunidades de avanço profissional. O preconceito e o assédio no ambiente de trabalho também são realidades com as quais muitas mulheres ainda se deparam diariamente. É por estes desafios persistentes que continua a ser necessário falar de igualdade e lutar por ela.

Quais os maiores desafios do cargo de Diretora de Recursos Humanos? A GS1 Portugal é uma empresa que acautela e promove a igualdade de género? De que forma?

A GS1 Portugal destaca-se pela sua excelente estrutura e organização. Os processos estão claramente definidos, implementados e assimilados pelos colaboradores. Além disso, a organização possui um Código de Conduta e Ética profundamente enraizado. Mesmo sem obrigatoriedade, a GS1 Portugal criou um Plano de Igualdade, no qual já tive a oportunidade de participar. É interessante notar que a Direção da organização é composta por 50% de homens e 50% de mulheres. Atualmente, as mulheres representam a maioria dos colaboradores, com 56%. Gostaria de destacar também a cultura de meritocracia promovida através de um bom sistema de avaliação de desempenho e de definição de objetivos. Destaco ainda o sistema de equilíbrio entre a vida profissional e pessoal implementado pela GS1 Portugal Codipor. A organização adotou um modelo de trabalho híbrido que permite até dois dias de teletrabalho e oferece flexibilidade na gestão dos horários, desde que se cumpram determinadas
regras fundamentais para assegurar o bom funcionamento e organização do trabalho. O maior desafio como Diretora de Recursos Humanos? Ser criativa, integrar e descobrir novas formas de trabalho e novos perfis profissionais. Criar equipas multidisciplinares e multigeracionais, promovendo a diversidade e a igualdade, sempre com o objetivo final de alcançar resultados. A minha visão de futuro concentra-se, sobretudo, em auxiliar o desenvolvimento de pessoas talentosas, ágeis, motivadas e comprometidas.

Quão importante é que se passe à geração já nascida em liberdade a importância que teve a revolução do 25 de abril na aquisição de direitos e liberdades por parte de todos os cidadãos, mas particularmente pelas mulheres?

Sem dúvida, a liberdade como uma das preciosidades mais significativas na vida, tanto para homens como para mulheres. Ter a capacidade de fazer escolhas sem censura é essencial. Se lhes perguntarem o que querem ser quando crescerem, devem poder responder o que quiserem.