O desafio lançado pela revista Valor convida a um exercício imaginário sobre o futuro da Europa. Adivinhar o futuro, ou pelo menos conseguir antecipar os seus maiores desafios tem sempre algo de místico ou de angustiante, pois coloca-nos perante o incerto e em tantas coisas perante o inesperado. Por isso, é sempre mais cauteloso e providencial perspetivar esse futuro com um olhar pessimista. Ao pessimista não se exigem resultados, não se espera superação, não se reclama uma visão inspiradora. O pessimista tem do seu lado o rumo natural do tempo: do tempo que envelhece, do tempo que desgasta, do tempo que já foi mais do que tem para ser.
O meu futuro da Europa não é o do pessimista. O meu futuro da Europa não é o das vozes que condenam a Europa a um tempo do passado, enquanto fantasiam com uma China do futuro.
Para mim, a Europa do futuro é a Europa dos três Vs: da Vontade, da Valorização e da Vitória!
É um futuro que depende em larga medida da vontade dos Europeus, da capacidade destes se unirem para assim, juntos, superarem desafios.
É um futuro da valorização da Europa do conhecimento, da inovação, mas também dos seus valores, da democracia liberal, do modo de vida europeu, que assegura que pertencemos ao melhor lugar do mundo para viver.
É um futuro de vitória: de vitória da democracia face aos imperialismos, de vitória dos direitos humanos, de vitória da luta contra a pobreza, contra a doença contra os desastres climáticos.
O Futuro da Europa está, para mim, intrinsecamente ligado à causa intergeracional do meio ambiente e do combate às alterações climáticas. Não apenas porque é urgente e imperioso conseguirmos manter o aquecimento do planeta abaixo dos 1,5º, como este deve ser um desígnio que mobilize a humanidade para a sua própria superação: para operar um conjunto de tecnologias, de saberes, de conhecimentos traduzidos em ações que consigam compatibilizar crescimento com descarbonização, produtividade com energias limpas, mobilidade sem emissões, de mais rendimento e mais qualidade de vida, com melhores empregos e maior saúde pública.
Ao longo do último mandato, dediquei grande parte do meu tempo a esta questão. Tem sido, e continua a ser, um período emocionante para contribuir para o progresso europeu. Recordo que, apesar da pandemia, foi possível aprovar a Lei Europeia do Clima, juntamente com muitas outras medidas legislativas que foram aprovadas desde então, incluindo um relatório que liderei sobre o Quadro de Certificação para a Remoção de Carbono. Foi também um período em que tive a honra de representar o Parlamento Europeu em várias COPs, tendo recentemente chefiado a Delegação do Parlamento Europeu à COP29, cujo resultado surpreendeu muitos pessimistas.
Estou consciente que esta alteração só poderá ocorrer se conseguirmos alcançar uma união de mercados de capitais na Europa, que permita dar escala e volume aos grandes investimentos que precisamos fazer para nos tornarmos mais e mais competitivos com outras economias. Que precisamos muito de desburocratizar e tornar mais ágeis os processos, ao mesmo tempo que combatemos a corrupção. Que precisamos de acelerar as nossas competências na Inteligência artificial e na Computação Quântica pela capacidade exponencial que essas tecnologias providenciam para vencer o gap de conhecimento que precisamos para resolver grandes desafios.
Também não esqueço que vivemos a ameaça de uma guerra às portas da Europa e que precisamos de reforçar o pilar europeu da NATO, tornando a Europa mais forte e resiliente do ponto de vista da defesa face a quaisquer ameaças de futuro.
Eu conheço os europeus. Já estive em todos os Países Europeus, em muitos deles muito mais do que uma vez. Contactei com milhares de pessoas, centenas de empresas, ONGs, Universidades, centros de tecnologia. Conheço bem o potencial e a capacidade dos Europeus para vencerem o futuro. Sei do que somos capazes.
O Futuro da Europa não será, portanto, um futuro entregue aos pessimistas, aos que se resignam, aos que dizem que tudo está mal. Aos populistas ou aos radicais. Aos que ainda suspiram por visões ideológicas de um passado de classes que mais não fizeram do que condenar à miséria sucessivas gerações. O Futuro da Europa será certamente mais verde, mais democrático, com maior dignidade e humanidade, e mais seguro! A Europa sempre esteve por cá. Que o futuro seja o de uma Europa que nos continue a inspirar e orgulhar!