Como descreve a atividade da Advocacia atualmente, considerando que as mulheres são, presentemente, mais do que os colegas homens nesta atividade profissional? Assistimos a uma redução dos preconceitos relativamente à mulher, enquanto profissional, dada a sua maior presença no setor?
A Advocacia reflete atualmente uma diminuição na desigualdade de géneros. Basta pensarmos que até 1918 era uma profissão exclusiva dos homens e nos dias de hoje as mulheres estão em maioria. É uma conquista. Nada impede uma mulher de ser uma excelente profissional e as advogadas têm vindo a conseguir demonstrar isso mesmo.
O que a levou a fundar o seu próprio escritório de advogados? É possível, assim, conciliar melhor o desempenho das suas funções profissionais com a vida pessoal?
Foi o facto de poder exercer a Advocacia como sempre ambicionei. Uma Advocacia de proximidade. Claro que nem sempre é fácil, o sucesso ou fracasso dependem de mim e isso implica muito trabalho e dedicação. Tem a vantagem de poder organizar o meu tempo, o que facilita o conciliar da vida profissional com a pessoal. Nem sempre consigo atingir esse equilíbrio atenta a responsabilidade que assumi. A Advocacia é uma atividade intelectualmente exigente e que implica muitas horas de trabalho.
Que impacto ainda tem, para uma mulher, esta necessidade de desempenhar bem o seu papel profissional e gerir toda a atividade doméstica e familiar, como ainda parece ser conceção aceite pela maioria da população?
Somos um país conservador e inevitavelmente tal conceção ainda está muito enraizada, principalmente na população mais envelhecida, quer em homens, quer em mulheres. Felizmente a população mais jovem tem contribuído para que tal se altere. O facto de uma mulher se dedicar à sua profissão e querer ser uma profissional de excelência não a torna menos capaz na sua atividade doméstica e familiar. Sou da opinião que uma mulher realizada profissionalmente, porque isso ambicionou, consegue ser melhor nas suas relações pessoais e familiares.
Que mudanças sofreu a Advocacia, nestes últimos anos, que tenham sido positivas para as mulheres que nela trabalham?
A principal mudança foi na mentalidade. A consciencialização de que as mulheres dão um enorme contributo para a Advocacia e que é possível ocuparem lugares de topo e liderança.
O impacto da maternidade ainda é muito grande na vida das mulheres. Como impacta, de forma particular, a vida das advogadas, considerando que não existe um apoio especificamente atribuído às mulheres que foram mães por parte da CPAS?
É muito difícil ser mãe e ser advogada face à ausência de apoios. Por opção não tenho filhos, mas sei das dificuldades. Têm de existir medidas e alterações legislativas que atribuam às mulheres os mesmos direitos na maternidade, seja qual for a sua profissão. É impensável nos dias de hoje que as advogadas não tenham direito a subsídio de maternidade nas mesmas condições que profissionais de outras áreas têm e que não possam usufruir desta na sua plenitude porque têm um prazo a cumprir ou um julgamento para realizar.
Quais os maiores desafios que a Advocacia irá enfrentar nos próximos anos? Há espaço para uma alteração legislativa no que concerne às advogadas e aos seus direitos no decorrer do desempenho da sua profissão?
A alteração ao Estatuto da Ordem dos Advogados irá trazer enormes desafios à Advocacia. Há sempre espaço para alterações legislativas. Infelizmente os advogados têm sido esquecidos e tem-se verificado uma grande desigualdade de direitos face a outras profissões e não só relativamente às mulheres.