“Somos apologistas da especialização”

José Manuel Soares dirige a Multigaia Seguros,que já conta com 45 anos de atividade e recebeu a equipa da Valor Magazine para fazer um balanço desta atividade em constante evolução.Além disso,o aumento do valor do seguro mínimo dos mediadores de seguros independentes – uma medida que entrará em vigor em junho – esteve também em debate.

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Hélder Pereira, José Manuel Soares (CEO), Mário Soares (fundador), Paula Moreira, Hugo Monteiro e César Teixeira

Ao longo deste tempo, que análise faz do mercado segurador em Portugal?

A Multigaia Seguros vai na sua segunda geração. São 45 anos de dedicação exclusiva a um setor de atividade que tem vindo, ano após ano, a evoluir. Evolução tecnológica, evolução qualitativa dos produtos,cada vez mais abrangentes, evolução na exigência e profissionalização do setor, onde impera hoje uma maior transparência e qualidade na prestação de serviços.

A mentalidade portuguesa alterou-se, no que respeita a fazer um seguro?

Tem vindo a alterar-se paulatinamente, fruto, como referi anteriormente, de uma maior profissionalização do setor e de uma maior transparência. Atualmente, as pessoas percebem a necessidade dos seguros, de protegerem o seu património, de não correrem determinado tipo de risco e de se prevenirem contra as incertezas do dia-a-dia. Existe cada vez mais informação, mais profissionalização e isso é bom para todos.

Quais os prós e os contras do aumento do seguro mínimo dos mediadores de seguros independentes?

Este aumento tem muito a ver com a lei da distribuição dos seguros, refletida numa diretiva europeia que prevê uma atualização do atual seguro de responsabilidade civil profissional. A nós, parece-nos bem, aliás esta diretiva comunitária europeia peca pela escassez de medidas, da do que, a nosso ver, perdemos uma grande oportunidade de profissionalizar ainda mais o nosso setor de atividade e de acabar com uma série de “promiscuidades” que existem no nosso setor, como é o caso da Banca e dos contabilistas poderem vender seguros. Somos apologistas da especialização, para uma maior transparência e profissionalização. Porque é que a mediação de seguros há-de ser partilhada em part-time com outra atividade?

Que análise faz da regulamentação do setor?

Como referi anteriormente, perdeu-se uma grande oportunidade de “limpar o nosso setor de atividade”, mas os lobbies são imensos, e as cedências acabam por acontecer. As pressões são muitas, faltou mais coragem, para dar maior transparência ao setor, apesar de as coisas estarem muito melhor do que estavam há uns anos.

Falta uma área académica exclusivamente dedicada aos seguros e à mediação?

A meu ver, esta é uma grande lacuna existente e que tarda em aparecer, falta uma Academia em Seguros, não só para quem quer entrar no setor e iniciar a sua atividade profissional, como também, em termos de formação contínua, de aprendizagem contínua, de “refresh”, de valorização profissional aos atuais profissionais do setor, que visem acompanhar a evolução e adequação aos novos tempos. A vida é uma aprendizagem contínua.

Como está a Multigaia a lidar com as mudanças inerentes à digitalização e às novas realidades que os mundos físico e virtual apresentam?

A mudança é algo inevitável, é necessária, e nós na Multigaia estamos a posicionar-nos nesse sentido, em vários aspetos, sendo que estamos neste momento com um projeto novo na área de marketing digital que tem precisamente a ver com uma nova mentalidade e respetivo posicionamento no mercado.

A formação dos ativos é fundamental, atualmente?

A formação é indispensável, a aprendizagem contínua, enriquecimento contínuo de um maior conhecimento que nos permita enfrentar os desafios que temos pela frente, através de cursos, planos individuais de formação, etc. A formação contínua é fundamental para adaptar os recursos humanos às alterações que vão surgindo, bem como para melhorar os índices de produtividade e competitividade na nossa área de atuação. É um ganho para todas as partes.

Quais os desafios que a nova década irá trazer para a área dos seguros e seus mediadores?

Imensos, altamente desafiantes, em que só os mais preparados sobreviverão, face a tal mudança, não só do ponto de vista tecnológico, como também da exigência da informação,da exigência da transparência, no aumento da qualidade na prestação de serviços efetuada. As elevadas expectativas dos consumidores, cada vez maiores, a maior sofisticação dos mercados financeiros, vai obrigar a uma persistente atualização dos conhecimentos técnicos, teóricos e práticos para acompanhar o desenvolvimento da complexidade do mercado. Inovar com responsabilidade, com seriedade e maior profissionalização na busca da excelência na prestação de serviço ao cliente, este vai ser o grande desafio, provando que o mediador de seguros é um elemento que traz uma mais-valia na relação com o cliente final, intermediando o mesmo, aconselhando-o com seriedade, isenção, rigor e independência em relação às seguradoras. O mediador de seguros é, podemos dizer, um especialista, um profissional que ajuda o cliente a decidir o que é melhor para ele, face às suas necessidades. A dedicação em regime de exclusividade a esta atividade, alicerçada num ambiente de grande confiança e proximidade, mas também de muito conhecimento do cliente final, faz toda a diferença na relação pessoal e profissional.