Sempre quis ser empreendedora? Por que razão resolveu apostar neste espaço e atribuir-lhe um conceito amplo de eventos, team building e convívio com os animais e a natureza?
Nunca pensei propriamente em ser empreendedora, mas também nunca pensei o contrário. Cresci numa família onde o empreendedorismo era algo natural, quase instintivo. Por isso, nunca o vi como uma escolha arrojada ou fora da norma, mas sim como um caminho possível, até orgânico. Foi há cerca de 12 anos que tudo começou a acontecer com mais força. Eu e o Pedro, o meu marido, criámos a Mercearia da Aldeia, uma marca de produtos gourmet.
Estávamos a atravessar um momento de incerteza, o Pedro estava sem trabalho e decidimos arriscar. Ele estava com muitas incertezas, mas lembro-me de lhe dizer: “Se correr mal, comemos o stock!” Felizmente, nunca foi preciso. Tirando durante a pandemia, claro, em que os nossos principais clientes, hotéis, restaurantes e lojas gourmet fecharam portas. Mas mesmo nessa altura, nunca deixámos de acreditar.
Foi precisamente durante a pandemia que nasceu o Pátio do Tejo. Vivemos há cerca de 10 anos numa quinta perto da praia fluvial do Rosário. O amor do Pedro pelos cavalos vem de longe. E foi da junção entre o amor pelos cavalos e a minha paixão pelo turismo que nasceu este projeto.
Desde o início, sabíamos que queríamos criar algo que marcasse as pessoas. Mais do que um serviço, queríamos oferecer uma experiência transformadora, um lugar onde as pessoas pudessem abrandar, respirar fundo e conectar-se consigo mesmas e com a natureza. Abrimos portas a 15 de agosto de 2020, em plena pandemia. Lembro-me perfeitamente das nossas primeiras clientes: duas turistas polacas que reservaram online. Foi como um sinal do universo de que estávamos no caminho certo.
Desde então, tudo cresceu com muita alma. Os team buildings surgiram com o mesmo propósito dos passeios a cavalo: promover ligações genuínas, fortalecer equipas, trabalhar a comunicação e lembrar que todos contam.
Acredito mesmo que uma equipa é como um puzzle — cada peça é essencial. Em 2021, abrimos a Flor do Caia, a nossa loja de acolhimento, onde cada visitante é recebido com carinho e pode levar consigo uma recordação simbólica do Pátio.
E em 2024, demos mais um passo no sonho: abrimos as duas primeiras Casas do Pátio em regime de alojamento local. Hoje, conseguimos proporcionar a quem nos visita uma experiência ainda mais imersiva e completa — onde
o tempo abranda e tudo faz sentido.
De então para cá, como sente que a sua vida se alterou? Estava preparada para estas mudanças?
Sou mãe de três crianças, com 10, 8 e 4 anos. E a verdade é que nem sempre é simples conciliar todos os papéis, empresária, mãe, mulher, criadora de ideias… Durante algum tempo coloquei o trabalho em primeiro lugar, a achar que esse era o caminho para garantir tudo. Mas aprendi que se eu não estiver bem, focada e centrada em mim, nada à minha volta vai funcionar como deveria. Hoje coloco-me a mim em primeiro lugar, sem culpa, porque percebi que só assim consigo ser tudo o resto com mais verdade, presença e equilíbrio.
“Ser empreendedor é uma atitude perante a vida, é olhar para um desafio e
procurar soluções, seja na gestão de um projeto, na forma como contribuímos
para a empresa onde trabalhamos ou até no papel que desempenhamos dentro da nossa família”.
Que características tem o projeto Pátio do Tejo, e a atividade “Andar a cavalo” que tornam a gestão de um espaço como este diferenciada?
O que diferencia o Pátio do Tejo é a intenção com que tudo é feito. Desde o primeiro contacto até ao último passo do passeio, não nos vemos como prestadores de um serviço, queremos sim, ser reconhecidos como criadores de experiências verdadeiras. A nossa equipa é formada para mais do que acompanhar, está preparada para acolher.
Com atenção, empatia e presença, procuramos conhecer quem nos visita, perceber o que os move, o que os trouxe até nós.
Quais os principais desafios com que se tem deparado ao longo desta jornada e como tem lidado com eles?
Os desafios têm sido uma constante ao longo desta jornada. Mostrar o Pátio do Tejo ao mundo não é apenas uma questão de vontade: exige visão, estratégia, muitas horas de dedicação e uma enorme capacidade de adaptação. É um trabalho diário de alinhar caminhos, redefinir rotas e, muitas vezes, abrir trilhos onde ainda ninguém passou.
Acredita que o país está, hoje, mais preparado para lidar com mulheres líderes, que constroem e guiam os seus negócios rumo ao sucesso?
O verdadeiro espírito empreendedor não se mede pelo género, nem se limita ao mundo dos negócios. Ser empreendedor é uma atitude perante a vida, é olhar para um desafio e procurar soluções, seja na gestão de um projeto, na forma como contribuímos para a empresa onde trabalhamos ou até no papel que desempenhamos dentro da nossa família.
Para as mulheres que estejam a equacionar iniciar um projeto próprio, quais os três aspetos fundamentais que não devem ignorar com vista a uma boa preparação para iniciar o processo empreendedor?
Para quem está a ponderar iniciar um projeto próprio, diria que há três pilares fundamentais: Nunca deixes de sonhar: sonhar é o primeiro passo de qualquer realidade; Conhece o teu projeto por dentro e por fora; Domina o
terreno onde queres pisar: estuda bem a legislação, as condicionantes legais, os custos, as obrigações. Acima de tudo, não deixes que o medo te congele.
O mundo precisa de projetos com alma — e se a tua ideia te move… então é por aí!









