Aljezur: um local único onde o mercado imobiliário é reservado para amantes da Natureza

O arquiteto José Brito, fundador e responsável pela SW-Places, uma agência de mediação imobiliária em Aljezur, esclarece, em entrevista, as características particulares desta vila do sudoeste alentejano e a forma como as novas políticas governativas influenciam (ou não) quem escolhe aquela região para adquirir um imóvel. O novo benefício de financiamento bancário para os jovens, por exemplo, é outro motivo para esta entrevista, onde José Brito destaca a importância de apoios positivos para as decisões individuais das famílias.

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O mercado imobiliário na região de Aljezur é muito particular. Como o caracteriza?

O mercado imobiliário em Aljezur tem-se mantido, ao longo dos últimos anos, fiel à génese do local, ou seja, sempre foi uma zona mais procurada pela linha alternativa da sociedade europeia, nomeadamente os alemães, suíços e neerlandeses. A oferta do mercado imobiliário está dispersa pelo território, promovendo a individualidade na escolha, o que sempre foi apetecível a este grupo da sociedade, que há uns 30 ou 40 anos atrás era um pequeno grupo representado, na sua maioria, por cidadão vindos do norte da Europa, mas hoje representam uma dimensão considerável da sociedade, e provêm dos “quatro cantos do mundo”.

Esta região tem particularidades únicas, que podem ser aproveitadas por quem se interessa por Natureza e tranquilidade. A nível de preços, como definiria a zona?

O Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina tem um potencial de fauna, flora e paisagístico muito particular, mas são as autoridades administrativas que impedem o aproveitamento desse potencial. Compreendo que regras são essenciais para o desenvolvimento em sociedade, mas as regras não deverão assentar somente na “proibição de”, mas sim na educação e contribuição para a sociedade, “podes fazer, mas deverás fazer isto”.

Nos PDMs já se vê essa forma de autorização, mas o mesmo não podemos afirmar sobre os regulamentos regionais. Os preços na zona têm sido fiéis à lei da “oferta e da procura”, e como a procura disparou nos últimos anos, os preços acompanharam. Portugal está a passar uma fase de grande procura por parte de cidadãos das mais variadas nacionalidades, muitos somente devido à nossa localização geográfica e clima, outros por razões de segurança e outros ainda por sermos parte integrante da Comunidade Europeia e termos o Euro como moeda oficial.


A nova lei do Governo que permite que terrenos rústicos sejam transformados em terrenos urbanos para construção veio efetivamente ajudar à escassez de construção para a classe média e os jovens, que hoje existe?

A lei a que se refere entrou há muito pouco tempo em vigor para já ser possível vermos resultados práticos, mas se
quer a minha opinião, eu acho que não vai resultar, e porquê? Aquilo que deveria ser o Estado a fazer, este passa a tarefa para o privado, e este não vai construir, para vender 70% do empreendimento com o preço antecipadamente estabelecido e só 30% do edificado é que poderá ser vendido a preço de mercado. Uma solução, à semelhança de outras regiões europeias, seria promover urbanizações para tiny-houses, em que os preços – aí sim – são mais acessíveis aos jovens.

Que impacto terá esta nova medida governativa, considerando que Aljezur é uma região muito natural e ainda não massificadamente urbanizada?

Esta lei não foi feita para pequenas vilas como Aljezur, mas sim para zonas de pressão urbana como Oeiras, Braga, onde existe muita gente e existe a expectativa de que se houvessem mais habitações estas não ficariam vazias.

A nova garantia bancária assegura, de verdade, aos jovens, uma maior facilidade na aquisição de habitação própria? Que considerações tece a esta medida?

A experiência prática diz-me que nos últimos quatro meses a procura por apartamentos na cidade por casais entre os 20 e 30 anos tem aumentado, devido às novas condições de acesso ao crédito. Quando as regras do jogo se traduzem pela positiva nas vidas das pessoas, eu acho que estamos no caminho certo.

Enquanto players do mercado imobiliário, que análise faz ao futuro próximo do setor? Espera-se uma evolução na continuidade?

Ao nível global o mercado imobiliário é, atrás do petróleo, o mercado com o maior movimento de capital, e acho que essa posição se manterá nos próximos tempos, mas quem sabe, com os veículos elétricos já aí e o Hidrogénio ao virar da esquina, por quanto tempo o petróleo conseguirá manter a posição no ranking mundial, enquanto com o mercado imobiliário não se veem concorrentes. A evolução no mercado imobiliário será a possível dentro do cenário com regras estabelecidas, onde a mediadora deveria ter mais responsabilidades que lhe permitissem aceder a determinados documentos do imóvel relacionados com o contrato de mediação imobiliário feito com o cliente vendedor. A inteligência artificial poderá ser uma ferramenta que promove evolução dos players no mercado, mas ainda está muito pouco desenvolvida.