O que a fez apostar nestas peças típicas alentejanas e modernizá-las, adaptando-as ao género feminino?
O capote e a samarra alentejanos eram peças quase exclusivamente usadas por homens. Tradicionais e com forte identidade cultural foram, apesar de tudo, perdendo fãs e quase só no mundo rural mantiveram os seus fiéis apaixonados. As mulheres que cultivavam esta paixão aceitavam o seu corte pesado e masculino. Para contrariar esta realidade, apostámos num capote com design mais moderno, feminino, leve, curto e colorido, conciliador entre tradição e inovação. O Inverno de 2013 ficou marcado pelo regresso do capote alentejano às ruas da cidade, vestido por mulheres de todas as idades. O sucesso imediato da nossa primeira coleção comprovou que a ideia foi notável e encorajou-nos a avançar.
Como caracterizaria a coleção que irá ser apresentada em setembro?
As consequências da pandemia da Covid-19 sentidas por todos nós obrigam-nos a dedicar ainda mais atenção à cadeia de valor que assenta na produção nacional. As nossa peças são desenhadas e produzidas no nosso atelier, de forma personalizada, por medida e unicamente com matérias-primas portuguesas. Este é o foco da próxima coleção. Recordar que os portugueses têm arte, mestria e sabem fazer bem em muitos setores e o têxtil é um deles.
Por que peças é constituída?
À semelhança das duas anteriores, a coleção Outono/Inverno 20-21 conta com capote e samarra em versão tradicional, para senhora e homem, e em versão inovadora, com cores vibrantes. A capa tradicional desfila ao lado de outras com design mais arrojado e detalhes diferenciadores. Peças mais leves, de meia estação, os xailes, encharpes, coletes, ponchos e uma linha de acessórios a condizer, composta por chapéus, mochilas, pastas, bolsas e porta-chaves. Também a nossa coleção júnior de capote, samarra e capa.
Pegar em peças tradicionais do vestuário português e dar-lhe um novo design e modernidade é desafiante?
Desafiante, pois o compromisso com a tradição envolve grande dose de responsabilidade. Inovar é não desvirtuar. Equilibrar tradição e inovação requer perícia e paixão, contamos com ambas para evoluir todos os dias. Os materiais que utiliza na confeção das peças são nacionais e sustentáveis. Estas são duas características obrigatórias nos materiais com que trabalha? Trabalhamos com burel e tecidos 100% lã, produzidos em Portugal. Nos forros, utilizamos algodão, vaiela, viscose e cetim. Botões, fivelas, linhas, entretela, fitas de viés, agulhas, alfinetes, etiquetas, tudo nos é fornecido por empresas nacionais.
Os locais escolhidos para as sessões fotográficas de apresentação das coleções são elucidativos da tradição. Isso é fundamental para integrar a peça e tirar o máximo partido da sua função?
Todas as coleções da Capote’s Emotion ligam as nossas peças aos saberes e sabores do Alentejo. Fazemos peças inspiradas no vinho, no azeite e no mel, no Cante e na olaria pedrada de Nisa, no figurado de Estremoz, no Chocalho e na Manta de Reguengos e muitos outros… Não deixámos, no entanto, de levar o capote ao resto do país e a nossa coleção de 2017/18 foi fotografada de Sagres a Peso da Régua, em parceria com as Pousadas de Portugal e revelou-se uma experiência enriquecedora.
Parece-lhe que, nos próximos tempos, a retoma económica vai acontecer?
Estamos a viver momentos novos e pesados e, mais uma vez, temos de usar a capacidade de superação que possuímos e da qual já demos tantas provas ao longo da nossa história. Não duvido que sairemos vencedores desta dura batalha. Fundamental agora é repor a confiança e ter coragem para lidar com a incerteza. A economia nacional pede com urgência uma reformulação estrutural profunda, mas esta é uma questão que, utilizando linguagem de costura, daria pano para muitas mangas…
Que mensagem gostaria de deixar para incentivar o consumo de produtos nacionais?
Se fizermos agora o melhor com o que somos e com o que temos, certamente faremos muito, como sempre. Fica o apelo que é também o mote da nossa coleção 2020-2021, compre português porque é FEITO POR NÓS.