“É crucial fiscalizar o setor imobiliário”

A Gesproperty nasceu há quatro anos, pela mão de Esmeralda Almeida, uma profissional do setor imobiliário com vários anos de experiência na área que optou por abrir uma agência própria, gerida pelos valores da proximidade e do humanismo. A marca conta atualmente com uma agência em Sintra e outra na Charneca da Caparica, em Almada.

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Esmeralda Almeida, CEO

Esmeralda Almeida já conta com mais de 10 anos de trabalho no setor imobiliário, alguns deles em grandes marcas da área. Apesar de assumir que continua a fazer negócios com a última marca que representou e que lhe deve muito do que sabe, optou por abrir a sua própria agência: “Fi-lo porque deixei de me identificar com o método de crescimento da marca, no que respeita ao recrutamento que passou a ser feito em massa e, por outro lado – algo que teve mais importância – foi o facto de sentir que não podia acompanhar os meus clientes quando as condições de negociação não eram abrangidas pelas regras da marca. Sempre primei por acompanhar os meus clientes e ter relações próximas com estes, independentemente do negócio em causa e isso era algo que queria preservar”.

A Gesproperty nasceu alicerçada em valores que Esmeralda Almeida preza: “Planeei criar uma agência cujo foco principal fosse a proximidade com o cliente. Nesta área é fundamental entender a voz do cliente e as suas necessidades, de forma a perceber exatamente o que é que as pessoas procuram e precisam. A minha equipa trabalha nesse sentido e defende que o acompanhamento ativo ao cliente faz a diferença para estabelecer uma relação de proximidade e confiança”.

Tendo começado a sua atividade em Lisboa, a Gesproperty encontrou no concelho de Almada a sua região de desenvolvimento e, por isso, Esmeralda Almeida abriu a agência no Laranjeiro. Dada a evolução do mercado, mudou a agência para a Charneca da Caparica. De salientar o facto que tem ao seu lado a filha, Joana Almeida, que além de ser o seu braço direito em tudo, é também responsável por algumas áreas fundamentais no desenvolvimento da empresa, nomeadamente na formação. Existe uma segunda agência, em Sintra, sendo que nesta existe uma parceria com um amigo de longa data, responsável pela gestão da equipa e da loja, o Carlos Rocha: “Os mercados de Sintra e Almada são distintos entre si e o cliente também. Em Sintra, o mercado mais rotativo é de classe média-baixa; em Almada, o mercado é desenhado para clientes de classe média-alta e alta. Em média, uma transação no mercado da Charneca da Caparica ronda os 260 mil euros, enquanto em Sintra se situa nos 130 mil euros. No entanto, estes dois mercados trabalham muito bem, sobretudo com clientes nacionais. Neste primeiro trimestre de 2021, triplicámos o valor das vendas, face ao ano passado”.

Mudança em tempo de pandemia

As transações que ocorreram no período de pandemia deveram-se, essencialmente, às novas tendências que o confinamento criou: “Antes, as pessoas ‘passavam por casa’ – saíam às seis da manhã, voltavam perto das 18 horas e utilizavam as casas em períodos muito curtos semanalmente. A chegada do confinamento obrigou a que toda a família permanecesse em casa durante 24 horas e se adaptasse a um novo estilo de vida. Além disso, foi nessa altura que muitos começaram a valorizar a existência de um espaço exterior, que muitas habitações não possuem. A localização sofreu alterações – as pessoas preferiam, até aqui, um imóvel no centro urbano, perto do trabalho e dos transportes públicos, mas com o confinamento o teletrabalho tornou-se uma alternativa que podia vir para ficar, pelo que a necessidade passou por vender o apartamento no centro da cidade para adquirir uma moradia, muitas vezes nas zonas mais periféricas, como na Margem Sul. Durante a pandemia iniciámos a grande maioria dos negócios neste sentido e tivemos de adaptar a nossa oferta àquilo que era mais procurado, bem como o nosso método de trabalho, que teve de ser atualizado. A minha equipa apostou fortemente nas novas tecnologias – o vídeo, as visitas virtuais, a fotografia, até mesmo nas redes sociais – fizemos um upgrade que queremos manter na agência e que a equipa defende que é uma mais-valia no futuro”.

A área imobiliária não granjeia, até ao momento, uma boa reputação social. Para Esmeralda Almeida, isso deve-se à falta de profissionalização e de regulamentação da mesma: “Quando iniciei a minha profissão, era obrigatório ter uma carteira profissional e tínhamos de prestar exames, todos os anos. Essa necessidade de carteira profissional e de formação deixou de existir, e isso não é positivo para a nossa profissão. Atualmente muitas pessoas entram neste ramo sem formação e desconhecem as funções de um consultor imobiliário, que vão muito além da venda de imóveis. Por vezes, deparo-me com colegas consultores que demonstram um grande desconhecimento da atividade, por isso considero fulcral uma regulamentação e fiscalização apertada do setor”.

A pandemia não fez a Gesproperty parar de trabalhar, ainda que com as adaptações necessárias ao cumprimento da Lei. Esmeralda Almeida assegura que o mercado não terá, no futuro, as flutuações que muitos esperam, nem mesmo com o fim das moratórias do crédito habitação: “Há zonas que vão ser mais atingidas por uma quebra e isso está relacionado com uma maior propensão para o desemprego em determinadas regiões, dominadas por poucas entidades empregadoras onde, se uma delas despede trabalhadores ou termina a sua atividade, coloca no desemprego muitas pessoas da mesma zona. Essas pessoas poderão, evidentemente, ter mais dificuldades para pagar os seus empréstimos, mas não creio que haja motivo para entregar os imóveis ao banco. As pessoas têm de perceber que não devem simplesmente deixar de pagar os seus créditos, pois os bancos estão disponíveis para negociar e não têm interesse em ficar com imóveis para si. Ainda assim, acredito que possa vir a existir um ajuste nos mercados, sobretudo em Lisboa e nos centros urbanos, mas a maioria irá estabilizar e permanecer muito semelhante ao que está atualmente”.