Portugal no contexto europeu das energias renováveis

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O PNEC 2030 recentemente publicado aumenta a meta nacional para a redução de emissões de gases com efeito de estufa para 55% até 2030, em relação aos níveis de 2005, fixando o limiar mais ambicioso face ao intervalo anteriormente estabelecido (de 45% a 55%), bem como faz subir de 47% para 51% a quota de energias renováveis no consumo final bruto de energia ate 2030.

Mas será que são estes os objetivos que vão fazer com que Portugal seja um líder da descarbonização na Europa? E líder na descarbonização porquê  e para quê ? Penso serem estas as questões mais importantes a responder.

Se conseguirmos reduzir as emissões porque as indústrias deixaram de produzir ou se atingirmos 51% de quota de renováveis porque consumimos menos electricidade porque a atividade produtiva reduziu, isso não nos torna líderes, mas sim perdedores da descarbonização. Ou seja, estas metas terão de ser encaradas de forma integrada com o aumento sustentável de consumo elétrico, motivado pela atração de novas indústrias que queiram aproveitar os recursos renováveis únicos que Portugal tem para oferecer e executar o aumento da eficiência energética, a utilização de calor de origem renovável para a indústria e a eletrificação dos edifícios e da mobilidade.

Para alcançar esta meta, o Governo propõe um reforço da exploração do potencial de energias renováveis, com foco nas tecnologias solar e eólica onshore/offshore, entre 2025 e 2030, com o aumento do solar de 8,4 GW para 20,8 GW; o incremento do eólico onshore de 6,3 GW para 10,4 GW e o crescimento do eólico offshore de 0.03 GW para 2 GW. Estas metas, uma vez mais sem o necessário enquadramento em termos de infra-estruturas de rede e a sua eventual localização junto de unidades industriais que possam beneficiar diretamente ou enquadradas em comunidades de energia industriais que permitam a repartição de eventuais excedentes do auto-consumos não só pelas indústrias vizinhas mas também pelas vilas e cidades limítrofes, por forma a beneficiar toda a economia de forma sustentável. Ao mesmo tempo deveria privilegiar-se a utilização de tecnologias que permitam ser instaladas em todo o tipo de telhados ou que permitam a utilização conjunta com atividades agrícolas e agropecuárias, beneficiando das evoluções tecnológicas recentes, nomeadamente os painéis solares bi-faciais, os painéis solares flexíveis e muito leves adaptáveis a qualquer superfície ou ainda as soluções híbridas de éolica e solar, apoiadas com baterias para permitir uma utilização mais eficiente de toda a energia gerada. O desenvolvimento só é sustentável se ninguém for deixado para trás, e deverá ser garantido que as populações que virem os seus terrenos utilizados sejam beneficiadas diretamente por isso sem contudo poderem impedir o desenvolvimento de um esforço nacional, sendo importante facilitar os regulamentos de instalação e operação e torná-los transparentes e coerentes em todo o território nacional, operados de forma digital, evitando o eventual bloqueio de alguns municípios ou instituições. 

A oportunidade de desenvolvimento do hidrogénio verde deverá ser encarada como uma oportunidade para atrair as indústrias de alta temperatura que precisam deste recurso para se descarbonizar para eco-sistemas criados para esse efeito, como o Hydrogen Valley em desenvolvimento em Sines, que integra um “anel” que permite transportar o hidrogénio produzido para os seus consumidores ao mais baixo preço, algo apenas possível nos dias de hoje se for produzido e consumido num raio de 10-20 km, conforme previsto na ZILS em Sines. Importante entender que a natureza do hidrogénio verde e a sua cadeia de valor é totalmente diferente do gás natural, podendo ser produzido em qualquer lugar que tenha água (incluindo potencial água dessalinizada) e energia renovável em abundância. A sua utilização para adubos, a produção de metanol ou SAF (Sustainable Aviation Fuels), ou mesmo a sua utilização para back-up de data-centers com fuel-cells sao algumas dos produtos de alto valor acrescentado que devemos aspirar a desenvolver em Portugal, exportando o produto final, muito mais fácil de transportar e com muito mais valor e criação de emprego. E tudo isto deve começar de forma gradual, como foi feito para os sistemas solares fotovoltaicos ou as baterias, apoiando pequenos sistemas de teste de toda a cadeia com apoios importantes e diminuindo esses apoios a medida que as tecnologias amadurecerem. 

Também ao nível do lítio temos de uma vez por todas iniciar a exploração e compensar de forma justa as populações residentes e explicando que após a extração esta acordado que as montanhas sejam de novo repostas e a sua vegetação e lençóis de água serão monitorizados como nunca o foram antes nem o são em mais nenhuma parte do mundo em que se explora lítio para prevenir qualquer eventual contaminação.  Será fundamental também no lítio Portugal garantir toda a cadeia de valor, desde a exploração, refinação e produção de células, sabendo contudo que ja existem empresas com grande experiência no desenvolvimento de packs de baterias, com fábricas instaladas em território nacional e que deverão ser valorizadas nos projetos a desenvolver para Portugal.

Em resumo temos efetivamente em Portugal todos os recursos para sermos “vencedores” da economia descarbonizada, sendo uma oportunidade que partilhamos com outros territórios como Espanha com quem temos interesse em colaborar para atrair para a Iberia novas indústrias, empregos e investimentos. E não para exportar energia barata ou hidrogénio verde.