“Os desafios geopolíticos que enfrentamos exigem uma UE mais competitiva”

A Europa tem, hoje, problemas de vária ordem para resolver, sobretudo no que concerne à competitividade e industrialização. Paulo Rangel, atual Ministro dos Negócios Estrangeiros, destaca o posicionamento da União Europeia face a estas duas questões e a importância de Portugal para as relações externas europeias.

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Como avalia a importância destes dois tópicos – competitividade e industrialização – para a Europa enquanto comunidade e para os países que a integram, nomeadamente Portugal?

A competitividade e a industrialização são essenciais ao futuro da Europa e à sua ação no mundo. Por isso mesmo, a Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, encarregou os ex-primeiros-ministros italianos Enrico
Letta e Mario Draghi de elaborarem relatórios sobre o futuro do mercado único e a competitividade europeia. Só através de um mercado único verdadeiramente integrado, e que se estende também à União de Mercados de Capitais – e onde a Comissária portuguesa, Maria Luís Albuquerque, terá um papel central –, garantiremos a
competitividade europeia num panorama global cada vez mais desafiante.


A Europa está a atravessar uma época única, considerando as guerras que influenciam o espaço europeu e as relações externas desta comunidade. Como se pode a Europa posicionar sobre as mesmas, tendo em conta as mudanças políticas noutros países e que impacto estes conflitos têm na economia europeia, direta e indiretamente?

A invasão da Ucrânia pela Federação Russa despertou a Europa para a necessidade de investir na sua defesa e de desenvolver uma base industrial de defesa, de que a nossa própria indústria pode beneficiar. Trouxe também a consciência de que não podemos protelar o alargamento da União Europeia, sob pena de deixarmos os Balcãs Ocidentais, a Ucrânia e a Moldávia à mercê dessas potências revisionistas. Não devemos, tampouco, descurar o potencial económico para as empresas nacionais da reconstrução da Ucrânia e a questão da soberania alimentar europeia, que seria definitivamente resolvida com a entrada da Ucrânia, celeiro do mundo, na UE. Por fim, devemos também procurar aprofundar as nossas relações com o resto do mundo, devido às clivagens a que assistimos no sistema internacional, e Portugal está numa posição privilegiada, pois os laços que nos unem a todos os continentes são partilhados por muito poucos países europeus, por isso temos um papel central na concertação a nível europeu sobre as relações que mantemos com diferentes geografias.

Quais os pontos fundamentais da política europeia que serão cruciais para, em 2025, a Europa conseguir crescer e alavancar a sua economia? Quão importante é a política externa, atualmente, para o futuro da UE e dos seus países-membros?

Os desafios geopolíticos que enfrentamos exigem uma Europa mais capaz e mais competitiva, que seja capaz de mobilizar e alavancar investimento público e privado num conjunto de setores-chave, como a investigação e a inovação, num momento em que são claras as oportunidades – e os desafios – da inteligência artificial. Precisamos, por isso, e à luz das necessidades do alargamento e do reforço do investimento em defesa, de preparar a União para o futuro. Em paralelo com o processo de alargamento, devemos proceder a reformas institucionais e financeiras, e as discussões em torno do próximo Quadro Financeiro Plurianual apontam já para a criação de
novos recursos próprios e de um “PRR para a defesa”, a que os próprios países tipicamente mais ortodoxos já se mostram abertos.