Que sorte a minha!

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“Que sorte a minha, que sou uma mulher, canhota, nascida nos finais do século XX. Tinha eu tido o azar de nascer no tempo das reguadas – para escrever com a mão direita – ou mais lá para trás, no tempo da
fogueira, e a conversa era outra ou nenhuma”.

Venho de uma família imensa, cheia de mulheres (e homens) fascinantes que me serviram, e servem-me, de inspiração. Os seus exemplos de força, beleza, cuidado e determinação estimulam-me para seguir adiante com
coragem e resiliência enquanto mulher, mãe, bailarina, formadora, professora, empreendedora e criativa.

Conciliar o papel de empresária e mãe foi/é um desafio que enfrentei com amor e dedicação. Creio que a maternidade não deverá ser uma barreira para alcançarmos os nossos objetivos profissionais e, acredito que,
enquanto mulher nesta sociedade moderna, tenho o dever de colocar em prática todos os papéis que ambiciono desempenhar.

Aos 18 anos, quando ingressei na ESAD (Escola Superior de Artes e Design) e me deparei com o livro “Das coisas nascem coisas”, de Bruno Munari, abriu-se um novo e magnífico universo. A sua abordagem provocativa levou-me a refletir sobre como vemos o mundo ao nosso redor e a pôr em prática novas metodologias de construção. Tornou o meu processo criativo mais rico e estimulante.

Para além do mundo do design, a dança contemporânea sempre ocupou um lugar muito importante na minha vida. A paixão pela dança – assim como os meus incríveis professores e amigos Joana Nossa e Ludger Lamers -,
ensinaram-me que a criatividade se reflete em todas as áreas da vida, não havendo limites para a sua exploração. Tal como na arquitetura, por exemplo, quando tive a sorte de participar, em contexto de faculdade, num workshop com o talentoso, inspirador e humanista, arquiteto francês Jean-Philippe Vassal. Foi um momento
revelador que despertou em mim a vontade de trabalhar em design numa vertente social, reforçando a minha crença e esperança no poder da criatividade.

E nasce a Whatdesign, com as minhas amigas da faculdade, Inês e Sara. No plural. Dois anos depois segui no
singular.

Ao longo dos últimos 16 anos tenho tido a oportunidade de, como mulher, trilhar um caminho inesquecível no
mundo do empreendedorismo e da criatividade na área do design. Desde o início que enfrentamos desafios. A
história da Whatdesign é o meu testemunho de superação, onde a determinação e a paixão pela mudança
podem transformar ambições em realidade.

Com o apoio de parceiros dedicados, comprovo que a igualdade de oportunidades é fundamental para o progresso de qualquer setor.

Encaramos cada obstáculo com resiliência, acreditando que o talento não conhece barreiras de género. Unir a criatividade ao empreendedorismo foi uma escolha que moldou o ADN da Whatdesign.

Desde a angariação de clientes até ao processo criativo, envolvemo-nos pessoalmente em todas as etapas dos projetos. Acreditamos que essa abordagem é a essência do empreendedorismo criativo, que nos permite inovar e enfrentar desafios de uma maneira única e eficaz.

Conciliar todos estes papéis é um grande desafio, mas a verdade é que cada uma destas “atividades” trouxe uma pitada especial ao meu caldeirão criativo. Ajudaram-me a não ter medo de experimentar e dançar ao ritmo das
oportunidades que surgem.

“Que possamos, juntas,
dançar com a vida,
criar com paixão
e empreender com coragem,
deixando um legado
inspirador para as futuras
gerações de mulheres criativas
e destemidas!”


Uma das parcerias mais significativas que tenho o prazer de estabelecer é com a MUSA – Associação Artística e de Intervenção Social, em Braga. Através desta colaboração posso contribuir com projetos que promovem
mudanças positivas na sociedade, usando a criatividade como uma ferramenta para impactar vidas e construir um mundo mais inclusivo.

Atualmente faço parte da direção artística do projeto “Lugar Comum – Espaço de Construção”. Imaginem juntar arte, criatividade e a missão de acolher migrantes num só lugar. É um verdadeiro turbilhão de emoções!

Com o apoio do Fundo para o Asilo, a Migração e a Integração (FAMI) e do Alto Comissariado Para as Migrações (ACM), e de uma equipa incrível formada essencialmente por mulheres, em parceria com a Faculdade de Motricidade Humana (FMH) da Universidade de Lisboa, o Instituto de Etnomusicologia – Centro de Estudos em Música e Dança (INET-md) e a Câmara Municipal de Braga, estamos a conseguir criar algo único, capaz de transformar vidas e criar pontes sociais e culturais que fazem a diferença. Um orgulho!

E assim sigo, com os pés no chão e o coração nas nuvens, inspirando-me nos meus clientes e colaboradores,
alunos e formandos, nas metodologias do Bruno Munari, na dança da Joana e do Ludger, no humanismo do Jean Philippe Vassal, no projeto “Lugar Comum – Espaço de Construção” e, é claro, nas mulheres incríveis da minha
família e no mundo que nos rodeia. Que possamos, juntas, dançar com a vida, criar com paixão e empreender com coragem, deixando um legado inspirador para as futuras gerações de mulheres criativas e destemidas!

Espero que a minha história inspire todos os que têm o desejo de empreender, destacando a importância da criatividade no contexto social. Que cada pessoa que leia este artigo se sinta encorajada a abraçar as suas ambições e a acreditar no poder do empreendedorismo para moldar um futuro mais brilhante e criativo para todos. Eu irei continuar!

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