A economia e as finanças são um setor estratégico, quer para as famílias, quer para as empresas. Que análise faz ao estado da economia nacional?
A economia portuguesa enfrenta um cenário de crescimento moderado, impulsionado pelo aumento do investimento e das exportações, pela redução da taxa de inflação que é crucial para a estabilidade económica e para o poder de compra das famílias. A adoção de tecnologias como a Inteligência Artificial pode mitigar a escassez de mão de obra em setores-chave, enquanto políticas públicas focadas na competitividade são essenciais para reter talento nacional. A economia nacional enfrenta igualmente desafios significativos, mas também oportunidades para inovação e melhoria da competitividade. A estabilidade política e a gestão eficaz das
políticas monetárias e fiscais serão cruciais para garantir um crescimento sustentável e a prosperidade a longo prazo.
Há pouco tempo, as empresas estavam a ser obrigadas a colocar mais pessoal em layoff, no entanto, recentemente, um inquérito da AIP-CCI veio dizer que, para as empresas, a maior dificuldade é a contratação de recursos humanos e não a questão da fiscalidade tributária, como anteriormente. Que mudanças estão a ser efetuadas, no mundo laboral nacional, que levam a estas novas dificuldades?
As recentes dificuldades na contratação de recursos humanos em Portugal podem ser atribuídas a várias mudanças no mundo laboral. Em 2023 e 2024, o Código do Trabalho português passou por mudanças significativas, incluindo novas normas sobre contratos, horas trabalhadas e teletrabalho. Estas alterações visam modernizar as relações laborais, mas também podem criar desafios de adaptação para as empresas. A tendência
tecnológica que vivemos, a digitalização e a inteligência artificial estão a transformar o mercado de trabalho, exigindo novas competências e perfis profissionais, colocando as empresas a enfrentar dificuldades em encontrar candidatos com as habilidades tecnológicas necessárias. Estas são algumas das mudanças que refletem uma transformação profunda no mercado de trabalho, onde a adaptação às novas realidades e a procura por competências específicas se tornaram os principais desafios para as empresas.
Nesse mesmo estudo foram também apontados fatores que tornam a burocracia fiscal muito difícil de lidar, para as empresas, nomeadamente a quantidade de impostos e taxas existentes – 4300 – e 451 benefícios fiscais, dispersos pelos diferentes códigos de atividades económicas. Como se resolve esta questão, além da óbvia simplificação da atividade tributária?
Consolidar impostos e taxas semelhantes para reduzir o número total e simplificar o processo de pagamento. A criação de plataformas acessíveis onde todas as informações sobre impostos e benefícios fiscais estejam centralizadas e facilmente compreensíveis. O feedback das empresas – estabelecer canais de comunicação para que as empresas possam fornecer feedback sobre dificuldades enfrentadas – permitiria ajustes mais rápidos e
eficazes. Entendo que estas medidas podem ajudar a tornar o sistema fiscal mais eficiente e menos oneroso para as empresas.
A Star Accounting é uma empresa que lida de perto com diversas PME. Que impacto tem, para elas, as dificuldades provocadas pela falta de competitividade nacional, mas, simultaneamente, também internacional?
As dificuldades de competitividade nacional e internacional têm um impacto significativo nas PME. As dificuldades financeiras das empresas dificultam o acesso a financiamentos e investimentos necessários para o crescimento. Empresas menos competitivas podem ter dificuldades em atrair e reter talentos qualificados, o que é crucial para a inovação e eficiência operacional. Por outro lado, existe a pressão em reduzir custos, que pode afetar a qualidade dos produtos e serviços oferecidos. Para mitigar esses impactos, é essencial que as PME invistam em inovação, formação de executivos e explorem diferentes opções de financiamento. Além disso, estabelecer redes e parcerias estratégicas pode ajudar a aumentar a competitividade e a resiliência.
Qual o papel da Star Accounting no acompanhamento a estas empresas?
A Star Accounting fornece uma análise detalhada do negócio, auxiliando na tomada de decisões estratégicas. Isso inclui a análise da tesouraria da empresa, os rácios financeiros e os riscos associados à atividade. A base de
trabalho é o planeamento financeiro e a transferência de conhecimento. Se, por um lado, ajudamos a criar orçamentos realistas e acompanhamos o desempenho financeiro em relação aos objetivos estabelecidos, o que permite ajustes nas operações para atingir metas e evitar surpresas financeiras, por outro transferimos práticas
organizacionais e conhecimentos especializados para as PME, melhorando a eficiência e eficácia das operações empresariais.
Relativamente à Europa, que impacto têm os planos de ajuda financeira que são levados a cabo a nível dos países-membros? Quão importantes têm sido os fundos europeus para Portugal?
Os planos de ajuda financeira na Europa, como o NextGenerationEU, têm desempenhado um papel crucial na recuperação económica e na transformação estrutural dos países-membros. Estes planos visam a recuperação pandémica, ajudando a reconstruir economias afetadas pela pandemia, promovem uma Europa mais verde,
digital e resiliente, e reduzem disparidades regionais, fortalecendo a coesão entre os países-membros. Em Portugal, os fundos europeus têm sido fundamentais em várias áreas, infraestruturas, na inovação
e internacionalização das empresas portuguesas, na melhoria dos níveis de qualificação dos portugueses, aumentando a produtividade e competitividade da economia. Estes fundos têm contribuído para a transformação estrutural da economia e sociedade portuguesas, tornando-as mais preparadas para os desafios futuros.
Considerando o impacto que é esperado que o PRR tenha na economia nacional e na competitividade empresarial, enquanto player da área da Contabilidade e Consultoria isso parece-lhe realmente viável? Ou teremos dificuldades em implementar este Plano, deixando o país aquém das suas expectativas e da expectativa europeia?
O Plano de Recuperação e Resiliência tem o potencial de impulsionar significativamente a economia nacional e a competitividade empresarial. No entanto, a viabilidade da sua implementação depende de vários fatores. A eficácia na gestão e execução dos projetos financiados pelo PRR é crucial. A burocracia e a falta de experiência em gerir fundos europeus podem ser obstáculos. A modernização da infraestrutura e a adoção de novas tecnologias são essenciais para aumentar a competitividade. A capacidade de adaptação das empresas a estas
mudanças será determinante. O investimento na formação e qualificação dos recursos humanos é vital para garantir que a força de trabalho esteja preparada para os novos desafios e oportunidades. Importa estabelecer mecanismos robustos de monitorização e avaliação para garantir que os objetivos do PRR estão a ser cumpridos e para ajustar estratégias conforme necessário. Se estes fatores forem bem geridos, o PRR pode realmente transformar a economia e aumentar a competitividade empresarial. No entanto, a falta de coordenação e a ineficiência podem deixar o país aquém das expectativas.
A Valor Magazine está no mercado há cinco anos. Ao longo deste tempo, que mudanças surgiram na maneira de pensar e investir, quer da população, quer das empresas?
Nos últimos cinco anos, Portugal tem testemunhado mudanças significativas na maneira de pensar e investir, tanto por parte da população quanto das empresas. Há uma crescente consciencialização sobre a importância da sustentabilidade. Tanto a população, quanto as empresas estão a investir em práticas e tecnologias sustentáveis, como energias renováveis e eficiência energética. A educação financeira tem ganhado destaque, com mais
pessoas a procurar entender melhor como gerir e investir o seu dinheiro. Isso reflete-se na maior procura por informações e aconselhamento financeiro. Essas mudanças refletem uma evolução na mentalidade de investimento em Portugal, com uma abordagem mais diversificada, inovadora e sustentável.