Quando criaram o GRACE, em 2000, a cidadania empresarial era já um tema que vos preocupava?
Em 2000, o clima que se vivia em Portugal era estável a nível financeiro, social e político, mas apesar de terem sido lançados nesse ano os “Objetivos de Desenvolvimento do Milénio”, as questões ambientais ou de responsabilidade social das empresas não eram abertura de noticiários nem sequer consideradas temas prioritários. Contudo, um pequeno grupo de multinacionais mais atento, pelo seu contexto internacional, àquelas que seriam as novas tendências a nível global, e com práticas de Cidadania Empresarial em diversos países, decidiu trazer esse tema para a agenda corporativa nacional, fundando assim o GRACE.
Qual foi o primeiro impacto que este assunto teve nas empresas e nas instituições com quem contactavam?
Os primeiros contactos realizados com empresas, organizações governamentais e associações internacionais foram extremamente gratificantes, pois permitiram-nos preparar o caminho para as empresas desenvolverem e implementarem uma estratégia de cidadania corporativa. O envolvimento com a comunidade já existia, mas eram práticas pontuais, maioritariamente centradas em contribuições financeiras e algumas ações com entidades sem fins lucrativos. Tudo isso entretanto mudou.
Que balanço fazem no que diz respeito ao implemento da cidadania empresarial e da responsabilidade social nas empresas?
O balanço é muito positivo e o futuro parece-nos muito promissor. Hoje, o GRACE conta com 177 empresas associadas, comprometidas com práticas responsáveis e cientes de que o seu papel na sociedade mudou e de que tem de levar em linha de conta os interesses de todos os seus stakeholders e não apenas o interesse acionista. As empresas começam também a desenvolver o seu negócio de forma alinhada com os ODS e com um sentido de propósito. A existência de cidadãos, consumidores cada vez mais atentos e empoderados, também contribuiu para a mudança de paradigma a que começamos a assistir.
Que medidas são mais necessárias, atualmente?
É necessário que os gestores assumam a liderança nesta caminhada, pois são as empresas as detentoras dos meios económicos, humanos, tecnológicos e de inovação que são precisos para operar a verdadeira transformação na sociedade. Aos governos caberá a adoção de políticas públicas que convirjam para esta mudança positiva.
Ainda há um longo caminho a percorrer em Portugal neste setor?
Face ao caráter de emergência que certos temas estão a assumir e à multiplicidade de desafios que se apresentam no horizonte, o caminho é efetivamente longo. Mas já não há muito tempo para o percorrer, é preciso acelerar o passo. Neste âmbito, o GRACE fará tudo o que estiver ao seu alcance para que as metas da Agenda 2030 das Nações Unidas adquiram centralidade no mundo das empresas, para que o tecido empresarial português esteja crescentemente capacitado e sensibilizado para combinar de forma equilibrada Purpose & Profit e para que Portugal não falhe nos objetivos estabelecidos quer a nível nacional, quer internacionalmente.