“Pode surgir um novo padrão de consumo e de consumidor”

O setor da atividade transitária é representado nacionalmente pela APAT - Associação dos Transitários de Portugal. Atualmente conta com 260 associados, a quem auxilia nos processos de licenciamento e renovação de alvará, presta apoio e aconselhamento jurídico e garante uma oferta formativa certificada. O Selo de Excelência foi criado pela APAT para assegurar a qualidade do serviço prestado pelos associados, como explicou o presidente executivo da entidade, António Nabo Martins.

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António Nabo Martins, presidente executivo

Quais as mais-valias do Selo de Excelência para as empresas transitárias?

A Lei n.º 5/2013 simplificou o acesso à atividade através da eliminação de alguns requisitos que a APAT considerava e considera importantes por isso, em 2013, nasceu o Selo de Excelência APAT, para distinguir os associados que continuaram a reunir esses requisitos, juntamente com outros depois adotados pela APAT. Em 2016, o Selo de Excelência teve um “upgrade”, porque julgámos oportuno corrigir algumas das exigências, por forma a conferir uma ainda maior credibilidade, visibilidade e dignidade ao Selo de Excelência. Consideramos por isso que é uma distinção que começa a ser equiparada a uma “ISO” de qualidade, competência, segurança e confiança. No último ano, a distinção foi atribuída a cerca de 50 empresas transitárias. A APAT está convicta que o Selo de Excelência APAT veio preencher plenamente a lacuna criada pela desregulação parcial da atividade e que o mercado reconhece a distinção da APAT como uma garantia da qualidade do serviço prestado pela empresa transitária sua parceira.

O desafio do confinamento e a paragem de muitas atividades económicas que necessitam de serviços de transitários deixaram as empresas prestadoras destes serviços sujeitas ao impacto da crise económica mundial. É verdade, tal afirmação?

Claro que é verdade, porque é nestas alturas de crise que muitas regras se alteram e se adaptam às novas realidades. Mas também é nestas alturas que conseguimos, por força da competência e do conhecimento, encontrar as melhores soluções. Vejamos o que aconteceu em Portugal quando foi necessário ir buscar equipamentos médicos e EPI’s à China: foram os transitários que encontraram as soluções de transporte, que encontraram a disponibilidade, que intermediaram a negociação e que não deixaram faltar nada a quem mais precisava desses bens.

Em que medida é que a transformação digital e a automação vieram ajudar este setor?

A capacidade de inovar e de adaptar são fundamentais para a sobrevivência das empresas e, acima de tudo, para o crescimento. Mais e melhor formação é sempre igual a melhor capacitação e mais competência. Apostar na formação profissional, nomeadamente na digitalização e informatização, trabalhar para a desmaterialização de processos, ganhando eficiência para ser mais competitivo, é um dos caminhos que temos de seguir. É, no entanto, nosso entendimento que a própria inovação é ávida no setor transitário e por isso mesmo devemos estar muito atentos a todos estes processos, porque novos desenvolvimentos surgem diariamente. Se todos, por vezes mais negligentes ou menos atentos, promovemos erros e falhas, os sistemas também as têm, e estas, de algum modo, podem ser aproveitadas para acesso a informação indevida, ou gerar pontos de entrada e de lançamento de ataques informáticos.

Que desafios falta ultrapassar para que este setor possa contribuir ainda mais para a economia nacional?

Na APAT acreditamos que é fundamental apostar em mais parcerias. Entendemos que o ambiente colaborativo digital é um fator verdadeiramente disruptivo e diferenciador e que constitui uma vantagem para as empresas. Hoje as empresas, colaboradores, clientes e parceiros convergem, colaboram e comunicam num mundo digital – mundo esse que se pretende que seja um espaço tecnologicamente seguro, ágil, produtivo e envolvente. As ferramentas digitais exponenciam o significado da colaboração, pois incentivam o trabalho em equipa e a cooperação. É ajudando as nossas empresas exportadoras, é estando presente nos organismos institucionais a promover o negócio internacional, é apoiando os nossos associados nas matérias que não são o seu “core” promovendo maior disponibilidade para a sua atividade, é por aqui que entendemos que podemos crescer e ajudar a crescer a nossa economia.

Como antevê a recuperação económica nacional nos próximos tempos?

É nossa convicção que a retoma surgirá mais no quarto trimestre, ainda temos o período de férias, e com alguma lentidão. As pessoas vão ter de ganhar confiança na própria economia, ou seja, tudo dependerá muito de como ficarão as trocas comerciais internacionais e o seu rendimento familiar. Entendemos que é perfeitamente plausível esperar por um novo padrão do consumo e do consumidor.