JBI Group: o lado tropical do Algarve

Dedicado à produção de frutos vermelhos, abacate e mirtilo, é ao longo da costa de Tavira que encontramos o JBI Group, um grupo de empresas fundado por João Bento Inácio, que vê hoje o abacate ser a mais recente aposta do Algarve. Com um projeto que promete ultrapassar os 400 hectares, a revista Valor Magazine foi experienciar o projeto, e perceber quais as verdadeiras medidas a tomar para combater a escassez da água no futuro.

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Começando com um projeto de 3000m2 , focado na plantação de hortícolas, João Bento Inácio desde cedo se sentiu destinado à vertente agrícola e foi ao longo das décadas aumentando gradualmente os níveis de produção. Um projeto que já trazia frutos internamente, ganhou outra proporção com a abertura das fronteiras no mercado português e surgiu a oportunidade de organizar a produção em quantidades significativamente maiores. Hoje é por hectares que mede o seu terreno, e tem a certeza de que se existe diferença relativamente aos tempos iniciais da sua carreira, esta vê-se no reconhecimento da qualidade do produto português:

“Hoje há uma promoção muito mais eficaz do nosso país e do que produzimos, apesar de haver ainda margem de progressão. A nossa aposta tem que ser na qualidade, é o que nos diferencia. Não devemos tentar competir massivamente com países vizinhos, como Espanha e França, mas apostarmos no reconhecimento que o cliente terá no nosso fruto. Só assim conseguiremos ter sucesso no mercado atual, seja nesta área ou noutra qualquer”, assegura o empresário e agricultor.

“a nossa aposta tem que ser na qualidade, é o que nos diferencia”

Um projeto que não pára de crescer

Com a plantação da cultura da framboesa estabilizada ao longo da última década, com cerca de 35 hectares, o CEO da JBI Group tomou a decisão de investir numa outra cultura: “No ano de 2014 introduzimos o abacate, estendendo o mapa de produtos subtropicais. Esta aposta deve-se a uma enorme procura que tem havido nos últimos anos, e tem complementado perfeitamente outras culturas que já se faziam”. Quando questionado sobre se há condições para se produzir de forma eficiente frutos tropicais na região, João Bento Inácio foi perentório: “Temos condições muito, muito próximas do ideal para fazer o abacate. O resto da Europa não tem essas condições, excetuando uma ou outra zona. Mesmo em Portugal é um risco enorme tentar a produção do mesmo, fora do sul do país”, assegura. A verdade é que o projeto que o empresário iniciou há cinco anos conta hoje com mais de 165 hectares, e promete passar os 200 até meados de 2020.

Admitindo que “hoje é muito mais tentador apostar na agricultura” do que no passado, João Bento Inácio explicou como a crise económica serviu de “contraciclo para a agricultura, depois de ter atravessado grandes dificuldades”. Atualmente, o setor agrícola é visto como um setor muito mais seguro e fiável, mesmo pelas instituições bancárias, que garantem maior acesso ao crédito: “Hoje trabalha-se com juros muito baixos, quando são apresentados projetos com potencial. Para não falar das questões técnicas e de equipamentos, que hoje fazem com que se gaste muito menos recursos, e simultaneamente se produza muito mais”, relata.

Alterações climáticas: que medidas tomar?

Foram muitas as novidades que surgiram no setor agrícola ao longo do séc. XXI, modernizando-o em diversas vertentes, mas também existem novas problemáticas. Com as alterações climáticas a apresentarem-se de forma cada vez mais imprevisível, o empresário português confessa o que o assusta mais em todo este processo: “O que me deixa assustado é a inoperância do Governo e a falta de ações das instituições públicas, que têm a responsabilidade de tratar de um assunto que todos nós conhecemos e ouvimos falar diariamente: a água. A questão não passa por reconhecer o problema, mas sim fazer algo relativamente a isso e pensar a médio-longo prazo. É necessário uma agricultura que use eficientemente a água, que crie emprego e tenha um retorno económico e social importante para o país; que está direcionada para a exportação, contribuindo para o equilíbrio da balança comercial. Temos de combater as ineficiências, as perdas de água das condutas obsoletas que fornecem o consumo público – algumas com perdas de 50% – temos de usar com eficiência a água que rega os jardins e os espaços públicos, entre outras medidas”.

“o que me deixa assustado é a inoperância do Governo, e da falta de ações das instituições públicas”

Não vendo ainda nenhuma solução estrutural para as águas do Algarve, João Bento Inácio apresenta nada menos que três medidas para minimizar os danos provocados pelas crescentes alterações climáticas: “O problema assusta muita gente nos dias de hoje, mas já vem de há muitas décadas. A minha experiência diz-me que a primeira medida seria a criação de uma nova barragem na região, projeto esse que até já foi estudado mas nunca posto em prática.” E acrescenta: “As outras duas medidas passariam – e creio que são soluções que chegarão inevitavelmente – pela reutilização das águas residuais e pela dessalinização da água do mar”.

“a primeira medida seria a criação de uma nova barragem na região; as outras duas medidas passariam pela reutilização das águas residuais e pela dessalinização da água do mar”

O proprietário do JBI Group realça ainda que o que está em causa não é o setor agrícola, mas sim todo o consumo humano: “Precisamos de uma perspetiva que olhe para os dias de amanhã. Resolver só os problemas do presente já não é suficiente. Com o aumento do consumo de água, quer pela agricultura quer pelo turismo, é urgente investir no presente para resolvermos problemas no futuro a médio e longo prazo”.

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