Desculpa, não sou feminista

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Não. Não sou feminista. Como não sou racista, não sou homofóbica, não sou xenofóbica. Estas classificações são para mim desnecessárias.

Não. Não tenho especial orgulho em ser mulher, como não teria especial orgulho em ser homem, mas tenho especial orgulho em ser Pessoa. A questão do género é na minha opinião, uma questão que se prende muito mais e antes, com o papel social de cada um na vida social.

Não foi uma escolha determinantemente minha, não foi uma escolha determinante de ninguém, pelo menos biológica. A questão do meu papel na sociedade pode ser uma escolha minha sim, mas independe da minha condição biológica e no meio de alternativas de escolha a que não só a mim, mas sobretudo a mim impende, laissez passer, o individuo, social, económico, ético, personalista no centro de tudo. E no centro de tudo, o Universo.

Naturalmente este não é um discurso virado contra o feminismo. Não nego o legado das mulheres e da luta história que nos corre nas veias e nos marca determinantemente com o seu selo, em todas e em cada uma de nós. Não nego nada que não pode ser negado pelas suas evidências, mais, reconheço e louvo. Também não é este, um tímido discurso machista.

Para mim, uns e outros são, em essência, iguais. Defender a igualdade não depende da questão de género, mas de comportamento, posicionamento e caracter e até de uma honestidade intelectual.

Haverá quem diga que as condições nunca foram iguais para debater a questão da igualdade para quem à partida concorre em termos socais e biológicos em planos dispares. Certo e reconhecido. Contudo, sendo diferentes funcionalmente (é inegável), não podemos deixar de considerar que somos iguais numa base personalista, não porque dotadas de características biológicas distintas, mas porque somos simplesmente humanos, únicos e singulares, dentro e fora do contexto histórico, homens e mulheres.

Respeito todas as posições devidamente fundamentadas, não vejo vantagem nos extremos, que prevejo tanto desnecessários como infrutíferos.

Para que sejamos humanos não precisamos estar constantemente em batalha e erguer bandeiras (que sim, fizeram sentido e constituem um legado) mas podemos também (para lá do machismo e/ou do feminismo), entender que para viver em harmonia não é tão necessário levantar bandeiras ideológicas, mas apenas Ser. E Ser já é muitas vezes difícil mas o suficiente para mulheres e para homens.

Uma definição que li recentemente algures sobre feminismo descrevia-o como o “movimento que considera que as mulheres devem ter os mesmos direitos e oportunidades que os homens e não devem ser descriminadas em função do seu sexo”. Nada contra isto, tudo a favor, contudo a redundância e a simplicidade da definição não desconstrói o núcleo daquilo que estamos habituados a entender como feminismo na essência e sabemos que este não só não reclama a igualdade, como atenta por vezes, até pela pretensa superioridade de género, muitas vezes defendida inclusive por homens.

A questão que se coloca é que nada disto existe se pensarmos num processo limpo de desconstrutivismo ideológico e de preconceito.

Se entendermos o feminismo como o contrário de machismo, a preponderância da violência doméstica de homens sobre mulheres, eu viro já a casaca, mas depois tenho de pensar na questão do fundamentalismo pela massificação e isto não me acalenta, pois do mesmo modo que temos estas referências, também as temos estatisticamente com dados relevantes no que concerne ao sexo oposto.

Mantenho o meu sentimento de não ser, se me permitem. Para mim, somos todos seres humanos habitantes de um mesmo Planeta, naturalmente com direitos e deveres, responsabilidades e garantias, e todos serão perante isso e perante a lei, iguais.

Evidentemente que considero fundamental a igualdade de direitos, oportunidades, liberdades, respeito entre todos, mas isso terá de fazer de mim feminista? Não. Não sou feminista, mas note-se, nem contra o feminismo. Não dou energia a contradições. Sou a favor da igualdade e coloco aqui o meu ponto. O resto são favas contadas.

“Que nada nos defina, que nada nos sujeite. Que a liberdade seja a nossa própria substância” – Simone de Beauvoir

Carla Teixeira da Silva – carmts@hotmail.com

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