Gandra: uma freguesia histórica voltada para o futuro

Sílvia Sá Pinto é a presidente da Junta de Freguesia de Gandra, no concelho de Paredes e destaca, sobre esta freguesia, a sua história, as suas atividades económicas e a importante presença do CESPU, enquanto instituição de ensino que moldou, em certa medida, a realidade social de Gandra. Em entrevista, fala ainda da obra feita e da importância de um livro que será publicado em breve, sobre a história desta localidade.

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Como caracteriza a Freguesia de Gandra, demograficamente e a nível de infraestruturas?

A freguesia de Gandra é um território jovem, no qual cerca de 1 em cada 3 habitantes tem menos de 25 anos. É, em população, a quarta maior freguesia do concelho de Paredes e assistiu ao seu maior crescimento, sobretudo, nos últimos 20 anos. Aliás, Gandra é cidade há 22 anos muito graças à presença da CESPU no nosso território, desde 1995, que veio não só dar um contributo muito significativo para o crescimento da dinâmica económica, mas também para a fixação de população. Aliado a este fator, pesa também os equipamentos que a freguesia dispõe, dos quais saliento a existência do Centro de Saúde, do Centro Escolar e do Complexo Desportivo. Já no nosso mandato, construímos o Espaço Civitas, um local com valências de auditório, biblioteca e sala de reuniões; e estão já também
a decorrer as obras para a construção de uma creche, para 60 vagas, que está próxima da sua conclusão; e para a o Parque Urbano, que irá providenciar a Gandra um espaço desportivo e de lazer. E importa referir a heterogeneidade
do comércio e serviços ao dispor da população: desde supermercados e talhos; restaurantes e pastelarias; ginásios e farmácia; banco, gabinetes de serviços contabilísticos e jurídicos; entre muitos outros.

A presença do CESPU em Gandra, é também de destacar, já que garante postos de trabalho, atividade cultural e social na região. Existe forma de medir o impacto criado pela presença desta instituição em Gandra?

Estatisticamente, não temos esses elementos. Mas basta promover o exercício de observar a área circundante do campus em período letivo e comparar com os momentos de interregno para compreender o impacto da presença da CESPU cá. Quem tem memória ou recorre a elementos recordartórios para saber o que era Gandra antes da CESPU, depara-se com uma paisagem completamente transformada e uma vitalidade socioeconómica só equiparável aos grandes centros urbanos. Isto proporcionou a muitos gandarenses oportunidades de criarem os seus próprios negócios, verem os seus imóveis rentabilizados e valorizados e terem contacto com realidades e culturas distintas, o que muito enriquece a nossa população. A CESPU reconhece isto e a sua direção já reconheceu estar comprometida com a população de Gandra.

A distribuição de água ao domicílio, em Gandra, é feita desde há mais de 30 anos pela Junta de Freguesia. As Águas Vivas de Gandra são um património que importa preservar?

Importa preservar, evidentemente, desde logo porque é um serviço essencial para a população, razão pela qual, face à sua ausência, a Junta de Freguesia tomou a iniciativa de desenvolver a rede de distribuição de água ao domicílio. Fá-lo de forma muito competente e estamos empenhados em que a prestação deste serviço seja o melhor possível, considerando que a água é um bem essencial à vida humana e a construção desta rede também contribuiu para o desenvolvimento da freguesia.

Hoje é dado como garantido que as Águas Vivas de Gandra são património da freguesia, mas importa que estas continuem a ser promovidas de forma profissional, no estrito cumprimento das normas legalmente estabelecidas, para assegurar a sua subsistência. O subsistema de água da nossa freguesia foi construído com muito sacrifício da população mas hoje gera externalidades muito positivas para a comunidade, conferindo desde logo o usufruto do serviço a um preço mais baixo comparativamente aos territórios vizinhos, mas também a arrecadação de receitas
extraordinárias, provenientes da própria freguesia, que voltam a ser aplicadas cá, sob a gestão autárquica da Junta, e que proporciona uma capacidade distinta de atender às suas expectativas e reivindicações.

O facto de a rede de distribuição de água ser da responsabilidade da Junta de Freguesia é um fator de confiança neste órgão político, por parte da população?

A água não pode faltar ou chegar com má qualidade às pessoas, porque para além de provocar constrangimentos graves no seu dia a dia, pode representar um sério problema de saúde pública. Precisamente por isto, promovemos, no nosso mandato, dois importantíssimos investimentos: a telegestão, que nos permite acompanhar, em tempo real, a situação de captação e armazenamento de água e todas as anomalias que possam surgir, bem como assegura automaticamente o tratamento a que a água tem de ser sujeita, depois de captada; e a ligação em alta à empresa da Águas do Douro e Paiva, para salvaguardar que se por qualquer circunstância as captações não forem capazes de dar resposta às necessidades da freguesia, a água não deixa de chegar a casa das pessoas.

Está para breve o lançamento de um livro sobre Gandra. Quem são os autores e quais os temas em destaque?

Este não é um livro qualquer: é a primeira monografia histórica sobre a freguesia de Gandra, intitulada “São Miguel de Gandra ao longo da História: da época medieval ao período contemporâneo”, e foi elaborada sob o rigor e a
exigência da academia. Precisamente porque a informação histórica da nossa freguesia era escassa e este era o primeiro trabalho científico a ser desenvolvido, entendemos endereçar o convite ao CITCEM, da Universidade do Porto, do qual aceitaram o desafio a Doutora Carla Sequeira e a Doutora Joana Lencart. Somos uma freguesia de profunda tradição agrícola, mais concretamente na produção do milho, e de realidade feudal, como é exemplo a Casa da Lousa e a família Moreira, que se encontra em Gandra pelo menos desde o início do séc. XVII. Foi também um território palco de fenómenos de dimensão nacional, como é a passagem das segundas invasões francesas; uma das maiores batalhas da Guerra Civil, entre liberais e absolutistas, na qual se confrontaram 22 mil homens; e as tensões entre a igreja e o poder político, após a implantação da República.

Acreditamos que se estes conteúdos forem também divulgados junto dos mais novos, no ensino da história, esta tornar-se-á muito mais interessante para eles.