A Alemanha tem a economia mais forte da União Europeia e é um país cujo investimento em território nacional é importante. Como avalia a importância destes países, um para o outro, política e economicamente?
A Alemanha é referência política na Europa e a sua economia é a mais forte. Sobressai ainda mais após o Brexit. Em marcas e tecnologias, é quem mais contribui para a internacionalização do continente. Para Portugal, a Alemanha foi crucial na transição para a democracia e na integração europeia. A relação bilateral é madura, vive numa estabilidade dinâmica. O investimento alemão em Portugal é estrutural, de cunho industrial e exportador, denota um compromisso de longo prazo. A sua evolução tecnológica e científica incorpora um importante contributo português e impulsiona a nossa economia para setores diferenciados, com mais valor acrescentado. Empresas como a Siemens, originalmente presentes com produção industrial, são hoje empresas de engenharia, com centros de competência globais. Falamos de empresas que geram emprego de qualidade, de modelos de boa gestão laboral.
Quais os setores onde Alemanha e Portugal interagem mutuamente e apoiam o desenvolvimento um do outro?
Sem surpresa, são setores considerados como motores da economia alemã – automóvel, máquinas e equipamento industrial. As oportunidades de futuro tenderão a ser nos setores de viragem, a energia e descarbonização, a saúde, a mobilidade, em que Portugal tem grande potencial. Somos parceiros naturais no hidrogénio verde. Sendo as economias modernas dominadas pelos serviços, as ciências, tecnologia, programação e indústrias criativas têm espaço de progressão. No turismo, superaremos a crise e reencontraremos os turistas alemães, fiéis admiradores das nossas vantagens competitivas naturais e da simpatia com que são recebidos. Nos bens de consumo, na Alemanha há uma concorrência quase perfeita, com reflexos nos preços, nem sempre compatíveis com as nossas empresas. Mas sopram ventos favoráveis que devemos aproveitar. Exportamos hoje mais em fruta do que em vinho, mais em framboesa do que em pera-rocha. Numa década, passámos a maior fabricante de bicicletas na Europa, com empresas alemãs a produzir no nosso país.
Gostaria de salientar alguns eventos que demonstrem a existência de uma relação prolífica entre estes dois países?
A feira industrial de Hannover de 2022. Seremos país convidado num escaparate internacional único. É uma honra e um desafio de envergadura. O entendimento existente levou a que nos formulassem o convite. É sinal de confiança no talento e na competência das empresas portuguesas.
Quais os desafios que a cooperação internacional enfrenta, durante um período tão particular como esta pandemia?
São os desafios da solidariedade e da resiliência. E da capacidade de transformação. Portugal e a Alemanha, no Trio de Presidências, foram decisivos na definição do rumo que a UE tomou. Ultrapassar a pandemia em conjunto, ajudar os nossos parceiros, afirmar uma Europa aberta e competitiva, cumprir as transições climática e digital e avançar na agenda social.
Como avalia a evolução da relação entre ambos os países?
Existe verdadeira reciprocidade. A Alemanha é para nós prioritária. Portugal cresceu e amadureceu muito, em especial na última década, aos olhos alemães, que admiram a seriedade com que vencemos a crise económica e financeira. Admiram a nossa vasta projeção internacional, positiva para o papel da UE no mundo. A nossa voz é ouvida, a curiosidade pela nossa cultura cresce a cada dia. E as sociedades civis também se aproximam. Desse movimento nascem as melhores ideias, estamos aqui para as apoiar.