Tem procurado, ao longo da sua carreira, ajudar jovens e adultos a aprenderem a gerir expectativas. Quais os maiores desafios que a geração mais nova enfrenta, a nível mental?
Os maiores desafios dos jovens na atualidade prendem-se com várias questões, por um lado o acesso à
educação de qualidade – verificamos que as condições económicas e sociais levam muitos jovens a contrair
empréstimos financeiros ou a trabalhar, o que pode comprometer as suas aprendizagens, interações sociais e representação social. A situação profissional nem sempre conjuga a formação académica e expectativas, o que pode impactar negativamente a sua estabilidade financeira, mas sobretudo emocional. Num país em que o setor imobiliário apresenta valores muito altos, não permitindo um acompanhamento dos salários, convida muitos jovens a emigrar ou permanecer por mais tempo na casa dos pais. A tecnologia digital oferece um acesso imediato à informação e conexão globais, estimulam ao mesmo tempo a dependência, privando os jovens de contactos sociais e interpessoais. A pressão cultural e social baseadas nas expectativas de sucesso e de boa
aparência económica e social levam os jovens muitas vezes a uma vida de ilusão, escamoteando a sua
verdadeira identidade.
Os mais pequenos começam, desde crianças, a depender diretamente dos ecrãs, que são com frequência utilizados como “babysitters”. Que consequências tal pode trazer futuramente, a nível social e relacional? Seria importante, para crianças e adultos, limitar o tempo que se passa em frente aos ecrãs?
A dependência dos ecrãs é um problema da atualidade, trazendo consequências negativas a vários níveis. Do ponto de vista físico, conduz a comportamentos de sedentarismo, contribuindo por vezes para a obesidade infantil e outras complicações físicas. Afeta a cognição, limitando as capacidades de aprendizagem, impondo dificuldades de atenção, concentração, raciocínio e memória. Podem também surgir dificuldades na comunicação tanto verbal quanto não verbal. A exposição excessiva à luz do ecrã pode alterar o ciclo natural do sono na criança, provocando insónias. As interações sociais e interpessoais ficam reduzidas ou são mesmo inexistentes. Podem surgir problemas de visão (fadiga ocular, desconforto visual e miopia). Neste sentido, é urgente regular os
períodos de exposição aos ecrãs, incentivando atividades físicas ao ar livre, promover mais contacto social e
participação em atividades extra curriculares.
Enquanto especialista e profunda conhecedora da área, quais seriam os pontos-base para uma política educativa verdadeiramente inclusiva, por um lado, e que permitisse realmente adaptar o ensino aos casos de necessidades educativas especiais?
Uma verdadeira política educativa inclusiva deve contemplar, reconhecer e valorizar a diversidade e a
individualidade de cada aluno. Podendo garantir a cada um na sua especificidade um acesso igualitário a uma educação de qualidade, independentemente da sua origem, condição socioeconómica, etnia, género, condição cognitiva, emocional ou relacional. Cada aluno tem necessidades de aprendizagem que lhe são próprias e que devem ser respondidas através da utilização de metodologias e ferramentas ajustadas a cada necessidade. Por outro lado, a escola deve promover ambientes de acolhimento, integração e acompanhamento que permitam a
criação de um sentido de pertença capaz de facilitar as aprendizagens escolares mas também o desenvolvimento humano, potenciando o crescimento e desenvolvimento globais do aluno.
Que impacto tem uma verdadeira política de saúde mental no país, a nível económico?
O impacto das políticas de saúde mental é muito significativo, quer ao nível individual, quer social e macroeconómico. Este passa por aumento da produtividade nas empresas, redução de custos e criação de ambientes de trabalho mais saudáveis e resilientes; sucesso académico nas escolas, melhoria do funcionamento social em geral. Contemplamos igualmente a redução de custos com assistência médica, incluindo consultas,
tratamentos psicológicos, medicamentos e outros. Um investimento na saúde mental da população é um fato protetor e facilitador da construção de uma sociedade mais justa, mais equitativa, mais funcional e mais humana.
