Que análise faz a esta evolução e à capacidade de resposta do CENFIM para fornecer ao mercado a mão de obra necessária?
O CENFIM foi criado pela Indústria e trabalha focado na Indústria. Contudo, não basta ter propósito, é necessário acrescentar valor, e isso só acontece se o mercado aceitar o nosso “produto”. Neste particular, é o reconhecimento desse valor pelo mercado que, ao longo dos 38 anos da nossa existência, nos permite aquilatar da validade do nosso propósito. Reconheçamos que a indústria da Metalurgia e Metalomecânica tem-se revelado resiliente e com uma forte dinâmica. Este setor só é resiliente porque é exigente, o que impulsiona a nossa busca
por encontrar respostas que apoiem as empresas na melhoria da sua produtividade e capacidade de responder às exigências dos mercados de exportação. É esta conjugação, entre propósito e necessidades de mercado, que nos permite providenciar o referido valor, refletido nos quase 100% de empregabilidade.
É possível responder a estas necessidades, considerando o feedback dos jovens e a sua procura por determinadas áreas de atividade?
Uma das grandes lacunas do Sistema de Ensino e Formação Profissional é a falta de um sistema estruturado de orientação vocacional que ajude os jovens, não só a potenciar a sua vocação, mas também a integrá-la na oferta do mercado. O CENFIM continua empenhado nessa resposta, razão pela qual continua a disponibilizar cursos de
Aprendizagem de nível 4 de dupla certificação, i.e. a escolar (12º ano) e a profissional (orientada para o mercado), bem como CET – Cursos de Especialização Tecnológica, cursos pós-secundário, com créditos para o ensino superior, existindo, em ambas as modalidades, uma ampla oferta de diversas saídas profissionais, com
a referida alta empregabilidade.
Considerando que as competências tecnológicas têm de estar alinhadas com as competências técnicas inerentes à profissão, tal vem alterar os modelos de ensino utilizados pelo CENFIM?
O CENFIM tem vindo a incorporar de forma experimental nas suas ações de formação a Aprendizagem Baseada em Projetos, que, acreditamos, reforça a diferença entre o ensino e a aprendizagem, sendo o “ensino” aquele onde o aluno é passivo e ouve o que lhe querem “ensinar” e a “aprendizagem” onde o formando vem para “auto” aprender e não apenas para ser ensinado, eixo este onde se posiciona o CENFIM.
No que respeita à formação para empresas, que análise é possível fazer da abertura dos atuais colaboradores às novas aprendizagens?
De um estudo elaborado pela CIP, fica claro que independentemente do número de postos de trabalho criados ou
perdidos em termos líquidos, cerca de 700 mil trabalhadores terão de alterar a sua ocupação ou adquirir novas capacidades até 2030. Neste contexto, para os colaboradores atentos e que querem integrar, não o futuro, mas já o presente, o reskilling é fundamental, sendo importante relevar que cada vez mais se vê o trabalhador a investir na sua própria formação, muitas vezes por conta própria, pois, infelizmente, ainda temos muitas
empresas que veem a formação como um risco.
Quão importante considera esta designação de 2023 como sendo o Ano Europeu das Competências, por parte da Comissão Europeia, no que respeita à possibilidade de dar voz a algumas questões que possam ser problemáticas para o setor da educação e qualificação nacional?
A designação de 2023 como sendo o Ano Europeu das Competências é uma mais-valia, refletida também no “Compromisso social do Porto”, cujo acordo assenta em três pilares, retendo-se aqui apenas um, o que aposta na qualificação em 60% dos ativos adultos. Este pilar é o maior desafio da Europa e de Portugal, uma vez que, hoje,
a média da União Europeia se situa nos 15% dos ativos que realizam formação ao longo da vida. Sendo relevante que este seja o Ano Europeu das Competências, este será apenas o pretexto para criar maior visibilidade aos assuntos da Educação e Formação Profissional, uma vez que esta é uma batalha dos próximos 10 anos e não
apenas dos próximos 10 meses.
É importante que as empresas contratantes se envolvam na formação, reskilling e adaptação dos novos e dos antigos colaboradores, para que a empresa tenha mão de obra qualificada e de “última geração” no que toca aos conhecimentos e técnicas aplicados no dia a dia laboral?
Diria que é determinante! Tal como qualquer equipamento da Indústria que não seja atualizado se torna obsoleto, o mesmo se passa com os colaboradores. Neste contexto, o envolvimento das empresas é determinante, porque são as empresas envolvidas que nos ajudam a conceber uma oferta de Formação desenhada especificamente para as suas necessidades e, assim, estarem atualizadas através do referido reskilling e mais aptas a responder aos novos desafios do mercado e da internacionalização.
Como poderá Portugal combater a falta de mão de obra para a indústria, bem como para outros setores de atividade?
Esta é uma pergunta interessante para decisores políticos. Não obstante, para minorar esta dificuldade de recrutamento, o CENFIM tem vindo a desenvolver uma estratégia com diferentes eixos de ação, referindo aqui apenas dois. O primeiro eixo está a ser trabalhado em conjunto com o setor, visando a sensibilização e captação de talento, para o qual se preveem ações ao nível de roadshows, exposições, conferências, plataformas de mobilização e dinamização, a organização de dias de contratação, ações de dinamização empresas-academia, bolsas de estágio e contratação, tentando também dignificar a imagem do setor. O segundo eixo, o da migração, passa por protocolos que temos elaborado com os PALOP, visando a criação de oportunidades para os jovens oriundos daqueles países para serem formados em Portugal pelo CENFIM. Contudo, encontra fortes constrangimentos burocráticos, contrariando a referenciada política de abertura à migração.