Como aplicar os 58 mil milhões de euros do Plano de Retoma Europeu?

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Paulo Cunha: «Estamos aqui para realizar uma obra comum.Não para Pnegociar vantagens, mas para procurar as nossas vantagens na vantagem comum. Só eliminando da discussão qualquer sentimento particularista poderemos encontrar uma solução. Na medida em que, aqui reunidos,soubermos mudar os nossos métodos,contribuiremos para transformar pouco a pouco a mentalidade de todos os europeus».

Eis como Jean Monnet definiu o espírito dos debates da Conferência intergovernamental de Paris de 20 junho 1950.

E agora Europa? E agora Portugal? Onde estamos? De onde vimos? Para onde vamos? Nada melhor que o pensamento deste fundador da Europa Unida como eixo condutor da resposta de Nós Consultores às duas questões colocadas: A União Europeia fecha o acordo entre os Estadosmembros com um orçamento de 1.820 mil milhões de euros, dos quais 58 mil milhões (10 anos) do plano de retoma europeu estão destinados a Portugal.

– Oque fazer com este dinheiro e como efetuar a sua correta distribuição, fiscalizando a sua aplicação.

– Que destino(s) dar a este montante? Quais os sectores mais críticos e com maior necessidade de apoio? Como garantir a correta utilização do dinheiro?

Carlos Telles de Freitas: Portugal deverá apostar em quatro pilares estruturantes:

Eficiência, nas suas várias vertentes: Empresarial, energética, do Estado. Temos de agarrar no melhor que temos e usá-lo bem, evitando ciclos de desenvolvimento que nada trouxeram de positivo.

Inovação: copiar o que os outros fazem é muito fácil.

O difícil é desenvolver ideias e processos novos que representem descontinuidades relativamente ao passado.

Não sendo Portugal um país de grandes recursos naturais, temos de olhar para o que temos e fazê-lo como nunca foi feito. Neste campo, merece-me especial atenção à agricultura (onde o desafio seria tornarmo-nos neutros entre importações e exportações) e a saúde, nomeadamente dispositivos médicos.

Reindustrialização: a recente pandemia mostrou que o grau de avareza dos lucros das empresas deslocalizou a produção para países de mão-de-obra barata. À escala europeia, cada país vai definir uma estratégia para evitar ficar refém de um país. Terá de ser feita com cabeça, tronco e membros, escolhendo criteriosamente as áreas onde Portugal é deficitário e que já teve indústrias que, entretanto, por má gestão ou por falta de ambição dos empresários, fecharam. O mar (e as indústrias a ele ligadas) são uma excelente oportunidade pela transversalidade de tipos de indústrias envolvidas: Conservas, transformação de pescado, portos, design de produto, etc.

Logística: temos uma posição privilegiada em termos geográficos e não tiramos partido dela. Aproveitar melhor portos e aeroportos, renovar a via férrea para transporte de passageiros e carga, transformando-se no Hub entre o Ocidente e o Oriente, escoamento de produção própria de produtos perecíeis. É neste roadmap que vejo NÓS Consultores: uma equipa multidisciplinar que consegue responder como um todo aos desafios futuros que se colocam a Portugal e à Europa.

Paulo Seco 966 076 381 pseco@impare.pt
www.impare.pt

Helena Pegado: É unânime que a formação profissional é uma ferramenta essencial para o desenvolvimento de qualquer processo estratégico – tenha ele a ver com procura de rentabilização, diferenciação no mercado, inovação ou outro. No entanto, é preciso não esquecer que são as pequenas empresas que dominam o tecido empresarial português! E nestas, ainda há défice de quase todo o tipo de competências: desde as chamadas competências transversais (soft skills), passando pelas competências técnicas (ligadas ao exercício da função), até às competências estratégicas (normalmente a própria empresa não tem delineada uma estratégia de desenvolvimento/crescimento). Neste sentido, é importante que no novo quadro de apoio haja respostas diferenciadas para os diferentes tipos de necessidades:

– para as grandes empresas, pelo grande impacto que têm na economia;

– para as médias empresas, pelo número de empregos que representam, muitas vezes em localidades descentralizadas;

– para as micro e pequenas empresas, pelo facto de terem uma tremenda importância em quase todos os sectores e representarem mais de 90% do tecido empresarial português.

Preocupações existentes com base no último quadro comunitário:

-Incumprimento do calendário de candidaturas.

-Tempo de análise / resposta às candidaturas – houve casos que chegou aos 12 meses.

João Santos: São tempos históricos e que por sua vez podem trazer oportunidades de nos redefinirmos enquanto país, enquanto tecido empresarial e enquanto indústria. Sistematicamente, nos 34 anos desde a entrada de Portugal na União Europeia, que o conceito de inovação na indústria portuguesa passa na sua larga maioria pela importação de técnicas e equipamentos de outros congéneres europeus como a Alemanha e Itália para utilização no âmbito da sua atividade. É maioritariamente deste modo que tem sido realizada a inovação produtiva e às vezes até mesmo a investigação e desenvolvimento.

A nível da investigação e desenvolvimento também temos tido o problema crónico do distanciamento entre universidades e empresas, resultando em que muito do conhecimento produzido pelas primeiras não seja aplicável ou não esteja adaptado ao contexto real da atividade empresarial e industrial. Urge fazer-se a ponte entre o saber e o fazer, para podermos ser, enquanto indústria, capazes de saber fazer melhor como ninguém. É importante que tanto as universidades como entidades públicas e spin-offs privadas consigam explorar a aplicabilidade do conhecimento científico e que este também comece a ser desenvolvido tendo em conta os desafios e a realidade empresarial. Precisamos de ter investigadores/cientistas próximos da realidade industrial que consigam articular com empresas para criar realmente inovações disruptivas nas indústrias, quer a nível de produto como a nível de processo. NÓS, na SCIENCE 351, vamos colaborar e trabalhar ativamente neste processo de investigação, desenvolvimento e inovação com resultados palpáveis para a atividade empresarial e industrial.