A BDO é uma empresa inicialmente constituída por cinco firmas de auditoria e consultoria, de países distintos e que adotaram o sistema de trabalho em rede. Em 1981, a BDO chegou a Portugal, celebrando este ano o seu 40º aniversário no país. Enquanto senior partner da empresa, como vê esta presença da BDO no mercado nacional?
A história da BDO no mundo demonstra o sucesso de uma estratégia de implantação global, partindo de uma robusta presença local. Fundada em 1963, somos agora uma organização global com mais de 91 mil colaboradores em 167 países e territórios, com mais de 1 600 escritórios que geraram receitas de 9,2 mil milhões de euros. O compromisso da BDO consiste em prestar um serviço excecional aos nossos clientes. Somos reconhecidos pela forma próxima e de total disponibilidade como nos relacionamos com os nossos clientes, pela qualidade do nosso trabalho, assegurada por equipas seniores e pela forma proativa com que damos ideias que contribuem para o sucesso dos negócios. Hoje, somos líderes na prestação de um serviço excecional aos clientes. Temos uma ferramenta de auditoria das mais avançadas do mundo – o APT Next Gen e, recentemente, tornámo-nos na rede internacional do ano pelo International Accounting Bulletin, pela segunda vez em três anos. O início da atividade em Portugal, que resultou da iniciativa de Ernesto Ferreira da Silva, fez parte desta estratégia de globalização.
Em termos de mercado, Portugal mostrou evolução, ao longo destes 40 anos, considerando o tipo de empresas que recorrem aos vossos serviços, bem como os setores de atividade aos quais pertencem?
Ao longo destes 40 anos e após um período conturbado que se seguiu ao 25 de Abril, Portugal sofreu uma transformação drástica. A abertura ao investimento estrangeiro e o forte impulso dado pelo Estado à iniciativa empresarial permitiu a constituição de fortes e modernos grupos privados que transformaram o panorama das empresas que normalmente recorrem aos nossos serviços. A adesão à União Europeia e as reformas que foram introduzidas ao longo destes anos levaram a BDO a reforçar as suas competências junto dos mais diversos setores de atividade, desde o setor público, através da Administração Central e da Administração Local e empresas públicas aos mais variados setores de atividade do setor privado, de onde destacamos o setor Financeiro e Seguros, a Educação, a Saúde, a Logística e os Transportes, o Turismo e o setor Imobiliário, entre outros.
Como assessora e acompanha a BDO os novos investidores internacionais, que veem em Portugal boas oportunidades de investimento?
Combinando a experiência global com o conhecimento específico das necessidades locais. É aqui que reside a grande vantagem de estarmos integrados numa rede internacional. Não só partilhamos clientes internacionais, como beneficiamos de todo o know-how, metodologias e ferramentas da rede BDO, mas aliadas a um forte conhecimento das regras e requisitos das economias locais. Quer sejam clientes particulares, quer sejam empresas, o serviço prestado pela BDO em cada um dos países e territórios onde atua é prestado de forma consistente e pautado pelos mais altos padrões de qualidade.
Considerando que desde a origem da empresa o trabalho em rede é uma marca da BDO, tal continua a verificar-se entre os cinco escritórios que existem em Portugal?
À semelhança da estratégia internacional, também em Portugal a BDO definiu uma estratégia de diversificação da sua presença pelo território de Portugal Continental e Ilhas, dispondo atualmente de cinco escritórios em Lisboa, Porto, Faro, Funchal e Braga, que nos permite estarmos mais perto dos nossos clientes, percebendo as diversas realidades regionais e, assim, podermos contribuir para a sua expansão e crescimento. Por outro lado, o acordo que temos com a rede internacional prevê que Portugal seja também responsável pela atividade da BDO nos países africanos de língua portuguesa. Foi assim que, por iniciativa da BDO Portugal, foram abertos escritórios em Moçambique, Cabo Verde e Angola. Fez sempre parte da nossa estratégia dar início à atividade da BDO nesses países, mas após um período de crescimento e consolidação, transferir a titularidade para os sócios locais. Foi isso que aconteceu com Moçambique, que se tornou membro de pleno direito da rede BDO, e que temos também intenção de concretizar com os escritórios de Angola e Cabo Verde.
No que respeita a Angola, este é um país com o qual Portugal tem fortes ligações históricas e culturais. Mais recentemente, a vertente económica começou também a desenvolver-se. Considerando que a BDO tem também presença física em Angola, é possível realizar esse mesmo trabalho em rede, garantindo o acompanhamento de um mesmo cliente em ambos os países?
A BDO começou a prestar serviços em Angola em 1989, primeiro diretamente de Portugal e mais tarde em colaboração com equipas de técnicos angolanos, contribuindo dessa forma para a sua formação. Hoje em dia, prestamos serviços de auditoria e consultoria em Angola, muitos deles em equipas conjuntas entre Portugal e Angola, para um vasto leque de clientes, desde empresas públicas, empresas estrangeiras e vários grupos angolanos de média e grande dimensão.
Comparando ambos os mercados – português e angolano – como os caracterizaria, no que respeita à aposta no investimento e à possibilidade de desenvolvimento?
Portugal e Angola estão em fases de desenvolvimento diferentes. Portugal enfrenta atualmente um dos maiores desafios da sua história e provavelmente uma derradeira hipótese de introduzir as reformas necessárias ao crescimento económico e ao aumento da produtividade. Efetivamente, os fundos na União Europeia, no âmbito do Programa de Recuperação e Resiliência, irão permitir que o país possa implementar medidas de reforço da economia em todos os setores de atividade, principalmente os de maior valor acrescentado, por forma a não ficar dependente do setor dos serviços, onde Portugal já deu passos significativos. Angola por seu lado, precisa de se reinventar. Se foi natural que a seguir à independência o novo país se virasse para os setores que, a mais curto prazo, gerassem proveitos que permitissem financiar a economia e o desenvolvimento do país, agora há que implementar políticas de médio e longo prazo que permitam aproveitar os imensos recursos que o país tem, em favor das populações e do crescimento e desenvolvimento do país. Tanto em Portugal como em Angola, o investimento estrangeiro é indispensável para o financiamento da economia. Oxalá os dirigentes dos dois países saibam implementar as medidas necessárias à atração desse investimento.
Quais os grandes desafios que se colocam quando uma empresa que desenvolve a sua atividade nas áreas da Assessoria, Consultoria, Auditoria e Impostos está presente em vários países, com a implicação direta de lidar com vários regimes fiscais e diferente legislação?
Para uma rede internacional como a BDO, esse não é um grande desafio, exatamente porque estamos organizados para combinar a experiência global com o conhecimento específico das várias realidades locais, seja ao nível dos regimes fiscais, dos regimes contabilísticos e demais legislação próprios de cada um dos países.
Como lhe parece que a economia vai reagir, no pós-pandemia? Teremos a recuperação tão falada?
Sou otimista por natureza e acredito que tanto Portugal como Angola vão sair mais reforçados desta crise e em condições para iniciar uma fase de crescimento e desenvolvimento duradoura. Existem, no entanto, muitas variáveis, desde a conjuntura internacional às especificidades de cada um dos países. Espero, sinceramente, que os dirigentes dos dois países tenham a sabedoria, coragem e competência para pôr os interesses dos países acima de qualquer outro interesse e os conduzam nesse ambicionado caminho do sucesso.