“Estamos a atravessar um momento de mudança na Medicina Veterinária”

Daniela Moreira é médica veterinária e criou o seu próprio projeto – a Animavet – há oito anos, em Lousada, distrito do Porto. Rodeada de uma equipa constituída apenas por mulheres, esta empreendedora afirma que é possível notar a diferença na forma como o trabalho decorre. Reconhecendo as dificuldades inerentes a quem é empresário, afirma, todavia, que o balanço deste caminho é bastante positivo.

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Desde tenra idade que percebeu que a Medicina Veterinária era a sua área de trabalho de eleição. O que a levou a abrir um espaço próprio?

Sempre estive em contacto com animais, por isso, a Medicina Veterinária surgiu como um caminho natural no meu percurso, não só pela minha ligação profunda aos animais, mas também pela vontade de aprender mais sobre o seu comportamento e saúde.
A possibilidade de abrir o meu próprio espaço surgiu numa fase relativamente precoce do meu percurso profissional. Sabia que poderia diferenciar-me através da prática de uma Medicina Veterinária que tivesse como principal foco o bem-estar dos animais, trabalhando de uma forma amável e empática, com proximidade e dedicação individual a cada caso.

Que análise faz ao momento que as mulheres atravessam no mercado de trabalho?

Acredito que estamos a atravessar um momento de mudança na Medicina Veterinária em que, mais frequentemente, as mulheres se conseguem afirmar no mercado de trabalho. Se, há 40 anos, este era um setor predominantemente masculino, atualmente, mais de 65% dos médicos veterinários são mulheres; e se nos referirmos à prática de clínica
de animais de companhia, este valor é bastante superior. E, além do número, são cada vez mais as mulheres empreendedoras e em cargos considerados de topo, o que é notável.
No entanto, ainda enfrentamos desafios importantes, como a conciliação da vida profissional e pessoal, a exigência da maternidade e a liderança e reconhecimento de valor que, por vezes, não são igualitários.

Neste espaço veterinário, a maioria dos colaboradores são mulheres. Que características diferentes existem num espaço onde a liderança é feminina e a maioria da equipa também?

Na verdade, toda a minha equipa é constituída apenas por mulheres! Não foi propositado, mas as circunstâncias assim o ditaram. E esse fator, creio, faz diferença no trabalho que é realizado no dia a dia. Não se trata de ser melhor ou pior, mas acredito que a abordagem seja mais empática e colaborativa.
Não concordo nada com a ideia pré-concebida de que um local de trabalho só com mulheres seja muito desafiante ou negativo. Na verdade, o que eu sinto é que a entreajuda, a cooperação e o entendimento mútuo são mais notórios. Há uma grande atenção ao cuidado, não só para com os animais (o nosso foco principal) mas também para com clientes e colegas de equipa. Há também uma grande capacidade de adaptação e de multi-tasking.

Quais os desafios que sentiu, particularmente, no início da sua carreira?

Os desafios que senti foram muitos e, provavelmente, comuns a quem está no início de carreira. A insegurança natural de quem está a começar, a incerteza sobre se estaria preparada para lidar com todas as situações clínicas, a comunicação com os tutores, etc. Um dos maiores desafios foi, sem dúvida, criar a minha própria clínica. A faculdade
de Medicina Veterinária prepara-nos para tratarmos da saúde dos animais, mas não para lidar com toda a parte de gestão, burocracia, liderança, etc. Foi um caminho de aprendizagem contínua, que contribuiu para um crescimento pessoal enorme.

Olhando para o percurso traçado, que balanço faz até ao momento?

O percurso tem sido muito positivo. A abertura da Animavet foi um grande desafio, com muitas decisões difíceis e incertezas, mas nunca duvidei de que era possível marcar a diferença através do meu trabalho e, oito anos depois, olho para trás com muito orgulho em tudo o que alcançámos.