A ONE é a maior empresa de logística marítima, criada há dois anos. Que análise faz deste projeto e do caminho já percorrido?
A ONE foi fundada em 2018, quando as três companhias marítimas Japonesas, Nippon Yusen Kabushiki Kaisha (NYK), Kawasaki Kisen Kaisha, Ltd. (K-LINE) e Mitsui O.S.K Lines, Ltd. (MOL) decidiram fundir as suas operações de transporte marítimo de contentores. Embora tenha sido uma tarefa extraordinária juntar as três empresas numa só e mesmo com os problemas iniciais de arranque, hoje podemos dizer que a ONE é efetivamente uma companhia marítima forte, confiante e em constante progresso. É hoje a sexta maior transportadora de contentores do mundo, com 224 navios (1,5 milhões de TEU) e mais de 130 serviços semanais para 120 países. Estamos orgulhosos da empresa que construímos e do sucesso que alcançamos com o aumento de nossa rede e cobertura de serviço, permitindo-nos competir num setor mais consolidado.
Quais os principais objetivos da empresa, no que concerne ao trabalho de equipa e à sua filosofia de empresa?
Como empresa, somos guiados por oito valores essenciais, sendo eles: Otimização e Agilidade, Melhores Práticas, Qualidade, Inovação, Trabalho de Equipa, Desafio, Fiabilidade e Satisfação do Cliente. Claro que todos estes valores são necessários para atingir os nossos objetivos, mas não podemos alcançar nada sozinhos, por isso destaco o trabalho em equipa, o qual tornou possível esta evolução tão positiva da nossa empresa em tão pouco tempo.
Como avalia a posição da empresa em Portugal? É um bom mercado estratégico?
Considero que a penetração da ONE no mercado português tem sido muito bem-sucedida. Em dois anos, a empresa viu os seus movimentos aumentarem mais de 60% face ao movimento gerado pelas três companhias no ano que antecedeu a fusão, o que é efetivamente notável e revelador da forma como o mercado acolheu a ONE. Os transportes e a logística são um setor em crescimento e peça fundamental na competitividade das empresas pelo que, pela sua natureza, são um setor estratégico para Portugal. O transporte marítimo em Portugal representa 75% do total do transporte internacional e, integrado na economia do mar, é aquele que apresenta maior intensidade na criação de valor face ao volume de negócios que representa. Na última década, Portugal expandiu a sua capacidade exportadora, através da diversificação de mercados e esta tendência irá continuar, particularmente com a necessidade de ajustamento nas cadeias de abastecimento provocadas pelo impacto da pandemia. O posicionamento geoestratégico de Portugal, na interceção de grandes rotas mundiais de transporte marítimo, deverá ser potenciado por forma a atrair mais interesse e investimento das companhias internacionais.
Tendo em conta a crise pandémica, o que lhe parece que mudará nos próximos meses, ou mesmo anos?
A indústria do Shipping é muito resiliente e está acostumada a adaptar-se ao mercado. A necessidade de digitalização da mesma já existe há algum tempo e está a ficar mais forte do que nunca com a situação atual da pandemia por Covid-19. A ONE é uma empresa relativamente jovem e tem feito um notável esforço para se tornar cada vez mais digital enquanto empresa e contribuir para a digitalização da indústria. A ONE está ativamente envolvida em plataformas para estudar a digitalização. Por exemplo, a ONE é um membro fundador da Digital Container Shipping Association (DCSA) cujos membros estão a tentar estabelecer padrões de operação e protocolos de interface para a indústria. A ONE também é membro da TradeLens, a plataforma digital do Shipping baseada na tecnologia blockchain (também conhecida como “o protocolo da confiança”) que visa aumentar a transparência e acelerar a eficiência nas cadeias de abastecimento, auxiliando o comércio global.
Que áreas considera que serão afetadas por mudanças na forma de comunicar e de fazer negócios?
É difícil saber o que a longo prazo afetará a forma como conduzimos os negócios e a comunicação, mas as coisas estão a mover-se definitivamente numa direção mais virtual. Da perspetiva do cliente, lançámos um serviço de “Live Chat” que permite aos mesmos entrarem em contato connosco dentro do horário comercial através do nosso website, onde podem falar online com um assistente em vez de enviar um e-mail ou ligar para um dos nossos escritórios, esperando desta forma agilizar o tratamento de eventuais questões que possam ter. Ao nível da operacionalidade do negócio, desde o início da crise em março e ao longo deste ano 2020, a ONE operou “remotamente” a atividade com muito sucesso e com muitos funcionários a trabalhar em segurança a partir das suas casas, o que nos permitiu manter o funcionamento normal do nosso negócio com o mínimo de perturbação para os nossos clientes. Em todo o caso, a comunicação presencial “face-to-face” continua a ser muito importante e estamos todos ansiosos por rever os nossos clientes e colegas com mais frequência, quando as restrições o permitirem.
Muitos processos, reuniões e mesmo eventos têm lugar online. O mundo digital irá impor-se, por si próprio, na rotina diária professional?
A ONE possui todas as ferramentas necessárias para operar o seu negócio num ambiente virtual e tem feito isso desde o início da pandemia, em março deste ano. Temos uma variedade de ferramentas informáticas que nos permitem comunicar e continuar a desenvolver o negócio com normalidade. Embora tenha sido uma grande mudança para todos, adaptamo-nos muito bem às circunstâncias extraordinárias que o mundo em geral teve de enfrentar este ano.
Quais os planos futuros da empresa para o mercado português, em particular?
Os planos passam por continuar a crescer de forma orgânica e sustentável no mercado português, reconhecido pela Companhia como um dos mercados com potencialidade de crescimento. Naturalmente que o investimento e a competitividade dos portos portugueses são fundamentais para sustentar este desenvolvimento, assim como a competitividade de todos os intervenientes na cadeia marítima, sejam eles autoridades portuárias, aduaneiras, capitanias, terminais, SEF, ferrovia, rodovia…É necessário termos estruturas mais ágeis, flexíveis e integradas. Localmente temos dado particular atenção na gestão das equipas promovendo a captação e retenção de talentos. A equipa em Portugal tem níveis de “engagement” acima da média a nível internacional. Criámos ambiente e condições de trabalho favoráveis ao desenvolvimento de competências individuais e coletivas alavancando as potencialidades e competências de cada um. Destacamos o facto de a equipa em Portugal fazer parte de vários grupos de trabalho associados à transformação digital, dos quais destacamos o B/L eletrónico, ferramenta que irá permitir uma enorme agilização dos processos e maior visibilidade aos vários intervenientes associados à rapidez de resposta. Queremos manter sempre um espírito de empresa inovadora, quer sob o ponto de vista tecnológico, quer processual.