O Instituto Politécnico de Santarém foi criado em 1980, mais exatamente no dia 6 de junho e celebra o seu 40º aniversário este ano. Numa data como esta, que lhe parece ser de salientar nesta instituição?
A data de criação do Instituto Politécnico de Santarém (IPSantarém) remonta ao dia 26 de dezembro de 1979, através do Decreto-Lei n.º 513-T/79, que criou o Ensino Superior Politécnico Público em Portugal. Podemos dizer, dessa forma, que o IPSantarém foi um dos primeiros Institutos Politécnicos a ser criado em Portugal. O dia do Instituto é oficialmente celebrado a 6 de junho de 1980, data do despacho de nomeação do Professor Doutor Joaquim Veríssimo Serrão para Presidente da Comissão Instaladora do Instituto, e que representa o início formal da sua atividade. Ao longo destes 40 anos há a salientar o notável percurso realizado em prol do desenvolvimento da região e da qualificação das populações. Às duas Escolas que inicialmente fizeram parte do Instituto, a Escola Superior Agrária e a Escola Superior de Educação, foram adicionadas mais três, a Escola Superior de Gestão e Tecnologia, na altura apenas Escola Superior de Gestão, a Escola Superior de Desporto e a Escola Superior de Saúde, na altura Escola Superior de Enfermagem. A diversidade de áreas cientificas e de formação é um dos aspetos que mais há a salientar no IPSantarém.
Possuem cinco Escolas Superiores e uma área de Investigação e Desenvolvimento e Inovação. 40 anos depois da sua fundação, que análise faz desta academia? Que êxitos já obtiveram que possam ser relembrados?
Foram muitos os êxitos ao longo da história do IPSantarém. A criação e integração das diferentes Escolas são marcos importantes, celebrados todos os anos pelas respetivas comunidades académicas. Mais recentemente, temos a destacar o crescimento ao nível dos centros de investigação com a criação do Centro de Investigação em Qualidade de Vida (CIEQV) (https://www.cieqv.pt/pt/) e de um novo Pólo do Centro de Investigação em Artes e Comunicação, dedicado à literacia digital e à inclusão social (https://ciac.pt/). Estes centros de investigação, financiados e acreditados pela FCT integram docentes de diferentes áreas do conhecimento e Escolas Superiores propiciando condições de massa crítica e de inovação. No último concurso da FCT para o financiamento de Projetos de Investigação Científica e Desenvolvimento Tecnológico (IC&DT) em todos os Domínios Científicos, o IPSantarém participou em 18 projetos submetidos a financiamento nas seguintes áreas científicas: Economia e Gestão – Organização e Gestão de Empresas, Biotecnologia Agrária e Alimentar, Agricultura, Silvicultura e Pescas – Pescas, Ciências da Saúde – Cuidados de Saúde e Serviços, Ciências da Saúde – Ciências do Desporto, Ciências da Terra e do Ambiente, Educação Geral, Ciências da Comunicação – Ciências da Informação.
Uma das grandes características dos institutos politécnicos é a sua integração na comunidade onde estão inseridos e a comunicação com os diversos agentes empresariais da região, para oferecer ao mercado aquilo de que o mercado necessita. Isso também se verifica no IP Santarém?
A ligação às entidades empregadoras e ao tecido empresarial da região é fundamental. O envolvimento começa desde logo no próprio processo de formação, com a participação de docentes especialistas em determinados setores, e na realização de formação em contexto de trabalho e de estágios, envolvendo uma rede de parceiros institucionais. Estas componentes estão presentes na generalidade dos ciclos de estudos oferecidos pelo Politécnico e Santarém e são uma das razões da elevada empregabilidade e aceitação dos nossos diplomados. A NERSANT – Associação Empresarial da Região de Santarém, o Cluster Agroindustrial do Ribatejo – Agrocluster, a Desmor, EM, SA., o Hospital Distrital de Santarém e o Agrupamento de Escolas Alexandre Herculano são alguns exemplos das parcerias que temos na região.
Como caracterizaria a vossa oferta formativa?
A nossa oferta formativa carateriza-se por ser diversificada, inovadora e com elevados índices de empregabilidade. Temos atualmente cerca de 67 ciclos de estudos de licenciatura, mestrado, pós-graduação e TeSP, garantindo elevados padrões de qualidade. Todos os anos a oferta formativa é atualizada e são reestruturados ou abertos novos cursos. Para o próximo ano, a título de exemplo, vamos avançar com três novos cursos TeSP, em Marketing Digital, Secretariado em Saúde e Proteção e Apoio à Pessoa Idosa, uma nova licenciatura em Gestão de Marketing e um novo Mestrado em Engenharia Agronómica.

Ao longo destes 40 anos, como foram adaptando a realidade académica às mudanças sociais e tecnológicas que aconteceram?
Procuraram sempre um ajuste da lecionação à realidade do país e do mundo?A maior parte dos estudantes que hoje entra no ensino superior, especialmente ao nível do 1.º ciclo de formação, já são os denominados “nativos digitais”. Nasceram e cresceram num mundo dominado pelas tecnologias. O IPSantarém encontra-se numa fase de transição total para o digital, através da implementação de um portal único com interoperabilidade para todas as plataformas que utilizamos, fazendo com que qualquer membro da nossa comunidade, através de um único login tenha acesso a todos os serviços e a plataformas que necessita. Isto estará tudo acessível através de um dispositivo eletrónico e representa também uma maior eficiência e qualidade dos serviços prestados.
O desafio de ensinar, atualmente, é diferente de há 40 anos? Quais os aspetos que mais se alteraram?
Quase tudo mudou. Para os estudantes atuais pouco sentido faz estar dentro de um auditório a ouvir uma informação que qualquer um pode obter à distância de um click. O conceito de “aprender a fazer, fazendo” é algo que os atuais estudantes valorizam muito, especialmente quando há uma ligação muito clara à resolução de problemas concretos em contexto real, com forte sustentação científica. Esta inovação pedagógica, aliada às novas tecnologias e aos ambientes de aprendizagem inovadores são alguns dos aspetos que caraterizam a realidade de ensino atual.
Que desafios anteveem para as próximas décadas, sobretudo no que respeita ao ensino, à sua qualidade e aos desafios que o mercado de trabalho impõe?
A educação é, sem margem de dúvida, o melhor instrumento que temos ao nosso dispor para a construção de uma sociedade mais justa e democrática. Sabemos hoje que um jovem qualificado tem acesso a melhores condições de trabalho e, consequentemente, de vida. Esta dimensão de “elevador social” é crucial. Mas também sabemos que um jovem que seja treinado na sua capacidade de “reflexão” estará menos vulnerável a fenómenos de “populismo” emergentes nas sociedades atuais, alimentados com fake news. Identifico por isso dois grandes desafios: 1) o aumento do número de jovens a entrar para o ensino superior após terminarem o ensino secundário, que continua a ser muito reduzido, cerca de 50%;2) o reforço da rede de ensino superior fora dos grandes centros urbanos como política de desenvolvimento territorial e de democratização do ensino superior, possibilitando as mesmas condições de qualificação às populações do interior, muitas vezes esquecidas.