Susana Serrano recebeu a equipa da Valor Magazine no espaço reservado a reuniões, no open space que partilha com as equipas de vendas – nacionais e internacionais – design e operações: “Faço questão de estar aqui, com todos os colaboradores”. Estava lançado o mote para a conversa que se seguiu.
A atual CEO começou a trabalhar na Adalberto há um ano e meio: “Chamaram-me para a Comissão Executiva, da qual faziam parte os acionistas – o engenheiro Mário Jorge e a Dr.ª Ana Paula – que são filha e genro dos fundadores da empresa – o Jorge Machado, o meu antecessor na função de CEO e neto dos fundadores, e três administradores – eu, com o pelouro das Operações, outro com as Vendas e um terceiro com a pasta Administrativo-Financeira. Como a ambição da empresa sempre foi crescer e conquistar outros mercados, Jorge Machado dedicou-se a essa tarefa e eu acabei por assumir as funções de CEO, desde julho deste ano”.
Uma liderança próxima e baseada no exemplo
Para Susana Serrano, o mais difícil de gerir são as pessoas, mas a responsável pela Adalberto garante que o segredo para uma liderança de sucesso passa por saber ouvir e envolver os colaboradores nos objetivos da empresa: “É fundamental que todos se sintam motivados a atingir determinados objetivos, é por isso que o papel do gestor passa por deixar claras a estratégia e respetivas diretrizes e motivar os colaboradores a alcançarem os resultados”.
“O PAPEL DO GESTOR PASSA POR DEIXAR CLARAS A ESTRATÉGIA E RESPETIVAS DIRETRIZES E MOTIVAR OS COLABORADORES”
A CEO reconhece, também, que para que os resultados profissionais surjam, é muito importante que os colaboradores estejam realizados a nível pessoal: “É um orgulho trabalhar numa empresa que leva realmente a sério a implementação da responsabilidade social. Todos nós conversamos, conhecemo-nos e eles sabem que podem contar comigo para tudo. Se tiverem um problema familiar, eu prefiro que vão para casa, resolvam tudo, restabeleçam o equilíbrio e depois voltem”.
Quando questionada sobre se o facto de ser mulher tinha alguma influência na sua posição, Susana Serrano foi perentória: “Desde o início da minha carreira, que começou na área da construção civil, nunca me senti discriminada por ser mulher, mas assumo que, aquando do nascimento da minha primeira filha, senti que quando regressasse ao trabalho, poderia já não ter o meu lugar assegurado. A sociedade portuguesa ainda depende muito de quem lidera as empresas e, infelizmente, as mulheres não têm a mesma facilidade para alcançar cargos de liderança em qualquer área profissional. Há áreas mais acessíveis que outras, como é o caso da têxtil”.
“AS MULHERES NÃO TÊM A MESMA FACILIDADE PARA ALCANÇAR CARGOS DE LIDERANÇA EM QUALQUER ÁREA PROFISSIONAL”
Um exemplo de inovação e sustentabilidade
Com uma equipa de 400 pessoas a seu cargo, sendo a maioria mulheres, Susana Serrano reconhece que a sensibilidade é um dos pontos fortes: “As mulheres ligam aos detalhes. A sua perceção das cores é diferente da masculina, e isso foi comprovado por testes recentes, aqui na empresa”. A área têxtil é dominada por mulheres, mesmo quando se trata de moda masculina.
A juntar à equipa especializada e qualificada, a Adalberto tem no seu ADN de empresa a constante vontade de estar um passo à frente de todos: ” Tudo o que desenvolvemos vai nesse sentido, como o projeto de sustentabilidade – que apresentaremos no final do ano e que irá influenciar todo o processo produtivo – desde a compra da matéria-prima, passando pelas máquinas utilizadas e pelos processos realizados. Para nós, não faz sentido comprar matéria-prima reciclada se depois a formos estampar com tintas que são tóxicas. O processo todo deve ser mais amigo do ambiente, do consumidor e do próprio colaborador da empresa”.
A Adalberto já reduziu o consumo de água de uma das suas máquinas de tingimento de 1000 para 250 quilos de água e está à procura de uma solução para reutilizar a soda cáustica que utiliza.
A inovação é outro pilar desta empresa, que trabalha com marcas private label e fast fashion e tem clientes em todo o mundo: “Temos muitos clientes nos Estados Unidos da América e acabámos por desenvolver um acabamento para roupas desportivas com canibidiol. É um acabamento à base de microcápsulas, colocadas no banho de acabamento, onde se colocarão os tecidos. As fibras irão absorver esse composto. Quando a roupa entrar em contacto com a pele, e existir fricção, esse princípio ativo é libertado e as dores musculares, bem como o cansaço, serão aliviados”.
Susana Serrano lembra, orgulhosa, que a Adalberto Estampados é uma empresa que trabalha com todos os processos de estampagem: “Além do processo de estamparia feito nas máquinas convencionais, adquirimos em 2016 uma máquina digital que tem uma capacidade de impressão e uma qualidade incomparável”. Isso assegura à empresa tirsense a capacidade de responder aos prazos de entrega apertados que são um dos principais requisitos das marcas de fast fashion e private label: “Atualmente produzem-se cerca de 4 a 10 coleções, porque os consumidores mudaram e existe uma compra impulsiva e de oportunidade que, antes, não se verificava”.
A Adalberto tem três pilares fundamentais – inovação, responsabilidade social e sustentabilidade.
É esta atenção constante ao mercado e a pesquisa incessante que garantem a esta empresa uma capacidade de estar sempre à frente: “Aproveitamos as oportunidades. Sabemos ver onde podemos ser mais úteis ao mercado, mesmo em tempo de crise e eu acredito que o segredo é esse – um equilíbrio perfeito entre a constante insatisfação, a vontade de crescer e a capacidade de descobrir novas formas de o fazer”.