A Ana é Diretora de Recursos Humanos da PSA Retail. Fale-me um pouco sobre o seu percurso profissional e as dificuldades que sentiu para alcançar uma posição de liderança.
Sou licenciada em Engenharia Industrial pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, formação que complementei com um PARH na Católica Lisbon Schoolof Business & Economics. Entrei para o Grupo PSA em 2001, onde trabalhei diretamente com o importador e com o retalho próprio da Marca Peugeot.
Em 2008, o grupo PSA iniciou um processo de integração das Marcas, tendo sido os Recursos Humanos, uma das primeiras Direções a trabalhar em Corporate as Marcas Peugeot e Citroen.
Desde então, e com esta nova politica organizacional, que as minhas funções me permitiram garantir uma maior proximidade com as várias entidades do Grupo, nas diferentes moradas (importadores e retalho), e consequentemente com as pessoas e com as distintas culturas das Marcas. Foi imperativo adaptar-me e reinventar-me permanentemente.
Nestes cerca de 10 anos, foi necessário harmonizar procedimentos e implementar um modelo de conciliação entre as pessoas, porque efetivamente existiam algumas diferenças.
“O MAIOR DESAFIO FOI A ADAPTAÇÃO À CULTURA DE CADA EMPRESA”
Considero fundamental conhecer as pessoas com quem se trabalha e o facto de estar nos Recursos Humanos há uns largos anos foi determinante, para esse objetivo e também na identificação interna das diferentes necessidades. Por isso, quando os retalhos se fundiram em 2018, e foi criada a PSA Retail Portugal, eu tinha muito claro, o trabalho que teríamos, entretanto, que desenvolver.
É IMPORTANTE CONHECER A REALIDADE DE CADA UM, AS EVENTUAIS NECESSIDADES, AS CARACTERÍSTICAS DE CADA PESSOA, PARA QUE SEJA POSSÍVEL CONVERGIR PARA UM AMBIENTE PROFISSIONAL EQUILIBRADO E SAUDÁVEL
Todo este processo leva o seu tempo, já que o trabalho desenvolvido pelos RH é também e em grande parte de back office, ou seja, corre lado a lado uma carga administrativa necessária, mas muito intensa – mas que consegui gerir durante estes anos. Não posso dizer que tenha sentido grandes dificuldades. As mudanças foram acontecendo de forma natural.
A ÁREA DOS RECURSOS HUMANOS É MUITO DIVERSIFICADA E DINÂMICA, POIS TRATA DE TODOS OS PROCESSOS RELATIVOS AO RECRUTAMENTO E SELEÇÃO, TRAINNING, PAYROLL, REPORTINGS DE GRUPO E REPORTINGS GOVERNAMENTAIS, HEALTH AND SAFETY, DESENVOLVIMENTO E GESTÃO DE CARREIRAS, RESPONSABILIDADE SOCIAL….!
Obviamente que esta atividade tem muitos desafios, tem algumas situações mais difíceis de gerir, mas gradualmente tudo tem vindo a funcionar.
Uma vez que temos sucursais espalhadas por várias zonas do país, faço questão de me deslocar entre sucursais, para que as pessoas percebam que os Recursos Humanos são próximos, ainda que a nossa sede seja em Carnaxide. Faço questão de manter essa proximidade e por isso costumo dizer que nos Recursos Humanos trabalhamos de “portas abertas”.
Parece-lhe que o facto de ser mulher pode ajudar, muitas vezes, à ideia da proximidade e na sensibilidade para lidar com as pessoas?
Eu não relaciono o facto de estar nesta função com o género, mas sim com o modelo de gestão com o qual me identifico e acredito. Podia ser um homem, e eventualmente seria igual. Os valores que mais prezo e que na minha opinião constroem melhores equipas e organizações, são a confiança, o conhecimento e a partilha, e conheço colegas – homens – que têm uma forma de trabalhar semelhante à minha.
Culturalmente somos um país que sempre colocou mais homens em cargos de chefia, do que mulheres. Mas o resultado da nossa historia, ensina-nos a mudar e neste momento estamos a trabalhar no aumento do número de mulheres, em algumas funções. Porém eu acredito no equilíbrio. É na junção dos dois géneros que encontro o melhor.
Na PSA Retail, e tendo em conta a nossa área de negócio – os automóveis – é compreensível ter mais homens a trabalhar que mulheres – ainda assim, já contamos com uma mulher mecânica a trabalhar connosco sendo que maioritariamente as outras mulheres ocupam funções na parte administrativa e de vendas.
Aliás, quando recrutamos e selecionamos, tenho essa preocupação, de equilibrar os géneros, pelo menos numa fase inicial das candidaturas. Todavia, não lhe posso dizer que seja um fator determinante, pois no final interessa-me sempre mais o candidato que reúna mais skills que se adequam verdadeiramente à função. Não escolho porque é homem ou mulher, escolho quem acho que será melhor para a organização.
Que conselhos daria aos jovens – especificamente mulheres – que estão no início da sua carreira e que procuram ainda o seu espaço nas empresas?
O mais importante para o sucesso é gostarmos verdadeiramente daquilo que fazemos. Se tivermos paixão pelo nosso trabalho é muito mais fácil conseguirmos fazer com que tudo corra bem, pois as ideias fluem, os projetos multiplicam-se e o tempo parece nunca chegar, porque queremos sempre fazer algo mais. O esforço transforma-se em força e vontade.
Aliado a isso, é precisa muita dedicação. Temos de nos esforçar, de dar muito do nosso tempo, manter o foco, priorizar, e muito importante nos dias que correm, mantermo-nos permanentemente atualizados. Com esta mistura de ingredientes, os resultados e os reconhecimentos certamente vão chegar.
É preciso sim dar tempo ao tempo, os jovens têm que aprender e ter essa disponibilidade e paciência, pois de facto não se chega em poucos anos ao topo de carreira. Tudo leva o seu tempo. Desenvolver as ideias e apostar na criatividade é também muito importante, pois é das poucas coisas que as máquinas ainda não fazem por nós.
O melhor que lhes posso dizer é que mantenham sempre o foco, assegurem-se que desenvolvem um trabalho de qualidade e esperem pela sua oportunidade. Ela há-de surgir!