“Um conselho errado prejudica muito uma empresa”

João Cunha trabalha na área da Contabilidade desde 1994 e fundou a Capitalges em 2008. De uma equipa de cinco pessoas, a empresa cresceu e conta agora com 10 profissionais de Contabilidade, Fiscalidade e Apoio à Gestão. Durante o confinamento, a empresa reinventou-se, sem nunca deixar de servir os clientes.

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João Cunha, gerente

Que avaliação faz da evolução do mercado, ao longo destes 12 anos de existência da Capitalges?

Eu já trabalho com a área da contabilidade desde 1994 e a Capitalges foi constituída em 2008. Durante cerca de seis anos, mantivemos uma estrutura fixa de cinco pessoas, mas foi necessário aumentar a equipa e foi o que fizemos. Contratámos mais um elemento e, a partir daí, crescemos até aos 10 colaboradores, sendo oito mulheres e dois homens. Apesar da crise, em 2009, o mercado recuperou e evoluiu. Nós temos boa reputação, os clientes gostam do nosso serviço e isso permitiu-nos angariar, inclusivamente, clientes de uma dimensão superior. Não tenho a ambição de ser extremamente grande, pois isso faria com que eu não continuasse a poder dedicar tempo às pessoas e ao negócio de cada um. Este negócio também se faz de pessoas e de qualidades humanas, apesar de ser muito ligado aos números. Procuramos, neste momento, consolidar o conhecimento e os processos que fomos implementando ao longo dos anos, procurando sempre melhorar, com o objetivo último de alcançar a satisfação dos colaboradores – um colaborador que se sinta bem no local de trabalho está sempre mais comprometido com a empresa e com os resultados – e também dos nossos clientes.

Que serviços disponibilizam neste momento?

Nós focamo-nos essencialmente nos serviços de Contabilidade, Fiscalidade, Processamento de Salários e Apoio à Gestão. Naturalmente, ajudamos os clientes também na negociação com a Banca, num pedido de apoio, num projeto de investimento ou qualquer outra área que esteja relacionada com a área financeira. Também já prestámos serviço na área dos Recursos Humanos – durante muito tempo, fomos responsáveis pelos processos de recrutamento para alguns clientes, que nos pediam esse apoio. Atualmente, apenas acompanhamos o processo na fase final. O Apoio à Gestão é o serviço que considero mais importante, no entanto, as restantes áreas e tarefas são fundamentais para que esse apoio seja eficaz e em tempo útil.

Precisamente sobre esse serviço, como se posicionou a Capitalges para ajudar as empresas suas clientes, sobretudo durante a época de pandemia, tendo em conta toda a legislação que foi sendo criada nestes últimos meses?

É uma questão muito pertinente, porque de facto os contabilistas têm sido muito pouco valorizados, apesar de terem estado na linha da frente no apoio às empresas, quando estas necessitaram. Tivemos dificuldades tremendas de tempo e de conhecimento porque, de repente, as empresas viram-se na necessidade de não faltar a nenhuma obrigação fiscal, mas também de tentar perceber todas as novas medidas que eram publicadas diariamente e o que podia ser mais adequado para si. No conjunto de instrumentos de ajuda às empresas, como o lay-off, o mais recente programa ADAPTAR ou o apoio à retoma, só os contabilistas as podiam ajudar. Os contabilistas não dominavam a informação e, além disso, todos os dias havia alterações na legislação. Tivemos de ler, interpretar, falar com outros colegas, pedir opiniões diversas e recorrer à Ordem dos Contabilistas para poder, depois de um estudo prévio, aconselhar a melhor medida a tomar. Temos noção de que um conselho errado pode prejudicar muito uma empresa, por isso o nosso trabalho é de muita responsabilidade. Os clientes compreenderam esta incerteza e a necessidade de lhes ligar várias vezes, pois sabiam que trabalhávamos de acordo com os factos que tínhamos. Os próprios clientes mandavam-nos notícias e artigos que encontravam na internet, para estarmos o mais informados possível. Sabemos que, se nos enganarmos, podemos prejudicar muito uma empresa. Por isso é que a nossa profissão é desafiante, é de muita responsabilidade e devia ser mais valorizada.

O que falta fazer para valorizar a profissão?

Eu não estou por dentro de todo o trabalho que está a ser feito pela Ordem dos Contabilistas para valorizar a profissão. Todavia, acredito que a valorização parte sempre de nós. Nós, contabilistas, temos de conseguir fazer cada cliente perceber que a nossa profissão tem uma importância grande na sociedade. Eu e a minha equipa temos procurado fazer isso e sinto, com algum orgulho, que os nossos clientes valorizam o nosso trabalho. Entendo, porém, que algumas questões deveriam ser tidas em conta, nomeadamente quando acompanhamos situações em que, por questões legais ou judiciais, temos de estar presentes num determinado local ou ação, e o cliente já não existe, tendo sido declarada insolvência, por exemplo. O tempo de trabalho que despendemos não nos é pago… Além disso, poderia utilizar-se o conhecimento dos contabilistas nos programas de televisão, como debates, de forma a dar a conhecer à sociedade o conhecimento dos contabilistas e a sua importância para o esclarecimento de dúvidas fiscais, por exemplo. Isso talvez ajudasse a valorizar a profissão, tal como tem acontecido nos últimos tempos com a nossa Bastonária.

Como é que a Capitalges inovou e evoluiu, no que respeita à digitalização?

A digitalização facilita muito os processos de arquivamento e consulta de documentos, além de ajudar muito quando estamos em teletrabalho. A Capitalges começou a implementar o processo de digitalização precisamente este ano, numa altura que coincidiu com a chegada da pandemia ao país. Em março, começámos imediatamente a tomar medidas de prevenção, como por exemplo a divisão da equipa em três turnos – um turno que trabalhava a partir de casa, um outro que trabalhava durante o dia e outro que trabalhava durante a noite, para evitarmos o convívio entre todos. As reuniões passaram a ser quase sempre por videoconferência. Designámos, inclusivamente, a pessoa que atenderia o telefone, para que houvesse apenas uma pessoa com acesso ao equipamento, entre outras medidas. Tudo isto em simultâneo com a implementação do sistema digital e enquanto fazíamos formação sobre o mesmo. A digitalização permitirá, entre outras coisas, que a equipa possa trabalhar parte do tempo em qualquer local.

Que análise faz do comportamento do mercado?

Acredito que tudo vai depender do tempo que esta situação demorar a resolver. A minha expectativa é que, se não demorar muito, a nossa recuperação será muito, muito rápida, pois as pessoas estão ansiosas por poder voltar a sair e a consumir. O problema é se a pandemia demorar muito tempo, isto porque atualmente existem atividades que ainda não foram afetadas pela crise que já se apresenta, como a construção civil, mas que poderão vir a sofrer. No entanto, somos um povo com uma capacidade de superação inigualável, pelo que acredito que iremos ultrapassar este período.

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