Nas últimas semanas em Portugal, na sequência do p r o c e s s o p a n d é m i c o despoletado pelo novo coronavírus, muito se tem escrito e testemunhado sobre o “novo?” paradigma da saúde: a telessaúde / telemedicina, como se de um dia para o outro se descobrisse uma nova forma de comunicar em saúde.
É certo que o contexto da Covid-19 despoletou a emergência do recurso à tecnologia em todas as organizações, públicas e privadas, às quais as da Saúde não ficaram alheias. Face ao decretado distanciamento social, os hospitais começaram, de forma generalizada, a utilizar as ferramentas tecnológicas que tinham à disposição como meio facilitador dos contactos entre os profissionais de saúde e o cidadão doente. Contudo, neste contexto há perguntas que devem ser feitas:
Os hospitais estavam organizados para recorrerem à utilização da telessaúde / telemedicina em grande escala? Os serviços do Ministério da Saúde, responsáveis pela implementação da telessaúde, deram orientações precisas sobre a utilização maciça desta modalidade assistencial?
A resposta é não. Nos últimos 10 anos fomos assistindo a avanços, enquanto foram também aparecendo novos projetos, alguns que foram ficando pelo caminho. No entanto, restam alguns que se mantêm com uma enorme utilidade para o SNS. Também nestes últimos 10 anos se perdeu muito tempo com promessas e esperanças que não se concretizaram. Gastou-se dinheiro, tempo e algum descrédito para quem tem, como nós, a defesa de um plano nacional que seria benéfico para todos.
Nos tempos que correm esse plano está a fazer muita falta. Dá a ideia que se “lutou” mais pela empresa fornecedora que pela compatibilização do que já existe a funcionar bem há muito tempo. Claro que assim que aparecer uma ferramenta funcional e pronta a satisfazer o desempenho da telessaúde/telemedicina, podemos e devemos integrá-la no SNS, criando compatibilidades com as que existem e estão a funcionar bem e há muitos anos.A telessaúde/telemedicina não é um fim em si mesmo. É antes do mais um meio, um instrumento essencial que pode contribuir para a aproximação das populações aos cuidados de saúde.
Associação Portuguesa de Telemedicina (APT)
Apesar do início da telemedicina datar de antes de 1995, só em 1999 surgiu o embrião da APT, com o Encontro em Coimbra da Invesvita. Muito percurso se foi desbravando até hoje com inúmeros encontros /simpósios, workshops e desempenhos da associação que, aos poucos, foi ganhando crédito, muitas vezes mal compreendida e até desprezada.
A APT apareceu há cerca de 14 anos composta por elementos entusiastas, praticantes, investigadores, engenheiros, profissionais da saúde. Vieram preencher o vazio de uma instituição que era independente e autónoma e inspirada no exemplo de êxito conseguido pela telemedicina na região centro, através do Serviço de Cardiologia Pediátrica do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra.
A par deste percurso da APT foram aparecendo muitos que começaram a recolher experiências e trabalhos que algumas “formiguinhas” iam construindo e que em conjunto ajudaram a quem nos governa a criar disciplina, regras e leis que facilitassem esta ferramenta da saúde que é a telemedicina.A telessaúde / telemedicina está viva e este é o momento ideal para a consolidarmos no sistema de saúde português.