A sua formação em Psicologia levou-a a criar um consultório próprio, mas também viver um impasse, que a levou a descobrir o seu caminho para o coaching. Como foi esse processo?
Este processo de coaching tem como base a minha história. Continuo a exercer Psicologia clínica e esta é uma ferramenta essencial para este tipo de coaching – que é transformacional – e que implica, primeiro, conhecer a pessoa e o que é que ela consegue fazer. A motivação só vem na fase final. No meu caso, comecei a questionar-
me, muito devido a uma capacidade que desenvolvi de, instintivamente, enquanto realizava os meus acompanhamentos psicoterapêuticos, captar, em algumas pessoas, capacidades, habilidades e talentos que as mesmas tinham. De seguida, trabalhava com elas estas questões e elas tinham sucesso: ou mudavam de trabalho, ou descobriam um dom numa área profissional que nunca tinham pensado… Havia sempre algo que eu fazia a pessoa descobrir em si mesma que a levava a um sucesso que ela almejava, mas não sabia como lá chegar. Foi assim que compreendi que existia esta área – que já não se enquadrava na Psicologia – e que eu estava a desenvolver sem qualquer método, apenas instinto. Reconheci, então, que tinha necessidade de alargar a minha intervenção para a área do coaching, mas estudei sobre o assunto previamente. Há três anos, criei
este projeto – o método 2Life – baseado no método SER, FAZER e TER, que segue a linha de desenvolvimento científico do ser humano.
Que método é este – SER – FAZER – TER que apresenta a quem a procura?
O método chama-se 2Life e tem como base este SER-FAZER-TER. É um processo que visa modificar as questões do SER como primeiro passo. A ordem certa do desenvolvimento do ser humano é SER, FAZER e TER. O SER começa ainda enquanto estamos na barriga da nossa mãe e acompanha-nos ao longo de toda a nossa vida,
porque é a nossa identidade. É por isso que temos sempre de trabalhar primeiro o SER, para depois
conseguirmos efetivar as mudanças (FAZER) e alcançar aquilo a que nos propomos (TER). Este método tem nove etapas e dura cerca de quatro meses. Nesse período, desconstruímos os aspetos da identidade que estão desalinhados e a pessoa começa a conhecer-se e a perceber o que há em si que possa trabalhar para fazer com que todos os aspetos da sua vida encaixem. O processo de desconstrução é muito importante, porque não raras vezes é na base que se encontram crenças antigas como “não sou capaz”, “não sou bom o suficiente”, “eu não mereço isto”… Eu utilizo uma ferramenta de autoconhecimento como primeiro passo – um Eneagrama – que serve para que eu conheça melhor as pessoas. Há nove tipos de pessoas e, adequado a cada tipo de pessoa, existe o seu caminho para o sucesso. O eneagrama dá-nos os caminhos de equilíbrio de cada personalidade.
Ninguém é igual – nem mesmo as pessoas que pertencem ao mesmo tipo – e devemos respeitar a essência de cada um, por isso é um método em que a personalização das atividades é fundamental.
Quais as principais causas, atualmente, para o descontentamento que cerca de 40% das pessoas apresenta relativamente ao trabalho onde está?
A nossa personalidade, o nosso SER, influi muito na forma como nos alinhamos com o nosso trabalho. Há pessoas que têm o trabalho certo, mas por algum motivo não aplicam toda a sua personalidade. Depois há outras que estão mesmo em trabalhos que não favorecem em nada as suas melhores características. Isso tem consequências: alta taxa de absentismo, alta rotatividade entre trabalhos, burnout e ansiedade.
Seria importante que, desde cedo, as crianças soubessem reconhecer o seu tipo de personalidade e que, nas escolas, a aprendizagem pudesse ser personalizada?
Sem dúvida. É importante perceber que as emoções são ferramentas importantes para nos conhecermos melhor e sabermos como atuar no dia a dia. Eu ainda acredito que, um dia, seja tida em conta nas escolas esta necessidade de os alunos serem quem eles são. Os ensinamentos devem ser passados, mas se ninguém é igual a
ninguém, porque é que devemos aprender todos da mesma forma? Faz muito sentido que exista uma personalização do trabalho educacional. Era um sonho podermos mexer na base e dar este tipo de conhecimento aos professores e aos pais.
Que novidades pode partilhar, que terão início brevemente?
Em 2025, tenho como objetivo introduzir este método também nas empresas. É fundamental que o líder se conheça e que saiba o tipo de pessoas com quem trabalha, para poder, também, retirar o máximo de cada um, alcançando o sucesso para todos. Além disso, já criei a Comunidade 2Life,destinada àquelas pessoas que
concluem o processo e que querem continuar, apoiados num peer group que lhes transmite segurança, a pôr em prática as suas novas capacidades. A comunidade funciona também como espaço de networking. Ainda no próximo ano irei iniciar cursos de quatro sessões só sobre o Eneagrama. Pessoas que participem nestes cursos
podem, também, ter acesso à comunidade 2Life.