Que impacto se espera que este mosteiro tenha, para o concelho de Miranda do Douro?
Antes de avaliarmos do impacto da construção do Mosteiro, em Palaçoulo, temos de ter como pressuposto o respeito pela forma de vida dentro do Mosteiro. Há a vida dentro do Mosteiro que vai ficar totalmente alheia à dinâmica que se irá gerar no exterior. Certamente, se nos focarmos no movimento de pessoas que se gerou
ao longo destes anos de construção do Mosteiro, é de esperar um crescimento na procura do lugar. Houve, desde o início a preocupação de criar as condições de acomodação das Monjas, num edifício anexo ao Mosteiro, que permitiu a sua permanência no território e o acompanhamento da obra do edifício principal. E a partir daí criou-se a dinâmica na hospedaria, na loja de venda dos produtos e na Capela. E assistiu-se ao crescimento da procura do lugar. O complexo no seu conjunto é um lugar de grande apelo religioso, um lugar de paz e de muita tranquilidade, onde, certamente, as características de quem o procura irão ao encontro dessas particularidades. Será um acréscimo de valor à oferta da riqueza religiosa que a região tem.
“O complexo no seu conjunto é um lugar de grande apelo religioso, um lugar de paz e de muita tranquilidade, onde, certamente, as características de quem o procura irão ao encontro dessas particularidades”.
Qual foi o papel da Câmara Municipal no que concerne à construção deste mosteiro?
A Câmara Municipal apoiou a construção do Mosteiro na emissão dos licenciamentos, também na criação das infraestruturas do fornecimento de água e na criação do acesso viário, com o desenvolvimento de uma via de dois sentidos, tendo negociado com vários particulares, ao longo do percurso, para cederem uma parte dos seus terrenos, para a necessária largura da via. Fez-se uma primeira intervenção no alcatroamento da via, mesmo a tempo da inauguração do Mosteiro. Não houve, por conseguinte, um investimento do qual a Câmara Municipal espere um retorno. O investimento da Ordem Trapista de Santa Maria da Igreja foi de extrema grandeza para o território e esperamos, naturalmente, que a vida dentro e fora do Mosteiro, seja agregadora do espírito religioso que lhe subjaz, da comunhão de valores e princípios, motivadora para novas vivências.
O mosteiro beneficia de uma hospedaria, que servirá também para conseguir algum rendimento para a sua comunidade de monjas. No entanto, que impacto terá no turismo religioso da região?
O turismo religioso é uma forte vertente do turismo, aqui em Miranda do Douro, em todo o território de Trás os Montes e em Portugal. Creio que no território ainda está por explorar. Sentimos o enorme impacto que a Catedral de Miranda tem em termos de visitação, com um número muito elevado de de turistas, mas a riqueza religiosa do edificado da Igreja é muito grande. Será necessário criar rotas religiosas, criar programas que deem a conhecer estes lugares de culto. A Câmara criou, ao longo deste último mandato, um ciclo de concertos de música que se têm concretizado nas Capelas e nas Igrejas das aldeias e na cidade, uma forma de levar a cultura a esses lugares e também dar a conhecer o património religioso. O Mosteiro poderá num futuro próximo ser um lugar para um concerto. Tem um potencial enorme, tanto na Capela, como no exterior. É algo que poderá vir a concretizar-se, mas teremos sempre que ter em conta a vontade das Monjas.
“O turismo religioso é uma forte vertente do turismo, aqui em Miranda do Douro, em todo o território de Trás os Montes e em Portugal. Creio que no território ainda está por explorar”.
Como serão, agora, as monjas e o mosteiro integrados na comunidade populacional de Miranda do Douro? Serão integradas nas festas religiosas e nas festas tradicionais, como aquelas ligadas às iguarias da região, onde poderão também dar a conhecer os seus produtos de produção própria?
O Mosteiro Trapista de Santa Maria da Igreja é um Mosteiro, como tal, exige-nos um total respeito pela vida das Monjas e, qualquer relação que se venha a gerar com o exterior será sempre desencadeado pela sua vontade. A hospedaria está disponível para quem a procure, os produtos que vão ser elaborados vão estar à venda na loja do Mosteiro e, quando a produção aumentar, certamente teremos esses produtos à venda em várias lojas em Miranda e, até, nas nossas Feiras e Certames Gastronómicos. Apesar da sua forma de vida e do respeito que nos merecem, está a gerar-se uma dinâmica muito interessante que, ao longo do tempo, poderá gerar uma economia de valor.
Este é o primeiro mosteiro desta Ordem em Portugal. O que motivou a sua construção em Palaçoulo?
A construção do Mosteiro em Palaçoulo, sendo uma escolha da Ordem Trapista de Santa Maria da Igreja, em que o atual Arcebispo de Braga, D. José Cordeiro, à data Bispo da Diocese de Bragança Miranda, teve um papel de enorme relevo, foi uma proposta que foi acolhida de braços abertos pela população de Palaçoulo, em particular, e pela população do Concelho. Quase num tempo recorde se juntaram e trocaram terras, se fizeram as respetivas escrituras e se iniciou o processo de licenciamento. Num contexto tão conturbado que vivemos, com guerras, catástrofes naturais a ocorrer de forma cada vez mais impactante e dura, nascer um lugar como o Mosteiro Trapista de Santa Maria da Igreja é quase antagónico, mas dá-nos a esperança que os lugares de paz são possíveis.