A União Europeia (UE) enfrenta desafios económicos, sociais e geopolíticos que ameaçam a manutenção de um dos seus traços fundamentais: a Economia Social de Mercado. Este modelo, que combina competitividade com justiça social, garante o “modo de vida europeu”, mas está sob grande pressão.
O relatório de Mario Draghi, “O Futuro da Competitividade Europeia”, identifica três pilares para o futuro do bloco: a inovação, a sustentabilidade e a autonomia estratégica. Estes são decisivos para manter a Europa competitiva, fortalecer a economia e preservar o bem-estar social.
A Economia Social de Mercado, que definiu a prosperidade europeia no pós-guerra, depende do equilíbrio entre crescimento económico e políticas redistributivas – hoje, enfrenta perigos: desaceleração económica, falhas na inovação, a transição energética e tensões globais expõem a competitividade europeia, perante rivais como os Estados Unidos e a China.
Como Draghi adverte, sem competitividade económica, a Europa perderá a capacidade de financiar o seu modelo social. A inovação, motor do crescimento, é essencial para evitar estagnação e criar os recursos que sustentam políticas de coesão e solidariedade. Uma Europa enfraquecida colocará em risco conquistas sociais e direitos fundamentais – tanto dos seus cidadãos como de países como Portugal.
A sobrevivência da Europa como um dos principais blocos económicos mundiais exige foco em três desafios:
1. Inovação como motor de competitividade
A Europa investe menos em Investigação e Desenvolvimento (I&D) do que os seus concorrentes globais – cerca de 2% do PIB, enquanto Estados Unidos e Japão superam os 3%. Isto reduz a nossa capacidade de liderar novos mercados e atrair talento qualificado.
Portugal partilha este desafio. Somos ricos em polos de excelência e ecossistemas de startups promissores, mas faltam-nos escala e articulação entre universidades, centros de I&D e empresas. Integrar a ciência e a indústria é essencial para transformar ideias em valor económico direto.
2. Sustentabilidade como alavanca económica
A sustentabilidade é não só uma obrigação ética mas também uma grande oportunidade. A Europa lidera com o Pacto Ecológico Europeu, mas a transição energética requer uma reestruturação industrial custosa e ambiciosa.
Portugal destaca-se com o solar, o eólico e o hidrogénio verde como áreas estratégicas, mas obstáculos como elevados custos energéticos dificultam a nossa liderança na transição verde. É vital reduzir custos e fomentar um mercado energético europeu integrado e interligado para aproveitar este potencial.
3. Autonomia estratégica e resiliência geopolítica
A pandemia e a guerra na Ucrânia evidenciaram a dependência europeia de terceiros em setores essenciais como semicondutores, medicamentos e matérias-primas. Diminuir esta dependência exige diversificação das cadeias de abastecimento e um aumento da produção interna.
Para Portugal, representa desafios e oportunidades. Investir em baterias, materiais e tecnologias inovadoras e infraestruturas pode reforçar a posição do país no contexto europeu, mas será essencial o apoio europeu para modernizar a indústria e superar as limitações financeiras.
Responder a estes desafios é também uma oportunidade para o nosso país liderar em áreas fundamentais. Para isso, é crucial aumentar o investimento em conhecimento, tecnologias e I&D; apostar na produção e exportação de energias verdes; diversificar o tecido industrial, atraindo investimentos estratégicos; e requalificar a força laboral.
O modelo social europeu, que trouxe paz e prosperidade, só subsistirá se for sustentado por uma economia competitiva. Sem crescimento e inovação, o financiamento de políticas sociais e o combate às desigualdades tornar-se-ão inviáveis.
É tempo de escolhas difíceis, mas essenciais. Portugal e a Europa devem assumir um compromisso com a inovação, transição energética e autonomia estratégica. Só assim será possível preservar uma sociedade que coloca o bem-estar e a justiça social no centro das suas prioridades.