O que a fez avançar para a criação de uma empresa própria? Que desafios encontrou no caminho do empreendedorismo?
Nunca tive a intenção de criar uma empresa própria, aconteceu naturalmente. Comecei a ser solicitada para projetos por parte de amigos, até que fez sentido apostar na criação de algo meu. Nos lugares por onde passei sempre “vesti a camisola” como se as empresas fossem minhas, revertendo em resultados positivos. Isto ajudou-me a ganhar
confiança e, aliado à identidade dos projetos que desenvolvia e à minha visão da arquitetura e design de interiores, decidi avançar. Sempre acreditei no poder transformador dos espaços na vida das pessoas e quis criar um estúdio onde essa filosofia fosse central. Os desafios foram muitos: desde as incertezas iniciais, gestão do tempo,
captação de clientes, a necessidade constante de equilibrar o lado criativo com o tipo de cliente e com o lado estratégico e financeiro. Este caminho tem sido uma montanha russa, com muitos momentos difíceis, horas infindáveis de dedicação e entrega, mas cada obstáculo também tem sido uma oportunidade de crescimento. A própria constituição da minha equipa vai ganhando forma de acordo com a visão e crescimento da empresa. Vai-se ajustando, refinando, por forma a sermos cada vez mais eficientes, sem perder a criatividade e os tempos de reflexão. A criatividade precisa de tempo.
Como caracteriza a Filipa Borges Nascimento, Arquitetura e Interiores? O que destaca a sua empresa das demais?
A nossa abordagem é profundamente personalizada. Valorizamos o processo colaborativo com o cliente e cada projeto é desenvolvido à medida, com atenção ao detalhe, funcionalidade e estética. Não temos um estilo predefinido que impomos ao cliente. Pelo contrário, as nossas propostas adaptam-se ao cliente, numa dança a dois
em que o guiamos através do nosso know-how. De igual forma, valorizamos o processo criativo. A criatividade suporta-se de momentos “uau”, mas também necessita de consumo de revistas, idas a feiras, pesquisa de novas marcas, visitar fábricas, etc. Todo um outro trabalho. Conjugando estes aspetos com a empatia do que ouvimos, na sensibilidade com que interpretamos e na coerência com que materializamos os espaços, é isto que nos caracteriza. É um trabalho emocional, técnico e artístico, em partes iguais.
“A nossa abordagem é profundamente personalizada.
Valorizamos o processo colaborativo com o cliente e cada
projeto é desenvolvido à medida, com atenção ao detalhe,
funcionalidade e estética”.
Numa altura em que se encontra prestes a vivenciar o momento de ser mãe, como avalia este período gestacional, considerando que tem também de estar presente para a sua equipa e a sua empresa?
É um período intenso, com uma elevada carga de stress. Sinto uma enorme responsabilidade para que tudo corra bem com o meu bebé, até porque já tive três perdas gestacionais, mas também sinto uma enorme responsabilidade como líder de uma equipa e de um projeto em crescimento e, principalmente, para com os meus clientes. Tenho procurado viver este momento com equilíbrio, respeitando os meus limites e confiando cada vez mais na minha
equipa. Apesar da gestação estar a ensinar-me a delegar com mais consciência e a valorizar ainda mais a organização interna, a verdade é que o meu plano era passar a fase final deste momento tão importante mais afastada da empresa, mas isso ainda não aconteceu, o que me traz um misto de sentimentos.

Como se organizou para garantir que a sua empresa e equipa não ficarão sem orientação a partir do momento em que for mãe, sobretudo nos primeiros meses após o nascimento do bebé, que são por norma exigentes para mãe e filho?
Ainda estou nesse processo. Comecei a preparar com antecedência, criando procedimentos internos claros e promovendo uma maior autonomia entre os membros da equipa. Existe uma estrutura montada que permite dar continuidade ao trabalho com qualidade, mesmo na minha ausência. Além disso, conto com o apoio de colaboradores-chave em quem confio plenamente. Este planeamento permite-me estar mais tranquila e focada nos primeiros tempos da maternidade, sem colocar em risco o bom funcionamento da empresa. Ainda assim, idealmente a equipa deveria ser reforçada nesta fase que se avizinha, o que não é possível devido à carga de impostos associados, impedindo-me de viver uma licença de maternidade normal, o que admito que me revolta.
A seu ver, que medidas faltam tomar, por parte dos sucessivos governos e do Estado, para garantir que mulheres que têm empresas em pleno funcionamento e vivem a experiência da maternidade conseguem conciliar com calma e serenidade ambos os papéis da sua vida?
Faltam políticas mais ajustadas à realidade das mulheres empreendedoras. O sistema continua muito centrado no modelo tradicional de trabalho por conta de outrem. Seria importante criar apoios específicos para empresárias-mães, como benefícios fiscais, maior flexibilidade nos prazos legais e apoios à contratação temporária durante a ausência por maternidade. Mais do que tudo, é preciso que se reconheça que o empreendedorismo feminino não deve ser um obstáculo à maternidade, nem vice-versa.
Enquanto mulher e profissional, acredita que, para as mulheres, a paridade relativamente aos colegas homens será alcançada a breve trecho?
Vejo progressos, mas ainda há um caminho significativo a percorrer. A igualdade de oportunidades depende tanto de políticas públicas como de mudanças culturais dentro das empresas e da sociedade em geral. Acredito que é possível alcançar essa paridade, mas será necessário continuar a promover o diálogo, a visibilidade das mulheres em cargos de liderança e o combate a preconceitos subtis que ainda persistem. É uma mudança que leva tempo, mas que se constrói todos os dias.









