A PAIXÃO PELA COZINHA
Ao contrário do que é comum, cozinhar não foi, desde sempre, uma paixão. Que caminho percorreu até perceber que realmente gostava de estar na cozinha, a preparar os mais diversos pratos?
Sim, é verdade. Embora a cozinha não tenha sido sempre a minha paixão, a descoberta veio de forma natural e gradual. Começou com o casamento e com uma curiosidade em experimentar novas receitas e entender melhor os sabores. Ao ver a satisfação de quem provava os meus pratos, senti uma conexão especial com este universo. Foi esse reconhecimento, aliado ao prazer de criar algo do zero, que me levou a perceber o quanto gostava de
estar na cozinha.
Como descreve a forma como se sente quando está na cozinha?
Quando estou na cozinha, sinto-me completamente imersa num processo criativo. É um espaço onde posso ser livre, relaxar, experimentar sabores, texturas e apresentações. Sinto-me tranquila, mas também desafiada, pois cada prato é uma oportunidade para fazer algo melhor. É uma combinação de calma e excitação que me inspira.
Acredita que esta paixão que sente quando cozinha ajuda a que os pratos tenham sucesso?
Sem dúvida. A paixão transparece em cada detalhe, desde a escolha dos ingredientes até à apresentação final. Quando cozinhamos com paixão, estamos mais atentos às necessidades e expectativas de quem vai saborear o prato. Essa dedicação acredito que se reflete no sucesso dos meus pratos.
Quando se iniciou na cozinha, não tinha experiência nem conhecimentos gastronómicos alargados. A formação foi, por isso, essencial. Concluiu muito recentemente o seu curso de Cozinha na MasterD, com uma nota final muito alta. O que é que esta formação lhe trouxe, no que respeita a conhecimento prático de cozinha e à confiança que sente, agora, quando entra na cozinha?
A formação na MasterD foi uma peça fundamental no meu desenvolvimento. Trouxe-me o conhecimento técnico necessário para executar com precisão os pratos, mas também uma maior confiança nas minhas capacidades. Antes, a cozinha era um espaço de experimentação; agora, sinto que tenho a base sólida para combinar criatividade com técnica, garantindo sempre o melhor resultado.
O BLOG CHEZ SÓNIA
O blog Chez Sónia começou quando ainda estava no início do seu caminho na gastronomia. Que tipo de conteúdos partilhava com os leitores?
O blog Chez Sónia foi o responsável por aquilo que sou hoje. Foi mesmo o início, onde colocava (com orgulho) aquilo que inicialmente ia fazendo. O intuito era mostrar que se eu era capaz de confecionar aquela receita, então todos os nossos leitores conseguiriam replicar. Focava-me em partilhar receitas simples, experiências pessoais e algumas dicas práticas que fui aprendendo, para quem, como eu, estava a explorar o mundo da
cozinha. A ideia era criar um espaço onde os leitores se pudessem identificar com a minha caminhada e sentirem-se inspirados a cozinhar em casa.
Por que motivo acredita que os leitores se foram, gradualmente, identificando com os conteúdos que partilhava?
“Uma Cozinha Simples, Económica e com muito Sabor!” era o nosso lema. Acredito que a autenticidade foi um fator-chave. Nunca pretendi ser uma chef experiente, mas sim alguém em processo de aprendizagem, partilhar sucessos e fracassos. Essa honestidade fez com que os leitores se conectassem, sentindo que estavam a acompanhar uma jornada real e acessível.
O que tornava o blog Chez Sónia diferente dos demais blogs sobre gastronomia? Que atividades desenvolvia que envolviam os seus leitores?
Penso que se destacava pela abordagem prática e genuína, mas também pela interação direta com os leitores. Organizava desafios culinários, onde os seguidores podiam recriar receitas e partilhar as suas versões, passatempos… Esta proximidade criou uma comunidade ativa e envolvida, que sentia que o blog era um espaço de partilha e não apenas de leitura.
O que a levou a apostar, em 2017, no projeto Azores Private Chef?
O projeto nasceu de uma vontade de oferecer uma experiência gastronómica única, onde a comida não era apenas algo para ser consumido, mas sim uma parte central de momentos especiais. Um contar de histórias por detrás de cada prato. Ao trabalhar como private chef nos Açores, percebi que poderia combinar a minha paixão pela cozinha com o desejo de proporcionar momentos inesquecíveis aos visitantes, utilizando produtos frescos e locais.
