“Consumidores mais literados financeiramente tomam decisões mais informadas”

Licínio Santos é o diretor comercial da Cofidis, uma entidade de venda e gestão de créditos, que disponibiliza crédito, seguros e meios de pagamento a particulares. Nesta entrevista, fica clara a evolução da sociedade portuguesa e, simultaneamente, o que ainda falta fazer no que respeita à literacia financeira da população nacional.

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A Cofidis é uma entidade de venda e gestão de créditos que atua em Portugal desde 1996. De então para cá, como mudou o tecido de consumidores português?

A sociedade de consumo evoluiu muitíssimo desde então. O salário mínimo em Portugal em 1996 era de 317 euros, o nível de escolaridade era significativamente mais baixo e 12% da população ativa laborava no setor primário. Hoje temos apenas 2,7% da nossa população ativa no setor primário. O final da década de 90 e início da década de 2000 trouxeram a democratização do acesso à internet de alta velocidade, a moeda única e a globalização. Hoje as lógicas de consumo são totalmente diferentes das do passado, e a conveniência, a agilidade e o imediatismo são fatores-chave. A jornada de acesso passou a ser tão ou mais importante do que o bem ou serviço em causa, e mesmo do que o seu preço de comercialização.

Como se relacionam os portugueses com o dinheiro? Até que ponto já evoluiu a cultura da literacia financeira?

A literacia financeira evoluiu significativamente desde então, mas continua muito aquém do desejado para que tenhamos decisões mais responsáveis e mais racionais, bem como dos standards comparativos com os principais
países da UE. Em bom rigor, só nos últimos anos se começou a ouvir falar deste tema com maior intensidade. Há um caminho importante a fazer ainda nesta matéria, para que a gestão das finanças pessoais e os principais conceitos relacionados com o financiamento, mas também com a poupança e o investimento sejam bem compreendidos pela maioria dos portugueses, nomeadamente os mais jovens.

Quais os créditos mais procurados pela população?

A tipologia de crédito mais procurada em Portugal é o crédito habitação, seguido do crédito pessoal que pode ter várias finalidades como saúde, educação, tesouraria, entre outros e depois o crédito automóvel.

Que impacto pode ter a consulta de um intermediário de crédito na vida financeira e económica de uma família?

Os intermediários de crédito autorizados pelo Banco de Portugal devem possuir um nível de literacia financeira superior e prestar um acompanhamento personalizado e profissional ao cliente, conseguindo acrescentar valor não só pela componente técnica, através da qual podem ajudar a explicar e aconselhar soluções adequadas ao perfil e necessidades particulares de cada cliente, mas também pela sua relação próxima com as instituições financeiras, o que lhes permite ter acesso a um conjunto de condições preferenciais junto das mesmas, que se reflete em resposta rápidas e processos administrativos céleres.

O que são e para que servem as Linhas de Crédito de que a Cofidis também dispõe?

Este é um produto financeiro adequado a montantes baixos – de 500 a 4500 euros – e caracterizado pela sua grande flexibilidade. Tem uma mensalidade baixa e permite ao cliente ter uma reserva de dinheiro disponível para reutilizar à medida que vai reembolsando a utilização anterior, tudo isto sem comissões nem anuidades.

O “Contas Connosco” é um site informativo criado pela Cofidis que pretende simplificar a relação das pessoas com o dinheiro. Este tipo de rúbricas ajudam as pessoas a perceberem melhor como utilizar o seu dinheiro e a fazer uma melhor gestão do mesmo?

O Contas Connosco é um projeto que lançámos em 2014 com o intuito de aproximar as pessoas dos principais conceitos relacionados com as finanças pessoais. Saber interpretar um contrato de trabalho, de arrendamento ou de crédito, compreender o conceito de taxa de juro, de juros compostos ou de MTIC. São perspetivas como estas que pretendemos dar a conhecer a todos os que visitam este site, que já ultrapassou os 20 milhões de visitantes desde o lançamento e que acreditamos já ter ajudado muitas pessoas a compreenderem melhor as suas finanças pessoais. A maioria das pessoas nunca fez o exercício básico de criar um orçamento mensal e acompanhar a tipologia dos gastos e consumos, ou de definir objetivos e verbas específicas para alocação aos mesmos. Há um
péssimo hábito de navegação à vista, que tolda a perceção das pessoas no que diz respeito às rúbricas relativas às quais alocam percentagens importantes do seu vencimento. Há efetivamente um trabalho de fundo muito importante a ser feito, e logo junto das crianças do ensino básico para que cresçam familiarizadas com determinados conceitos e os possam assimilar a partir do momento em que começam a recebera sua mesada.

Acredita ser também uma função social da Cofidis esta tarefa de contribuir para a educação financeira da população nacional? Em que medida?

Pessoalmente acredito que cada um de nós é o principal responsável por tomar as rédeas da sua vida e procurar aumentar o seu saber sobre esta e outras áreas basilares da vida em sociedade. Todavia, é muito evidente que consumidores mais informados tomam decisões mais racionais e mais responsáveis, e isso é um fator crítico de sucesso para que tenhamos uma sociedade melhor, mais equilibrada e sustentável. É por isso que na Cofidis
temos desenvolvido tantas iniciativas e conteúdos focados em diferentes faixas etárias, por via a fomentar o aumento exponencial do grau de literacia financeira dos portugueses. Há muito caminho ainda para percorrer, e cabe a todas as grandes instituições contribuírem para que a literacia financeira seja verdadeiramente promovida
junto dos portugueses. Numa última nota, ressalvar também a importância de os reguladores encontrarem forma de controlar a cada vez maior quantidade de conteúdos, de qualidade questionável, disseminada nas redes sociais, ou no youtube por supostos educadores financeiros não habilitados para tal e que acabam por induzir os
mais vulneráveis a colocarem o seu dinheiro em cursos, aplicações ou esquemas enganosos.