Empreendedorismo e criatividade aplicados ao Marketing

Joana Meireles é marketeer e fundou, há sete anos, a JMR Digital. A partir de Amesterdão, esta agência de marketing conquistou clientes em todo o mundo e, mais recentemente, estabeleceu-se, também, no Porto. Sempre com o objetivo de oferecer um serviço boutique, assume que o Marketing e o Marketing digital se fundirão num só muito em breve.

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O seu percurso profissional sempre se cruzou com a área do Marketing. Esta foi desde sempre a área que quis seguir? O que a levou a apostar numa empresa própria?

Eu não sabia que era exatamente o Marketing, mas sabia que queria procurar um percurso mais criativo. Quando estive em contacto com a opção, senti que encaixava muito bem. Relativamente ao empreendedorismo, senti desde cedo que tinha esse potencial. Em 2015, lancei uma marca de calçado de e-commerce para senhoras
pequenas – My Petit Style – em Barcelona. Como marketeer, trabalhei tanto do lado do cliente, como do lado de agência, e sempre senti que o lado de agência era mais desafiador. Em 2017, deixei o meu trabalho aqui, na Holanda, para abrir a JMR Digital, enquanto freelancer. Entretanto crescemos, hoje somos 10 pessoas. Estamos em Amesterdão, Roterdão e, mais recentemente, no Porto.

O que considera que levou a este crescimento tão acentuado da agência, considerando que tivemos, simultaneamente, um grande crescimento do número de agências de Marketing?

Penso que o que nos distingue da concorrência é que, apesar de termos tido uma expansão muito rápida e de atingirmos clientes em todo o mundo, o nosso foco é manter um conceito de boutique. Somos uma empresa com uma cultura de relação muito personalizada com os clientes e temos uma gestão muito transparente, muito
horizontal, em que toda a gente dentro da equipa tem um papel fundamental e isto transparece para os nossos clientes.

Que impacto acredita que o Marketing tem na vida das empresas e dos seus respetivos negócios?

Eu acredito que sem Marketing não existem empresas, nem negócios. O Marketing é uma arte, e é uma arte que move o mundo, e é uma ciência que move os negócios. A arte representa o lado mais humano do Marketing e a Ciência o lado racional. Acredito que o Marketing é uma inteligência necessária para que a empresa se consiga conectar com o seu público-alvo. Na JMR acreditamos que sem o Marketing não existem estas ligações humanas e que se trata mesmo disto – de ligações que conectam as marcas às pessoas. Se não houver estas ligações, não existem marcas, nem negócios de sucesso.

Esta é uma área onde é crucial estar atento às tendências?

As tendências são, no fundo, as mudanças do comportamento do consumidor. Hoje, o consumidor tem acesso imediato a informação personalizada e a tecnologias em que o contacto com as marcas é mais direto. Sabemos não só o que as marcas promovem, o que querem passar, mas também temos facilmente acesso à experiência e opinião dos outros consumidores, bem como ao impacto das marcas. Este comportamento do consumidor alterou muito e nós, como profissionais do Marketing, temos de ter a capacidade de acompanhar esta evolução e as marcas têm de ser capazes de ser consistentes em todos estes canais de informação, senão vão deixar de ter mercado onde atuar e deixar de existir.

A automação das campanhas de Marketing é fundamental para que a marca esteja presente junto dos seus clientes, criando uma relação de proximidade e reconhecimento que se torne inquebrável. Como contribui a JMR Digital para a criação deste conceito?

A automação de Marketing é o uso de uma série de ferramentas com o objetivo de entregar mensagens personalizadas e sintonizadas com as etapas do processo de tomada de decisão em que se encontram os chamados prospects, leads ou clientes das marcas. Não acreditamos que seja uma questão de estarmos sempre
presentes, mas sim de entregar uma mensagem relevante num momento em que é importante. No entanto, se a marca não tem nada de relevante, nenhum valor interessante para aportar aos seus clientes, então o seu público
não se vai importar com a mensagem e a automação de Marketing não aporta valor. Na JMR não começamos pelas ferramentas, começamos por olhar para os objetivos dos negócios dos nossos clientes e quais são as
necessidades e desejos dos seus públicos-alvo: onde é que eles se encontram e se sobrepõem. De facto, hoje, o público está presente em vários touch points, daí a importância de os ligar entre si corretamente, para que todos funcionem em sintonia e os resultados finais sejam todos mensuráveis, pois só assim conseguimos saber
exatamente quais os pontos que precisam de ser otimizados. Temos de entregar mensagens certas e relevantes, personalizadas, à pessoa certa, no canal certo, à hora certa.

A JMR Digital foi distinguida, no ano passado, nos Prémios Lusófonos da Criatividade. Acredita que a vossa forma de estar no mercado foi uma das razões para esta vitória?

Sim, sem dúvida. Esta nossa abordagem é aquilo que nos distingue. Nós não fazemos abordagens copy -paste. Oferecemos soluções personalizadas a cada cliente. Já recebemos dois prémios lusófonos (entre outros) e isso valida a qualidade do nosso trabalho. Isso, por consequência, traz-nos novos projetos.

Ainda em 2023, a JMR Digital abriu escritório no Porto, embora esteja sediada em Amesterdão. Porquê a opção pelo Porto? É possível uma maior expansão da empresa, considerando que têm clientes um pouco por todo o mundo?

Eu sou portuense e não podia deixar de optar pelo Porto. A ideia de trazer a JMR para Portugal vem ao encontro do que temos vindo a falar: a minha vontade era trazer a empresa para Portugal e trabalhar com talento no nosso país. Fizemos esse teste há quatro anos, em regime remoto, e correu muito bem. Relativamente à
expansão, continuamos a expandir – neste momento estamos em Roterdão, Amesterdão, Porto e em Lisboa, onde já temos um colaborador e estamos a avaliar a possibilidade de termos também um espaço. Temos clientes por todo o mundo, pelo que trabalhamos sempre em modelo remoto e híbrido. É por isso que não descartamos várias ideias que temos, nomeadamente de nos fixarmos em mercados como EUA e Canadá. O nosso maior objetivo é continuar a crescer, mas de forma a manter a cultura boutique, que os nossos clientes valorizam e que fazem com que a JMR se destaque da concorrência.

Como lhe parece que o mercado do Marketing se comportará nos próximos anos? Este será um setor em franco crescimento?

O Marketing está cada vez mais inclinado para o Marketing digital, e para o Marketing Data Driven. Eu penso que vai deixar de existir distinção entre Marketing e Marketing digital, porque neste momento é só um. As marcas
estão todas no digital e os canais tradicionais vão passar a ser um complemento. Acredito também que o Marketing vai evoluir na direção da hiperpersonalização dos seus conteúdos. Nós já trabalhamos nesse sentido, mas a chegada da inteligência artificial ajuda os marketeers a fornecer um conteúdo altamente relevante e
personalizado para os consumidores individuais. Os clientes vão esperar cada vez mais que as marcas entendam as suas necessidades pessoais e apresentem propostas altamente personalizadas. As tecnologias vão continuar a
evoluir, mas os marketeers têm de ser aqueles que conduzem a comunicação a bom porto.