O PROJETO AZORES PRIVATE CHEF
Como descreveria o que sentiu quando realizou o seu primeiro evento?
O meu primeiro evento foi uma mistura de nervosismo e entusiasmo. Foi como ver um sonho a concretizar-se, mas também havia aquela pressão de querer que tudo corresse bem. No final, quando vi os sorrisos e recebi o feedback positivo, senti uma grande satisfação e uma confirmação de que estava no caminho certo.
Qual é o conceito do Azores Private Chef? Que serviços oferece?
Proporcionamos uma experiência gastronómica personalizada e exclusiva, na casa ou no local escolhido pelo cliente. Oferecemos menus adaptados às preferências e restrições alimentares de cada pessoa. Vamos às compras, cozinhamos na hora e deixamos a cozinha arrumada e limpa. Também temos decoração personalizada, assim como bolos comemorativos e música ao vivo. A ideia é que cada refeição seja única e feita à medida de quem a vai desfrutar.
“Oferecemos menus adaptados às preferências e restrições alimentares de cada pessoa”.
Hoje, é necessário atenção e conhecimento sobre os diferentes menus, considerando que existem pessoas que não podem comer alimentos com glúten, ou lactose… As soluções gastronómicas do Azores Private Chef respondem a todas estas necessidades?
Sim, uma das bases do nosso projeto é a personalização total dos menus. Tenho um cuidado especial em oferecer alternativas para quem tem intolerâncias alimentares ou segue dietas específicas, garantindo que todos possam desfrutar de uma refeição segura e igualmente deliciosa. Adaptação é o nosso lema.
Este projeto é realizado nos Açores. Em que é que isso a ajuda a definir, por exemplo, os menus que cria?
Estar nos Açores tem uma influência enorme nos menus que crio. A abundância de produtos frescos e locais, permite-me desenvolver pratos que valorizam o que a terra e o mar nos dão. Além disso, a própria cultura açoriana é uma fonte de inspiração, desde as receitas tradicionais até aos ingredientes únicos que se encontram apenas aqui.
“A abundância de produtos frescos e locais, permite-me desenvolver pratos que valorizam o que a terra e o mar nos dão”.
Que cuidados tem na seleção dos produtos que utiliza?
Dou prioridade a produtos frescos, sazonais e de origem local. Trabalho diretamente com produtores, pescadores e agricultores que conhecem e respeitam o ciclo natural da produção. Este cuidado garante não só a qualidade dos ingredientes, mas também apoia a economia local e mantém a sustentabilidade no centro do projeto.
O Azores Private Chef já venceu o Prémio Cinco Estrelas Regiões. Que mais-valias traz esse prémio ao projeto e, simultaneamente, significa um acréscimo de responsabilidade em “fazer bem”?
Vencer o Prémio Cinco Estrelas Regiões foi um reconhecimento fantástico do trabalho que desenvolvo. Este prémio trouxe mais visibilidade ao projeto, o que me permitiu alcançar novos clientes e consolidar a minha presença no mercado. Contudo, também trouxe uma maior responsabilidade em manter o elevado padrão de qualidade que levou à atribuição do prémio. Cada evento e cada prato precisam de estar à altura das expectativas criadas.
“Cada evento e cada prato precisam de estar à altura das expectativas criadas”.
Hoje, a cozinha nacional é muito alvo de “evoluções gastronómicas”. Também as pratica, nos pratos que apresenta? Que cuidados tem para não desvirtuar o prato, quando falamos da gastronomia tradicional portuguesa?
Sim, adoro explorar novas técnicas e influências modernas na gastronomia, mas sempre com muito respeito pela tradição. Quando trabalho com pratos tradicionais portugueses, o meu objetivo é aprimorar ou apresentar de uma forma mais contemporânea, sem nunca perder a essência do original. O segredo está no equilíbrio entre inovação e autenticidade.
Como antecipa o futuro deste projeto? Acredita que ainda há muito por onde crescer e, sobretudo, por onde evoluir?
O futuro só a Deus pertence e mantemos tudo no segredo dos Deuses. No entanto, vejo o meu projeto com um futuro muito promissor. Acredito que há muito por onde crescer, explorar, evoluir e especialmente o desenvolvimento de novas experiências que combinem a gastronomia com outras formas de arte e cultura açoriana. Além disso, quero continuar a explorar formas de integrar ainda mais sustentabilidade nas práticas do projeto, bem como expandir para outras ilhas e mercados internacionais. A evolução é constante e cheia de possibilidades.