Entre 1900 e 1970 a região não foi capaz de reter população. Muitos tiveram que partir em busca de melhores condições de vida do que as proporcionadas pela agricultura e pescas, base da estrutura económica regional. Em 70 anos, enquanto a população em Portugal e Ilhas Adjacentes (terminologia à época) cresceu quase 60%, a população do Algarve quase estagnou.
Durante muito tempo, para além do devido, o Algarve foi rotulado como a região dos 3%, a região dos 300 mil habitantes. De acordo com os últimos censos, de 2011, o Algarve tinha 451.304 habitantes, representando 4,3% da população de Portugal. Tudo aponta para que nos próximos censos, em 2021, se verifique um reforço desse valor, podendo aproximar-se dos 4,8% registados em 1900.
Tudo isto para concluir que os últimos 120 anos da história do Algarve podem ser divididos em dois grandes períodos: 70 anos de perda de valor; seguidos de 50 anos de prosperidade e recuperação de valor.
O que mudou? É simples de explicar: o advento do turismo internacional; um território com condições ímpares e um dos melhores climas da Europa; a construção de um aeroporto, inaugurado em 1965.
Recursos endógenos (território e clima) há muito presentes tornaram a região altamente competitiva num setor de atividade económica (turismo) que, rapidamente, se transformou num dos mais importantes a nível mundial. Num ápice, a estrutura económica da região reconfigurou-se, tornando-se muito pouco diversificada, fortemente sazonal e dependente de fatores externos. A economia regional cresceu, criando emprego que atraiu mais população para a região, seja de outras regiões do país, seja do exterior. De acordo com os últimos dados do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, em 2018, 16,1% da população estrangeira residente em Portugal encontrava-se no Algarve.
E agora? O que se segue? Os atuais estilos de vida apontam para que nas próximas décadas o turismo continue a apresentar uma taxa de crescimento superior ao da economia mundial. Não será o mesmo turismo. O perfil e as necessidades dos turistas não permanecerão imutáveis. Estou convicto que o Algarve conseguirá manter níveis elevados de competitividade. Para tal, tão ou mais importante que a qualidade da oferta turística, será crucial melhorar a mobilidade na região, melhorar a oferta de serviços de saúde, manter os níveis de segurança e aumentar as qualificações da população.
A médio e longo prazo o impacto das alterações climáticas poderá constituir a principal ameaça para a região. A água poderá tornar-se um recurso escasso com fortes implicações em toda a cadeia de valor do território.
Que respostas?
– Um adequado investimento público, consentâneo com o contributo da região para a economia nacional, com particular incidência na área dos transportes e da saúde.
– A captação de investimento privado para outras áreas que não apenas o da imobiliária, contribuindo para a diversificação da economia.
– A aposta no Conhecimento como recurso endógeno.
Território e Clima foram suficientes para criar valor na região nos últimos 50 anos, mas não serão suficientes para os próximos 50 anos. Para tal, será necessário juntar Conhecimento.
Desde logo, ter uma população com elevados níveis de qualificação. E nesta matéria temos que reconhecer que o atual ponto de partida não é o mais favorável. Os progressos nas últimas décadas foram enormes. Contudo, o Algarve é a região NUTS II de Portugal Continental com os níveis mais elevados de retenção e de abandono escolar. População qualificada é sinónimo de território mais competitivo. Há que assumir o desígnio de, no mínimo, convergir para a média nacional em termos de retenção e de abandono escolar.
A criação de Conhecimento só é possível com investimento em I&D&I (Investigação, Desenvolvimento e Inovação). E também aqui a situação do Algarve não é brilhante. Para além de apresentar valores inferiores à média nacional no rácio: Gastos em I&D&I ÷ Produto regional, nos últimos anos encontra-se em divergência. Duas em particular:
– O Algarve é a região do país em que a componente privada (empresas) assume a menor expressão no total de gastos em I&D&I.
– O Algarve, enquanto região em transição (phasing-out), recebe um “envelope” de fundos comunitários bem mais reduzido do que as regiões em transição, tendo estes uma importância determinante no financiamento da componente pública de gastos em I&D&I.
Importa, pois, encontrar outras fontes para financiar a componente pública dos gastos regionais em I&D&I. Sem o seu reforço, a criação de Conhecimento fica comprometida e, subsequentemente, a criação de Valor na região.