No momento que vivemos hoje, não falar sobre coronavírus ou Covid-19 não é um ato de rebeldia. Trata-se da necessidade que sinto de falar e ouvir falar sobre outras coisas.
Também não falarei para julgar comportamentos de uns ou elogiar a nobreza e dedicação de outros, não que não o mereçam, mas porque sinto necessidade de fugir de uma narrativa que vem sido repetida à exaustão.
Vou então falar sobre o futuro e o que julgo ser um novo paradigma de viver em comunhão, quando nos for dada ordem para nos reunirmos de novo.
Os grandes críticos da comunicação remota, da forma como os mais jovens e os mais tecnológicos comunicam entre si, confrontam-se hoje com a obrigatoriedade de recorrer à tecnologia para comunicar, informar, comprar ou vender, trabalhar, ou numa palavra, viver.
Tornou-se motivo de grandes preocupações a “dessocialização” que as redes ditas sociais estavam a gerar, promovendo um contacto tão remoto quanto permanente. Os jovens de hoje já não vão para casa socializar com a família porque continuam ligados aos amigos, os que conhecem e os virtuais. Os pais desses jovens, terminado o rápido jantar, aproveitam para ver o que se passa na vida da sua “rede” e dar as suas opiniões, usando a oportunidade que existe de, finalmente, serem ouvidos por uma multidão invisível.
Mas, não fora a existência dessas redes, estaríamos mais isolados, num momento em que se promove o isolamento social como mecanismo eficaz de proteção da nossa saúde. Não nasci na época millenial, mas faço parte daqueles que assimilaram os novos meios de comunicação e de acesso ao mundo, que utilizo diariamente. E por esse motivo sinto que estou menos isolado, ainda que protegido.
O futuro de que vos quero falar é o que resulta do que somos enquanto animais sociais, depois de termos de viver tão isolados. Assusta-me ver que é difícil para tanta gente partilhar o espaço com a sua família. Assusta-me perceber que a paciência se esgota por ter de dar atenção aos filhos de modo tão intenso. Sempre achei exagerada a estatística que evidencia um pico de separações de casais durante as férias e que agora têm de estar confinados ao mesmo espaço, 24 sobre 24 horas.
Não reclamo para mim o papel de homem perfeito, de pai inexcedível ou de marido extremoso. Tenho uma experiência de vida de um casamento, daqueles que já vão longos, mas “que ainda parece que foi há pouco tempo”.
Isso não faz de mim um herói, mas permite-me acreditar que, num momento em que a instituição “família” e a vida em sociedade estão ameaçadas como nunca estiveram, é fundamental abdicarmos do nosso “eu” e esforçarmo-nos por pensar em “nós”.
Ao fazê-lo, torna-se mais fácil construir um futuro onde vamos sair mais fortes, mais unidos e olhando mais para os outros, sabendo que viver em sociedade é a forma que os homens e mulheres têm para construir uma comunidade única, num planeta que queremos que continue a ser azul.