“Pensamos a robótica para ser útil às pessoas”

A Follow Inspiration nasceu de uma necessidade sentida pelo engenheiro Luís de Matos, que desenvolveu, ainda na faculdade, um projeto de carrinhos de compras para pessoas de mobilidade reduzida. A ideia não vingou, comercialmente, mas a tecnologia de navegação do produto foi um sucesso. Até hoje, 12 anos depois do início, a Follow Inspiration utiliza a tecnologia baseada em visão computacional e fusão sensorial para construir os seus robôs colaborativos, agora aplicados a diversas áreas da indústria. Esta tecnologia já tem patentes concedidas no México, nos EUA, no Canadá, nos Emirados Árabes Unidos, em vários países do continente europeu e mesmo no Japão.

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Um dos pressupostos do trabalho da Follow Inspiration é acreditar que a tecnologia ajuda a transformar ideias em aplicações reais. Que impacto pode ter a tecnologia desenvolvida pela Follow Inspiration no dia a dia das empresas?

Acima de tudo, a tecnologia tem de ter um propósito válido. Tendo a tecnologia esse pensamento de propósito, a sua função será sempre útil às pessoas. No nosso caso, tentamos que a pessoa esteja no centro da equação sempre, o que significa que pensamos a tecnologia tendo em mente a sua utilidade no dia a dia particular do indivíduo ou no seu local de trabalho.

Foi justamente com o propósito bem definido que nasceu o projeto wiiGo, que pretendia ajudar as pessoas com mobilidade reduzida a transportarem as suas compras. Este projeto foi o início daquilo que viria a ser a Follow Inspiration?

Esse projeto foi o mote da Follow Inspiration. O wiiGo era um carrinho de compras 100% autónomo, que seguia a pessoa no supermercado e foi pensado e desenhado para acompanhar as pessoas com mobilidade reduzida, como é o meu caso. Quando ainda estava na faculdade, decidi implementar a ideia do ponto de vista académico e só depois percebemos que poderia ter viabilidade económica e que servia um propósito para o qual havia necessidade no mercado. Começámos o desenvolvimento da tecnologia em 2012, mas só em 2013 é que tivemos o nosso primeiro investidor, altura a partir da qual foi possível formar as primeiras equipas de desenvolvimento e criar o produto, para poder ser certificado e implementado. Em meados de 2015, começámos a fase de testes-piloto. Nessa altura, não havia legislação para certificar robôs autónomos em Portugal, pelo que foi necessário recorrer a França. Só depois é que pudemos implementá-los nos nossos clientes: as grandes superfícies
comerciais – embora o nosso target fossem as pessoas de mobilidade reduzida. No entanto, passado pouco tempo percebemos que este produto não iria sustentar financeiramente a empresa, porque não era escalável: o
custo da tecnologia era um entrave e, sendo as pessoas com mobilidade reduzida um nicho de mercado, os retalhistas nunca compravam muitos carrinhos de compras autónomos. Isso levou ao insucesso comercial do
projeto, mas mantivemos a tecnologia e é com ela que temos desenvolvido os robôs colaborativos industriais.

Por que se diferenciam os vossos robôs autónomos dos restantes existentes no mercado? Quão importante é a combinação de visão computacional e fusão sensorial para o resultado de precisão que os vossos robôs atingem?

Tipicamente, os robôs de transporte precisam de saber onde estão e para onde têm de ir, de forma a conseguirem localizar-se (navegar) de forma autónoma. Essas referências podem ser dadas de diversas maneiras. O que vinha sendo feito até à chegada da Follow Inspiration era a colocação de fitas magnéticas no chão, por todos os locais onde queríamos que o robô circulasse. O robô tinha um sensor que conseguia ler essas fitas magnéticas e isso dava-lhe a indicação de para onde ir. Ele não sabia exatamente onde estava, mas havendo linha, ele seguia-a. Outro método de referenciação era através de sensorização espalhada pela fábrica, que permite fazer uma triangulação, por via de wireless ou vicans, que dá ao robô a referência espacial. Com o nosso aparecimento, a partir de 2012, começou a assistir-se a uma nova temática – usar a visão computacional para que o robô, em tempo real, consiga saber onde é que está, com base no que está a ver. Tal como nós,
humanos. Fazemos um mapa digital da fábrica, que imputamos no robô e, através de vários sensores, que utilizam a visão e a fusão sensorial, permite ao robô saber em tempo real onde está e para onde quer ir. A precisão vem da fusão sensorial e da capacidade de trabalhar os dados de forma muito mais específica, uma
mais-valia que conseguimos ao termos testado esta tecnologia no retalho, em superfícies onde as pessoas caminham de forma desordenada, há constantes obstáculos no caminho e situações que podem confundir o robô. Mesmo assim, o robô não se confunde. Um robô nosso dentro de uma fábrica dificilmente se perderá e é 200%
seguro. Se aparecer um obstáculo ou estiver algo a obstruir o seu caminho, ele tem a liberdade de ir por outra rota, os sensores veem a cerca de 30 metros de distância e isso permite-lhe “tomar uma decisão” com base no mapa que ele conhece, sobre por onde ir para se desviar do obstáculo. Esta capacidade de análise e execução torna-o muito preciso e muito mais versátil.

Como definiria atualmente as linhas de soluções que têm, a nível de robótica autónoma móvel? Que problemas se propõem resolver?

Atualmente, temos disponíveis três gamas. A primeira são os robôs plataforma – robôs que, de forma autónoma, acoplam uma bancada – muito utilizados na indústria automóvel – e transportam essa bancada, de forma autónoma, pela fábrica fora. Aqui temos capacidades de 100 kg até 1500 kg. Depois temos a gama de empilhadores autónomos, equipamentos com braços, que conseguem pegar nas paletes. Conseguimos ir dos 1000 kg até aos 3000 kg e até seis metros de altura. Há ainda a gama nova, que junta os robôs plataforma com os de braços. Estes robôs não fazem somente o transporte autónomo, mas também o picking da matéria-prima. Há ainda o nosso quarto produto, que é a nossa plataforma de gestão de frota onde, em tempo real, através
de um website convencional, conseguimos ver o que está a acontecer com os nossos equipamentos, comunicar com eles e fazê-los interagir com outros equipamentos da fábrica, tudo de uma forma muito simples.

Qual será a evolução da Follow Inspiration?

O caminho da Follow Inspiration tem muito a ver com produção de tecnologia ligada à robótica. Começámos com robôs sociais, de contacto com pessoas, e transferimos isso para o lado industrial. Esse continuará a ser o nosso
propósito: sermos um produtor de robótica com tecnologia e produto próprios. Dentro disso, tanto podemos produzir robôs para a indústria de transporte, de picking, ou robôs sociais, de contacto com as pessoas. Esse será o nosso caminho, nós queremos deixar a nossa marca na área da robótica e sempre com a pessoa no
centro da equação.